Quiet quitting: desistência silenciosa ou mudança radical?
Por José Miguel Leonardo, CEO Randstad Portugal
Quiet quitting ou demissão passiva, o que é certo é que o nome em nada reflecte o conceito.
Nesta definição não se procura vestir a camisola e traduz-se numa antítese de workaholic, o profissional que transforma o trabalho numa compulsão e é muitas vezes erradamente interpretado como “paixão pelo trabalho”, que marcou uma geração inteira.
Falamos então na adopção de uma postura dos profissionais que desempenham as funções que lhes competem, que foram descritas nos seus cargos e para os quais foram contratados. E se olharmos em atenção para as gerações que estão no mercado de trabalho, as opiniões dividem–se. Se por um lado os baby boomers acreditam que os profissionais devem sempre dar o seu máximo no trabalho, a geração Z é a que mais defende a premissa da desistência silenciosa em prol do bem-estar dos profissionais.
Mas a questão principal está no porquê. Por que é que o quiet quitting surgiu em força agora?
Este foi um ano marcado por grandes mudanças no mundo do trabalho e uma maior valorização pelo bem-estar e saúde mental dos profissionais. A conciliação entre a vida profissional e pessoal não é novidade, sendo um dos critérios mais valorizados na procura de um novo emprego, segundo o Randstad Employer Brand Research. Mas o que é certo é que as pessoas dão cada vez mais importância à felicidade, já que 40% dos portugueses estaria disposto a demitir-se caso o trabalho não lhe permitisse aproveitar o seu tempo, como podemos ler no estudo Workmonitor 2022 da Randstad.
Vemos assim novas medidas a serem adoptadas que procuram ter impacto no bem-estar dos colaboradores e profissionais, os quais estão a dar preferência a empresas que adoptam medidas que promovem a conciliação entre a vida pessoal e profissional.
Por esta razão, não é de estranhar que tendências como o quiet quitting estejam a emergir.
Mas se o quiet quitting é um fenómeno criado por profissionais, qual o papel das organizações?
A verdade é que ainda existem empresas que podem não adoptar uma estratégia de atracção e retenção de pessoas com foco nos benefícios que vão além da parte monetária e que não consideram o salário emocional importante. Esta falta de acção poderá resultar no efeito contrário, em que os profissionais sentem a necessidade de criarem medidas que promovam o equilíbrio entre a sua vida pessoal e profissional.
No entanto, este conceito não é um ponto final na relação entre estes profissionais e o empregador. Está aqui uma oportunidade para as organizações responderem ao quiet quitting, com uma loud change. E como? Através da gestão e aconselhamento das equipas, aposta em práticas que fomentem a saúde mental dos profissionais e práticas que alimentem um bom equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Esta mudança é uma oportunidade para fazer mais e melhor, contribuir para a mtivação e, no fundo, termos pessoas mais felizes. Este é um movimento que naturalmente pode ser percepcionado como negativo, pelo impacto que tem na perda de talento nas organizações, mas que também obriga a rever e mudar mentalidades, e a forma como gerimos hoje as pessoas dentro das organizações. No final do dia, esta desistência silenciosa é, na verdade, a procura pela felicidade pessoal e um alerta às organizações para acompanharem a transformação cada vez mais acelerada do mercado de trabalho.