Reunião da NATO decorre hoje em Bruxelas com foco no apoio à Ucrânia. Secretário da Defesa dos EUA é ausência de peso
A sede da NATO, em Bruxelas, acolhe esta quinta-feira, 5 de junho, uma importante reunião dos ministros da Defesa da Aliança Atlântica, com a guerra na Ucrânia e o reforço do investimento em defesa no topo da agenda. Portugal está representado pelo ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, que participa nos vários trabalhos do dia, incluindo o Conselho do Atlântico Norte e a sessão de coordenação com a Ucrânia.
O encontro, presidido pelo novo secretário-geral da NATO, Mark Rutte, marca uma etapa fundamental de preparação para a cimeira de líderes da Aliança, agendada para o final de junho, em Haia, nos Países Baixos.
Um dos principais destaques da reunião é a ausência do secretário da Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, na sessão do Grupo de Contacto para a Defesa da Ucrânia (UDCG), realizada na véspera, quarta-feira, também em Bruxelas. Esta é a primeira vez em três anos que um chefe do Pentágono falha esta reunião, desde que o grupo foi criado pelo seu antecessor, Lloyd Austin, em resposta à invasão russa da Ucrânia, em 2022.
A ausência foi confirmada por um porta-voz do Departamento da Defesa dos EUA à Euronews, que justificou a decisão com “conflitos de agenda”. Hegseth foi substituído pelo embaixador norte-americano junto da NATO, Matthew Whitaker. Apesar da ausência no UDCG, o atual secretário da Defesa norte-americano está presente hoje na reunião formal da NATO.
Este episódio reforça os sinais de recuo da administração norte-americana no apoio direto à Ucrânia. Desde a tomada de posse de Donald Trump como presidente dos EUA, em janeiro de 2025, não houve novos pacotes de ajuda militar anunciados por Washington. Em fevereiro, Hegseth entregou formalmente a liderança do UDCG à Alemanha e ao Reino Unido, assumindo que os EUA deixariam de ter funções de coordenação neste grupo.
O UDCG reúne mais de 50 países e já assegurou cerca de 126 mil milhões de dólares (aproximadamente 111 mil milhões de euros) em assistência militar à Ucrânia, dos quais 58 mil milhões de euros foram disponibilizados pelos Estados Unidos.
Proposta para elevar a despesa em defesa até 5% do PIB
Outro ponto-chave da reunião de hoje é a discussão de uma proposta para aumentar a meta de despesa em defesa dos países membros da NATO de 2% para 5% do Produto Interno Bruto (PIB). A proposta tem o apoio de Mark Rutte e foi promovida por Donald Trump, numa tentativa de reforçar a autonomia europeia no esforço de segurança, reduzindo a dependência dos EUA.
Segundo fontes da NATO citadas pela Euronews, a proposta prevê que os 5% sejam divididos entre 3,5% de investimento direto em defesa e 1,5% em despesas “relacionadas com a defesa”, como ciberdefesa e infraestruturas críticas. O que será ou não incluído neste segundo grupo ainda está em discussão, sendo que alguns países propõem a inclusão de áreas como mobilidade militar e construção de vias estratégicas.
Neste momento, nenhum dos 32 países da Aliança cumpre a meta de 5%, incluindo os Estados Unidos. O calendário para a implementação do novo objetivo também será debatido durante a reunião.
Ucrânia mantém protagonismo mas contexto mudou
Embora a guerra na Ucrânia continue a dominar as preocupações da NATO, a relação entre Kiev e Washington arrefeceu desde a saída de Joe Biden. Ainda assim, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, deverá participar na cimeira de líderes da NATO no final do mês. Fontes diplomáticas adiantaram que Zelenskyy foi convidado para um jantar oficial oferecido pelo rei dos Países Baixos na noite de abertura da cimeira.
Na reunião de hoje, os ministros da Defesa participam num almoço de trabalho informal do Conselho NATO-Ucrânia, onde será debatido o atual estado do conflito. Nas últimas semanas, a Ucrânia realizou ataques massivos com drones contra bases aéreas russas, danificando, segundo Kiev, quase um terço dos bombardeiros estratégicos da Rússia — uma operação designada “Teia de Aranha”. Um responsável da NATO descreveu-a como “um golpe de génio”, embora tenha advertido que “não altera o campo de batalha”, uma vez que a Rússia continua a avançar “quilómetro a quilómetro”.
Agenda do dia inclui iniciativas de cooperação e reuniões estratégicas
A jornada de hoje, em Bruxelas, iniciou-se às 8h00 (hora local) com declarações à imprensa por parte do secretário-geral da NATO. Seguiu-se a reunião do Conselho do Atlântico Norte, uma cerimónia de assinatura de iniciativas multinacionais e, ao final da tarde, uma reunião do grupo de planeamento nuclear. A conferência de imprensa final de Mark Rutte está agendada para as 17h00 (hora local).
Ao longo do dia, estarão em análise temas como a resposta estratégica da NATO face à Rússia, a segurança no flanco leste da Europa, a proteção das infraestruturas críticas e o futuro da cooperação com a Ucrânia.
Com a cimeira de Haia no horizonte, a reunião de hoje em Bruxelas assume-se como um momento crucial para avaliar o nível de coesão interna da NATO num momento em que as prioridades de Washington parecem estar a mudar, e em que a guerra na Ucrânia continua sem solução à vista.