
Sergey Beseda: O espião caído em desgraça escolhido por Putin para negociar com os EUA o fim da guerra na Ucrânia
O presidente russo, Vladimir Putin, nomeou Sergey Beseda, um alto responsável dos serviços de inteligência que anteriormente caiu em desgraça junto do Kremlin, para integrar a equipa de negociação com os Estados Unidos. O regresso de Beseda ao cenário diplomático surge num momento crítico das conversas entre Washington, Moscovo e Kyiv sobre a guerra na Ucrânia, cujas discussões continuarão na próxima segunda-feira, em Riade, na Arábia Saudita.
A delegação russa será liderada por Grigory Karasin, presidente da Comissão de Assuntos Internacionais do Conselho da Federação, e por Sergey Beseda, que atualmente atua como conselheiro do diretor do Serviço Federal de Segurança (FSB). A nomeação foi anunciada pelo assessor presidencial russo para assuntos internacionais, Yury Ushakov, que enfatizou a experiência dos dois representantes.
“São negociadores genuinamente experientes que conhecem bem os problemas internacionais”, declarou Ushakov.
O passado controverso de Sergey Beseda
Sergey Beseda, um veterano dos serviços secretos russos, viu a sua carreira sofrer um revés significativo após a invasão da Ucrânia em 2022. Segundo o jornal The Moscow Times, Beseda caiu em desgraça junto de Putin devido a informações erróneas fornecidas antes da ofensiva militar russa.
O jornalista russo Andrei Soldatov, especialista nos serviços de segurança do país, relatou que Beseda foi inicialmente colocado em prisão domiciliária. “O FSB tentou minimizar o impacto, apresentando a situação como um simples interrogatório de um general influente”, escreveu Soldatov num artigo de opinião no The Moscow Times. “Mas, segundo fontes, este ‘mero interrogatório’ não impediu Beseda de acabar numa cela da Prisão de Lefortovo.”
Mais tarde, Beseda foi afastado do cargo de chefe do Quinto Serviço do FSB e oficialmente aposentado, supostamente devido à idade. No entanto, segundo o portal de investigação Important Stories, ele foi posteriormente nomeado conselheiro do diretor do FSB, Alexander Bortnikov.
O especialista em segurança Mark Galeotti, autor do livro Putin’s Wars: From Chechnya to Ukraine, comentou que a saída de Beseda pode ter sido motivada pela falta de “capital político” para manter a sua posição após os erros cometidos no início da guerra na Ucrânia. “Ele atingiu a idade obrigatória para a reforma e, embora pudesse continuar no cargo por decreto presidencial, não teve a influência necessária para garantir essa extensão”, afirmou Galeotti.
Apesar disso, a sua nomeação como conselheiro indica que o Kremlin ainda reconhece a sua experiência, sugerindo que não foi completamente afastado do aparelho de segurança russo. “Se o governo quisesse sinalizar um descontentamento claro, teria ignorado esta cortesia”, acrescentou Galeotti.
As próximas negociações em Riade
As negociações entre os Estados Unidos e a Rússia continuarão na próxima segunda-feira, em Riade, com foco na segurança da navegação no Mar Negro. Yury Ushakov confirmou que a decisão de envolver Beseda e Karasin nas discussões foi tomada após uma chamada com o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Mike Waltz.
“O Sr. Waltz e eu concordámos que estas consultas bilaterais serão conduzidas por especialistas nomeados pelos presidentes. Estas consultas terão lugar em Riade, na segunda-feira, 24 de março”, afirmou Ushakov.
O conselheiro do Kremlin acrescentou ainda que “a discussão inicial centrar-se-á na exploração de possíveis perspetivas para a implementação da bem conhecida iniciativa relativa à segurança da navegação no Mar Negro.”
Com a reabilitação de Sergey Beseda num papel chave das negociações internacionais, o Kremlin parece apostar na sua experiência apesar dos desentendimentos passados. A sua presença ao lado de Karasin poderá indicar uma tentativa de fortalecer a posição russa nas conversas com Washington, num momento em que a guerra na Ucrânia continua a moldar o equilíbrio de forças internacionais.
A expectativa é que as negociações em Riade tragam novos desenvolvimentos na segurança naval na região, com potenciais impactos no curso do conflito e nas relações entre a Rússia e o Ocidente.