Rússia mobiliza mísseis intercontinentais Yars com capacidade nuclear em exercício militar

A Rússia anunciou o envio de lançadores autónomos do míssil balístico intercontinental RS-24 Yars, capaz de transportar ogivas nucleares, para rotas de patrulha de combate. A informação foi divulgada pelo Ministério da Defesa da Federação Russa na sua conta oficial no Telegram, esta quarta-feira.

O exercício militar surge num momento de elevada tensão entre Moscovo e o Ocidente, levantando preocupações sobre uma possível escalada no conflito com a Ucrânia. O Kremlin possui o maior arsenal nuclear do mundo, superando os Estados Unidos, e o uso de mísseis intercontinentais como o Yars poderia causar destruição massiva em comparação com armamento convencional.

O Ministério da Defesa da Rússia especificou que as unidades do míssil Yars pertencentes à formação de mísseis de Novosibirsk foram destacadas para patrulhas de combate, percorrendo até 100 quilómetros e dispersando-se estrategicamente. Durante a operação, os militares realizaram mudanças de posições no terreno, fortaleceram estruturas de engenharia e reforçaram medidas de segurança para neutralizar possíveis ataques de grupos de sabotagem e reconhecimento.

A pasta da defesa acrescentou que, como parte das manobras, as unidades de mísseis praticaram táticas de dispersão em áreas florestais para aumentar a furtividade dos sistemas móveis Yars.

O míssil RS-24 Yars é uma arma estratégica desenvolvida para transportar múltiplas ogivas nucleares, podendo ser montado em plataformas móveis ou instalado em silos subterrâneos. O sistema é descrito por fontes russas como uma evolução do míssil Topol-M, apresentando maior capacidade de carga e um sistema de orientação mais sofisticado.

Características do míssil Yars
O RS-24 Yars tem um alcance estimado entre 11.000 e 12.000 quilómetros e é capaz de transportar até quatro ogivas nucleares com tecnologia MIRV (veículos de reentrada múltipla e independentemente direcionáveis). Cada ogiva pode ter um rendimento explosivo de cerca de 500 quilotoneladas, tornando o Yars uma peça central da dissuasão nuclear russa.

Não é a primeira vez que a Rússia recorre a este sistema de mísseis em exercícios militares. O Yars foi frequentemente deslocado para silos na base de mísseis de Kozelsk, na região de Kaluga, durante os anos de 2022, 2023 e 2024.

A recente movimentação militar russa gerou reações imediatas. O utilizador WarTranslated, um blogueiro militar estoniano, alertou no X (antigo Twitter) para o início de “exercícios russos de lançamentos encobertos de mísseis balísticos nucleares”, partilhando imagens divulgadas pelo Ministério da Defesa russo, que mostram os lançadores do Yars a deslocarem-se por uma floresta coberta de neve.

O jornalista e realizador Caolan Robertson defendeu, também no X, que “é hora de a Ucrânia ter armas nucleares para se defender. É a única linguagem que a Rússia entende.”

O que esperar a seguir?
A possibilidade de a Rússia utilizar mísseis intercontinentais Yars num ataque real contra a Ucrânia permanece incerta, mas o exercício militar reforça o clima de intimidação nuclear no conflito.

A Ucrânia abdicou das suas armas nucleares em 1994, ao assinar o Memorando de Budapeste, em troca de garantias de segurança por parte da Rússia, do Reino Unido e dos Estados Unidos. No entanto, com o prolongamento da guerra e o aumento das ameaças de Moscovo, crescem os apelos para que Kiev reforce o seu arsenal de defesa, incluindo a possibilidade de reconsiderar o seu estatuto de país não nuclear.