Rússia produz drones kamikaze com componentes chineses, denuncia investigação
A Rússia começou a produzir um novo drone de ataque de longo alcance chamado ‘Garpiya-A1’, em 2023, com motores e peças chinesas, que já utilizou na guerra na Ucrânia, contra alvos militares e civis na Ucrânia, causando danos em infraestruturas críticas, bem como vítimas civis e militares, denunciaram fontes de uma agência de informação europeia citadas pela agência ‘Reuters’.
De acordo com os documentos – que incluem um contrato de produção para o novo drone, correspondência da empresa sobre o processo de fabrico e documentos financeiros –, a empresa IEMZ Kupol, uma subsidiária do fabricante estatal russo de armas Almaz-Antey, produziu mais de 2.500 Garpiyas entre julho de 2023 a julho de 2024.
Samuel Bendett, investigador adjunto do Centro para uma Nova Segurança Americana, think tank sediado em Washington DC, salientou que o ‘Garpiya’, se confirmado, marcaria o afastamento da dependência da Rússia dos projetos iranianos para drones de longo alcance. “Se isto estiver a acontecer, poderá indicar que a Rússia pode agora confiar mais no desenvolvimento interno, bem como, obviamente, na China, uma vez que ambos os lados nesta guerra dependem de muitos componentes chineses para a produção de drones.”
Recorde-se que o Irão forneceu mais de mil drones “kamikaze” Shahed à Rússia desde o início da invasão, em fevereiro de 2022, acusou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em maio do ano passado – têm sido utilizados para esgotar as defesas aéreas ucranianas e atingir infraestruturas longe das linhas da frente.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China disse, em comunicado à ‘Reuters’, que Pequim controla estritamente a exportação de artigos com potenciais aplicações militares, incluindo drones. “No que diz respeito à crise ucraniana, a China sempre esteve empenhada em promover conversações de paz e soluções políticas”, indica o comunicado, acrescentando que não existiam restrições internacionais ao comércio da China com a Rússia.
O ‘Garpiya’ “parece-se muito com o Shahed”, mas tem várias características distintas, incluindo uma barbatana aparafusada exclusiva e motores Limbach L-550 E – o motor, originalmente concebido e fabricado por uma empresa alemã, é agora produzido na China por uma empresa local, a Xiamen Limbach.
Segundo as fontes de inteligência, os drones estão a ser fabricados numa antiga fábrica de cimento situada em Izhevsk, na República de Udmurt, no oeste da Rússia, que foi comprada pela Kupol em 2020.
Um protótipo do ‘Garpiya’ foi lançado no primeiro semestre de 2023, segundo revelaram as comunicações da empresa. A produção atingiu várias centenas no segundo semestre de 2023 e mais do que duplicou, para cerca de 2 mil no primeiro semestre de 2024, denunciou a agência de inteligência.
Segundo Bendett, 2.500 drones por ano representariam uma fatia considerável da produção russa: o principal comandante militar da Ucrânia, Oleksandr Syrskyi, disse no mês passado que a Rússia disparou quase 14 mil drones de ataque desde o início da invasão, em fevereiro de 2022, incluindo o Shahed iraniano, bem como os drones Geran-2 e Lancet de fabrico russo.
Documentos corporativos datados do segundo trimestre de 2023 mostraram que o fornecedor TSK Vektor adquiriu peças a empresas chinesas para montagem nas instalações de Kupol; 800 motores chineses seriam também entregues na nova fábrica, onde a linha de produção deveria estar pronta até ao final do trimestre.
O ‘Garpiya’ tem um peso à descolagem inferior a 300 quilogramas e um alcance máximo de 1.500 quilómetros, referiu o contrato de produção entre a Kupol e o Ministério da Defesa russo – aproximadamente semelhante aos drones Shahed-136 do Irão que Moscovo tem utilizado extensivamente na Ucrânia.