Rússia pede ajuda a agência da ONU para resolver questão do combustível nuclear dos EUA que está na central de Zaporíjia

A Rússia apelou esta sexta-feira à Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) para que atue como mediadora entre Moscovo e Washington, com vista à resolução da questão do combustível nuclear de fabrico norte-americano armazenado na central de Zaporíjia, localizada em território ucraniano, mas ocupada por forças russas desde março de 2022.

A central, situada junto à linha da frente do conflito armado, é a maior da Europa e, antes da guerra, era responsável por cerca de 20% da eletricidade consumida na Ucrânia. No entanto, encontra-se atualmente inativa, com os seis reatores desligados desde setembro de 2022.

O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, afirmou esta semana à Reuters que o reinício das operações na central é “impossível” neste momento, devido à ausência de um fornecimento elétrico estável e à falta de água necessária para arrefecimento.

Por sua vez, Alexei Likhachev, chefe da agência russa de energia nuclear Rosatom, revelou após um encontro com Grossi que a Rússia está disposta a duas soluções quanto ao combustível da empresa norte-americana Westinghouse: utilizá-lo na central ou removê-lo por completo e devolvê-lo aos Estados Unidos. A proposta foi apresentada com o objetivo de desbloquear um dos obstáculos técnicos ao eventual reativamento da central.

Segundo Likhachev, os EUA e a Westinghouse tinham anteriormente levantado preocupações quanto a possíveis violações de propriedade intelectual, caso a Rússia decidisse utilizar o combustível. Contudo, o responsável russo garantiu que Moscovo está disponível para colaborar de forma transparente, desde que se encontre uma solução consensual.

A agência noticiosa estatal russa RIA Novosti citou Rafael Grossi, confirmando que a AIEA está disposta a desempenhar o papel de mediadora neste processo sensível.

Desde o início do conflito, tanto a Rússia como a Ucrânia têm trocado acusações sobre alegados bombardeamentos nas imediações da central de Zaporíjia, aumentando os receios internacionais de um possível acidente nuclear de grandes proporções.

Ainda de acordo com Alexei Likhachev, a Rússia já preparou um “plano abrangente” para uma reativação faseada da central. No entanto, advertiu que essa estratégia só poderá ser posta em prática “caso todas as ameaças militares forem eliminadas”.

A situação permanece volátil, e o papel da AIEA poderá ser determinante para garantir não só uma solução técnica para o combustível nuclear, como também a segurança operacional de uma infraestrutura crítica situada em plena zona de guerra.