Rússia celebra Dia da Vitória sob forte dispositivo de segurança e com presença alargada de líderes estrangeiros (incluindo Lula, Xi e Fico)

A Rússia celebra hoje o 80.º aniversário do Dia da Vitória com a habitual parada militar na Praça Vermelha, em Moscovo, marcada este ano por uma presença reforçada de líderes estrangeiros e por uma tensão elevada devido ao risco de ataques com drones e à guerra em curso na Ucrânia.

Militares de 13 países, incluindo China, Bielorrússia, Egito, Laos e Vietname, marcharão ao lado das tropas russas no desfile, que contará também com a presença de pelo menos 29 chefes de Estado e de Governo, de países como Brasil, Venezuela, Sérvia, Cuba, Etiópia, Uzbequistão ou Bósnia e Herzegovina. Também estarão presentes representantes da Coreia do Norte e dos territórios separatistas da Abcásia e da Ossétia do Sul, bem como ministros da Defesa de 31 países.

Apesar do ambiente de celebração, o evento decorre sob apertadas medidas de segurança, agravadas pela ameaça de ataques aéreos. Só nos últimos dias, vários drones ucranianos foram intercetados nos arredores de Moscovo, e as autoridades chegaram mesmo a encerrar temporariamente o espaço aéreo dos principais aeroportos da capital. Em regiões como a Crimeia, as cerimónias locais foram canceladas por motivos de segurança.

O presidente russo, Vladimir Putin, liderará a parada, onde deverá discursar sublinhando o papel da Rússia na derrota do nazismo e reafirmando a legitimidade das suas ações na Ucrânia. A presença do presidente chinês, Xi Jinping, e do brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva é vista pelo Kremlin como um sinal de apoio internacional ao regime russo, numa tentativa de contrariar o isolamento diplomático do Ocidente. Estarão também presentes Robert Fico, primeiro-ministro eslovaco, e Nicolás maduro, presidente da Venezuela.

No entanto, a comemoração não passa despercebida aos olhos críticos de Kiev. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, classificou o desfile como um “parade de cinismo”, acusando Moscovo de deturpar a memória da Segunda Guerra Mundial. “Amanhã, os horrores nazis serão invocados por quem criou valas comuns em Bucha e cercou Mariupol. É um desfile de fel e de mentiras”, afirmou Zelensky numa mensagem em vídeo emitida na véspera.

Zelensky alertou ainda que a Rússia “não pode ser aclamada como libertadora” quando continua a bombardear diariamente cidades ucranianas e que “o mal não se apazigua — combate-se onde for possível”. Apesar da entrada em vigor de um cessar-fogo unilateral de três dias, anunciado por Putin e em vigor até 11 de maio, a Ucrânia acusou Moscovo de já ter violado essa trégua.

O Dia da Vitória é a mais importante celebração patriótica da Rússia, evocando o triunfo soviético sobre a Alemanha nazi em 1945 — uma data que, ao contrário da maioria dos países europeus, Moscovo assinala a 9 de maio. A parada deste ano reveste-se de especial simbolismo para o Kremlin, que pretende reforçar o apoio popular à sua liderança e ao esforço de guerra, numa altura em que, segundo estimativas ocidentais, o número de baixas russas poderá já rondar um milhão de mortos e feridos.

Apesar das dificuldades económicas crescentes e da pressão internacional, Putin procura mostrar, neste 9 de maio, que continua rodeado de aliados e que mantém firme o controlo político interno — mesmo que uma verdadeira vitória no conflito ucraniano continue, para já, a parecer distante.