Secretário de Defesa dos EUA admite que regresso da Ucrânia às fronteiras pré-2022 “é possível”

O Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, afirmou esta sexta-feira, em Varsóvia, que a Ucrânia e os seus aliados conseguiram impedir Vladimir Putin de alcançar o principal objetivo da invasão em larga escala iniciada em 2022 – a ocupação total do território ucraniano.

Durante uma conferência de imprensa, Hegseth destacou que a resistência ucraniana e o apoio internacional foram cruciais para deter os planos de Moscovo.

“Felizmente, a bravura dos ucranianos e dos aliados que se juntaram a eles, especialmente no início da guerra, dissuadiu e derrotou Vladimir Putin de alcançar o que queria, que era toda a Ucrânia”, declarou, citado pela CNN.

Questionado sobre se um acordo que concedesse a Putin parte do território ucraniano poderia encorajá-lo a novas agressões, Hegseth considerou que o líder russo irá “declarar vitória, independentemente do desfecho”.

No entanto, o chefe do Pentágono sublinhou que o Kremlin ficou muito aquém das suas metas militares iniciais.

“Se a resposta da NATO for um verdadeiro aumento de capacidades, mais investimento e gastos militares, adotando a abordagem da Polónia e dos países bálticos, que estão mais próximos da ameaça… então não creio que Putin se sinta encorajado por este desfecho”, explicou.

O responsável norte-americano argumentou ainda que esse reforço militar do Ocidente seria uma prova de que a capacidade coletiva para dissuadir Putin foi efetiva.

Regresso da Ucrânia às fronteiras pré-2022? “Tudo é possível”
Uma das questões mais debatidas atualmente é se a Ucrânia poderá recuperar todas as regiões ocupadas pela Rússia após a invasão de fevereiro de 2022. Hegseth reconheceu que esse cenário não está fora de questão, mas manteve um tom cauteloso.

“Tudo é possível”, disse.

Contudo, o secretário de Defesa frisou que o seu papel nas negociações internacionais tem sido introduzir realismo no debate.

“A realidade é que um regresso às fronteiras de 2014 como parte de um acordo negociado é improvável. A presença de tropas norte-americanas na Ucrânia é improvável. A adesão da Ucrânia à NATO como parte de um acordo negociado – improvável”, afirmou.

Estas declarações refletem um tom mais pragmático adotado por Washington nos últimos meses, à medida que a guerra se prolonga sem uma solução clara à vista.

A posição de Hegseth sobre as fronteiras da Ucrânia antes de 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia e apoiou separatistas no leste do país, também tem sido consistente.

No início da semana, durante um encontro em Bruxelas, o secretário de Defesa norte-americano afirmou que esperar que a Ucrânia retome todo o seu território anterior a 2014 é “um objetivo irrealista”.

Estas declarações podem indicar que os EUA estão a preparar terreno para uma eventual negociação, que não incluiria necessariamente a devolução de todas as áreas ocupadas pela Rússia desde 2014.

NATO deve evitar um “novo Minsk” e garantir paz duradoura
As declarações de Hegseth surgem num momento em que aliados ocidentais debatem o futuro da Ucrânia e a melhor forma de garantir a sua segurança.

Esta semana, o primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte, sublinhou que a NATO deve evitar um novo “Acordo de Minsk”, referindo-se aos tratados assinados entre Kiev e Moscovo em 2014 e 2015, que falharam em impedir a escalada do conflito.

“A NATO tem de garantir uma paz duradoura para a Ucrânia e impedir um cenário em que a Rússia use um acordo apenas como um intervalo para rearmar-se e lançar novas ofensivas no futuro”, afirmou Rutte.

Com os Estados Unidos a reavaliar a sua política externa e a Europa a reforçar a ajuda militar a Kiev, o rumo do conflito permanece incerto. No entanto, as palavras de Hegseth deixam claro que qualquer solução negociada terá limites bem definidos quanto ao que é politicamente viável para os aliados ocidentais.