Rússia usa alimentos como armas de guerra: conflito e quebras no abastecimento fazem disparar preços dos cereais

A Presidente da Comissão Europeia acusa Moscovo de fazer refém os mercados internacionais, com as forças militares russas a confiscarem as produções de cereais nas zonas ocupadas na Ucrânia e a destruírem instalações agrícolas nesse país.

Ursula von der Leyen, segundo a agência ‘Reuters’, sublinha que a frota naval militar russa tem interditado o movimento de navios ucranianos no Mar Negro, impedindo as exportações de trigo e sementes de girassol oriundas do país vizinho, um dos maiores exportadores mundiais de trigo, de milho e de cevada, em linha com dados do ‘Statista’.

Desde a eclosão da guerra, a 24 de fevereiro, os preços de vários cereais têm vindo a subir exponencialmente, alguns para níveis sem precedentes. De acordo com o portal ‘Trading Economics’, o trigo está hoje a ser negociado nos 1.131 dólares por toneladas (o valor mais alto desde que há registo), a soja nos 1.687 dólares e o milho nos 763 dólares.

Avança o jornal ‘El Economista’ que, por outro lado, a Rússia tem mantido as suas exportações de trigo, aproveitando a subida dos preços desse produto. O governo russo espera boas colheitas de trigo na próxima temporada, o que aumentará as fontes de receita do Kremlin, com o mesmo periódico a apontar que o preço do trigo já subiu mais de 50% desde o início do ano.

Sem acesso aos seus portos no Mar Negro, Kiev tem que optar pelas rotas terrestres, o que acarreta custos de exportação mais elevados e aumenta os tempos de entrega dos cereais aos mercados externos, alguns dos quais são países já fragilizados e que podem enfrentar crises de segurança alimentar ainda mais intensas, impulsionando os riscos de fome.

A par da guerra, as temperaturas cada vez mais elevadas, fruto das emissões de gases com efeito de estufa, têm ameaçado ainda mais o abastecimento mundial de cereais e de outros produtos agrícolas e levado alguns países produtores e exportadores a adotar políticas protecionistas. Isso leva a uma ainda maior contração da oferta, ao aumento dos preços e ao crescimento da inflação e do risco de crises económicas.

A Índia é o segundo maior produtor de trigo e, na semana passada, anunciou que iria suspender as exportações desse cereal, apontando escassez no mercado interno e preços demasiado elevados para a população nacional. O aquecimento global e a diminuição dos períodos das chuvas arruinaram parte significativa das produções agrícolas indianas, levando o governo de Nova Deli a embargar o abastecimento dos mercados externos.

Também esta semana, o Presidente Vladimir Putin disse que o Ocidente era o responsável pela crise alimentar cada vez mais presente, devido às sanções lançadas contra a Rússia. Citado pela ‘Reuters’, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que “nós não somos a causa do problema. A causa do problema que leva à fome mundial são aqueles que impõem sanções contra nós, e as próprias sanções”.

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