Rússia esconde os seus planos com o petróleo e deixa mercado em alerta para o verão
A Rússia parou de publicar dados oficiais sobre produção e embarques de petróleo – até pelo menos abril de 2024. Recorde-se que Moscovo responde por cerca de 10% da produção mundial de petróleo bruto. Nesta altura, tanto os analistas como diversos Governos, que controlam as reservas estratégicas de petróleo, têm de recorrer à imaginação com os dados que obtêm através de satélites para descobrir o que o Kremlin está a fazer com o petróleo e quais são os seus planos.
O comportamento de Moscovo tem reflexos no preço do petróleo, sendo que, de acordo com o jornal espanhol ‘El Economista’, julho e agosto serão meses chave para o consumo – se o petróleo russo parar de fluir, o preço pode subir acentuadamente. O príncipe saudita Abdulaziz bin Salman alertou recentemente os especuladores que apostam na queda do petróleo: “Continuo a aconselhar que tenham cuidado”, alertou o ministro de Energia da Arábia Saudita, no Fórum Económico do Qatar. “Não tenho de lhes mostrar as minhas cartas e não sou um jogador de póquer. Mas diria: ‘Cuidado’.”
A relação cada vez mais estreita entre a Rússia e a Arábia Saudita parece ter atingido um obstáculo nas últimas semanas. Enquanto Moscovo parece defender não fazer nada diante da recente queda do petróleo nos mercados, Riad aposta na intensificação dos cortes de produção na tentativa de sustentar o preço do petróleo bruto através da menor oferta. No entanto, não seria a primeira vez que os dois países forjaram um desentendimento para confundir o mercado e, posteriormente, causar um impacto maior nos preços do petróleo bruto.
“Desde que a Rússia parou de publicar mais dados relacionados ao petróleo, os participantes do mercado mudaram para outra métrica para medir o corte de produção: exportações de petróleo bruto via navio-tanque. Este é o resultado de a Rússia não ter cortado a produção como prometido”, escreveram os especialistas do UBS, Giovanni Staunovo e Dominic Schnider.
A falta de dados russos preocupa o setor. “Várias empresas estão a usar satélites para rastrear diariamente o movimento dos petroleiros. É uma ferramenta boa mas imperfeita”, acrescentaram. “Acreditamos que uma das explicações para a redução é a menor procura doméstica por petróleo e a queda dos stocks nacionais. Se a queda dos stocks for a causa desta redução, em algum momento as exportações de petróleo bruto e refinados devem começar a estabilizar”, alertou a UBS.
Com esses dados e cenários em jogo, é quase impossível fazer uma previsão precisa sobre o preço futuro do petróleo. No entanto, segundo os especialistas da UBS, “reiteramos as nossas recomendações. Com vários países membros da OPEP+ a retirar voluntariamente barris do mercado, e através da procura crescente que se espera durante o verão no hemisfério norte, esperamos uma nova queda nos preços”.