
“Realidade alarmante” com violência nas escolas. Quase 60% dos professores já foram vítimas de agressões
Um inquérito realizado pelo movimento Missão Escola Pública (MEP) revelou um retrato preocupante sobre a violência e intimidação nas escolas portuguesas. Os dados indicam que 59% dos professores já foram vítimas de bullying no exercício da sua profissão, sendo a maioria dos agressores os próprios alunos. Apesar da gravidade da situação, apenas 18% das ocorrências foram denunciadas às autoridades.
O estudo, realizado entre 13 e 26 de janeiro de 2025, contou com 2.529 respostas de docentes de todo o país, abrangendo diferentes faixas etárias, regiões e grupos de recrutamento. Os resultados indicam que 46,1% dos inquiridos têm entre 51 e 60 anos, 31,4% entre 41 e 50 anos e que a maioria (80,6%) são mulheres. A amostra é representativa da classe docente em Portugal, que é predominantemente feminina e envelhecida.
Agressões verbais e físicas, ameaças e coação
Os tipos de violência mais reportados são as agressões verbais (63,3%) e as ameaças (47%), segundo o estudo citado pela CNN Portugal. Casos de coação, perseguição e agressões físicas também foram identificados. Dos docentes inquiridos, 9,5% afirmaram ter sido vítimas de agressões físicas, sendo que, na maioria dos casos (87%), os agressores foram alunos. Contudo, também foram registadas agressões por parte de pais (8%), colegas de trabalho (2,7%) e elementos das direções escolares (2,4%).
“Embora o bullying por parte dos alunos não seja uma surpresa, o facto de os pais e encarregados de educação estarem também envolvidos sublinha a complexidade do problema e a necessidade de sensibilização para a importância do respeito nas relações familiares e escolares”, sublinha o MEP no relatório preliminar divulgado esta sexta-feira.
Quase 45% dos professores afirmaram sentir-se ameaçados, sendo que 57% das ameaças provieram de alunos e 48% de pais ou encarregados de educação. Além disso, 43% dos docentes relataram ter sido vítimas de coação no desempenho da sua função, sendo que 59% dos casos tiveram origem nas direções escolares. O estudo revela ainda que 10% dos professores sentiram-se pressionados a aceitar horas extraordinárias que deveriam ser de adesão voluntária.
“Há relatos de coação para o sobretrabalho, mas também de pressões para atribuir melhores notas aos alunos, facilitando a sua progressão académica. Isto é extremamente grave e reforça a necessidade de uma revisão do modelo de gestão das escolas”, alerta Cristina Mota, porta-voz do MEP.
Impacto na saúde mental dos professores
Os dados também revelam que 15% dos docentes já tiveram de meter baixa médica devido ao bullying sofrido. Apenas neste ano letivo, 11% afirmaram ter estado de baixa por causa do desgaste provocado pela indisciplina dos alunos, burocracia excessiva, sobrecarga de trabalho e atitudes autocráticas das direções escolares.
“Estes professores sentem que não vale a pena denunciar junto das direções, pois percebem que as situações são abafadas”, acrescenta Cristina Mota.
Os relatos recolhidos no inquérito evidenciam experiências angustiantes, incluindo o caso de um professor que foi ameaçado com uma arma de fogo quando tentava evitar um assalto. Segundo o MEP, este professor não reportou a ocorrência à Escola Segura, ilustrando a falta de confiança dos docentes nos mecanismos institucionais de proteção.
O estudo mostra que os casos de bullying contra professores são mais frequentes nas áreas metropolitanas. Lisboa lidera com 26,29% dos relatos, seguida pelo Porto (18,11%) e Setúbal (15,36%).
Além disso, 62% das vítimas são mulheres, refletindo a composição predominante da profissão docente. Também se verificou que os professores de disciplinas com maior taxa de insucesso escolar, como Matemática e Português, são os mais sujeitos a agressões, ameaças e pressões.