
Sabe qual é o verdadeiro propósito do buraco na anilha das latas? (e não é para a palhinha)
Quantas vezes já tentámos enfiar uma palhinha naquele pequeno orifício no centro da anilha de uma lata de refrigerante? Para muitos, parece um gesto natural e até intuitivo. No entanto, essa abertura não foi criada com essa finalidade — e, segundo especialistas, o seu verdadeiro propósito é bem mais engenhoso e funcional do que se imagina.
A história desta invenção remonta ao início da década de 1960, quando o engenheiro norte-americano Ermal Cleon Fraze se viu numa situação inesperada durante um piquenique. Tinha levado bebidas enlatadas, mas esquecera-se do abre-latas. Desesperado, acabou por abrir uma das latas dando-lhe pancadas contra o para-choques do carro. Esse episódio levou-o a conceber uma ideia revolucionária: um sistema de abertura integrado na própria lata, que dispensasse ferramentas externas.
O nascimento da argola destacável
Em 1962, Fraze desenvolveu então a primeira anilha metálica destacável — uma pequena peça que, ao ser puxada, rompia o alumínio da tampa e permitia o acesso ao conteúdo. A ideia foi rapidamente adotada pela indústria de bebidas e, em pouco tempo, as latas com este mecanismo tornaram-se padrão nos Estados Unidos e noutras partes do mundo.
Contudo, com a popularização do sistema, surgiu um problema ambiental inesperado: as praias, ruas e parques começaram a encher-se com as pequenas anilhas descartadas. Não só eram difíceis de reciclar, como provocavam cortes e lesões a quem as manuseava inadvertidamente. A solução surgiria pouco mais de uma década depois.
A inovação que veio evitar ferimentos (e lixo)
Na segunda metade dos anos 70, outro engenheiro americano, Daniel F. Cudzik, apresentou uma nova versão da anilha: um anel não destacável, preso à própria lata, que integrava um pequeno orifício no seu centro. Esta alteração evitava que a anilha fosse descartada como lixo e trazia consigo uma funcionalidade adicional.
Segundo o portal Marmiton, especializado em curiosidades técnicas e gastronómicas, esse orifício central não é decorativo, nem um suporte improvisado para palhinhas, como muitos ainda pensam. “Foi concebido para facilitar a abertura da lata”, explicam. O buraco permite que a anilha funcione como uma alavanca, reduzindo o esforço necessário para levantar a lingueta e perfurar o alumínio.
Além disso, este design contribui para a redução de material utilizado na produção, o que, numa escala de milhões de embalagens, representa uma poupança significativa em recursos e custos.
Riscos ambientais e recomendações
Apesar das melhorias, as autoridades ambientais continuam a alertar para os perigos associados ao manuseamento indevido destas peças metálicas. “Apresentam riscos ecológicos”, avisam especialistas citados pelo Marmiton. Quando arrancadas, estas anilhas podem causar cortes, interferir no funcionamento das máquinas de reciclagem e até ser ingeridas por animais, representando uma ameaça à fauna.
Por isso, o conselho é claro: não retirar a anilha da lata. O ideal é depositar a lata inteira no ecoponto amarelo, garantindo um processo de reciclagem seguro e eficiente.
Claro que, para os adeptos das manualidades, continua a haver margem para a criatividade. Há quem colecione estas peças para transformá-las em bijutaria, ganchos ou objetos decorativos. Mas convém não esquecer o essencial: o pequeno orifício da anilha existe para te ajudar a abrir a lata, não para suportar uma palhinha.
E na próxima vez que pegar numa lata, talvez olhe para ela com outros olhos — não como um simples objeto do dia a dia, mas como o resultado de décadas de engenharia, inovação e preocupações ambientais.