UE: Resposta à crise energética tem sido “descoordenada”, mais focada na “segurança nacional do que na cooperação”, criticam especialistas

A União Europeia está a braços com uma crise energética que ganha cada vez mais fulgor. A guerra da Rússia contra a Ucrânia fez disparar os preços dos combustíveis fósseis e estrangulou a disponibilidade de petróleo e de gás natural nos mercados mundiais.

Com Bruxelas e Moscovo em lados opostos da barricada, o Kremlin tem vindo a reduzir o abastecimento de gás aos países europeus, enquanto a Comissão Europeia e vários líderes do bloco acusam o Presidente Vladimir Putin de usar a energia como uma arma de chantagem e de pressão sobre o bloco.

Para impedir, ou minimizar, um cenário em que a UE enfrente um inverno sem gás e com falhas ao nível do fornecimento de eletricidade, os 27 Estados-membros acordaram num plano para reduzirem o consumo de gás em 15% até março do próximo ano. Contudo, os especialistas consideram que falta coordenação e cooperação, e que os vários governos estão a ser mais orientados pelos interesses nacionais do que pela solidariedade europeia.

O grupo de reflexão Bruegel publicou esta terça-feira um artigo no qual acusa que “os governos europeus tendem a optar por medidas limitadas e descoordenadas que priorizam a segurança nacional do abastecimento e da acessibilidade, em detrimento de uma abordagem europeia integrada”.

“Os governos correm o risco de os subsídios ao consumo se tornem insustentáveis, erodindo a confiança nos mercados energéticos, desacelerando o sancionamento da Rússia e aumentando o custo da transição para a neutralidade carbónica”, apontam os especialistas.

Ainda, dizem que “os esforços da UE para reduzir o consumo de gás tem sido descoordenada e, até recentemente, insuficiente”, acrescentando que “quase todos os governos têm sido reativos aos cortes de gás russo, ao invés de serem proativos e tomarem medidas para reduzir o consumo de gás”.

Para ser possível alcançar a meta da redução de 15% e concretizar a estratégia energética europeia, “os governos devem implementar um conjunto de medidas, incluindo a promoção da adoção de comportamentos que permitam poupar energia”, bem como investimentos imediatos que as famílias possam fazer para cortar o consumo e “regras que limitem consumos ineficientes”, especialmente em edifícios públicos.

Os autores do artigo consideram que os Estados-membros devem reforçar as partilhas de energia transfronteiriças, que são “a peça fundamental do sistema energético da Europa”.

“Sistemas elétricos isolados tendem a gerar preços mais altos para os consumidores que não podem beneficiar da eletricidade mais barata dos seus vizinhos”, alertam os peritos, apelando aos vários países do bloco que reforcem a cooperação na área da energia e que não atuem sozinhos.

Conta o ‘EUObserver’ que o plano para reformar o mercado elétrico europeu está ainda a ser trabalhado em Bruxelas, e, apesar de os ministros da energia dos 27 Estados-membros terem reunião marcada para esta sexta-feira, é pouco provável que se chegue a um acordo para um único plano para transformar o mercado elétrico a nível europeu.

De recordar que ainda esta terça-feira a Comissão Europeia apresentou uma série de medidas que têm como propósito reduzir os preços da energia na UE, com a aplicação de um teto máximo para os lucros das empresas produtoras de eletricidade e uma “contribuição solidária” das empresas de combustíveis fósseis. Outra das medidas é estabelecer um limite para o gás russo importado para a UE.

Ursula von der Leyen afirmou que esse pacote de ações pretende “proteger consumidores e empresas vulneráveis”, num cenário em que as famílias e as empresas tentam fazer frente a “preços astronómicos de eletricidade” e a uma “enorme volatilidade do mercado”.

Do conjunto de propostas consta ainda a obrigatoriedade da redução do consumo de gás, que tinha inicialmente arrancado como medida voluntária.

“Temos uma escassez global de fornecimento de energia. Portanto, é preciso haver uma redução inteligente da demanda. Iremos propor uma meta obrigatória de redução do consumo de eletricidade nas horas de ponta”, garantiu a Presidente da Comissão Europeia.

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