Quem é Carlos Santos? Milionário português confessa golpe financeiro e enfrenta até 30 anos de prisão nos EUA

Carlos Santos, empresário português de 30 anos e fundador da Ethos Asset Management, está a poucos dias de conhecer o veredicto de um dos mais mediáticos casos de fraude financeira envolvendo um cidadão português nos Estados Unidos. Detido em novembro de 2023 no aeroporto de Newark, Nova Jérsia, o ex-aluno da Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo, em Leiria, declarou-se culpado, em janeiro deste ano, de conspiração para fraude eletrónica e roubo de identidade agravado. O julgamento final está marcado para esta sexta-feira, no tribunal distrital de San Diego, Califórnia.

A ascensão de Carlos foi tão rápida quanto vertiginosa. Filho de um empresário do setor automóvel e de uma contabilista, destacou-se desde cedo pela inteligência e ambição. Depois de concluir o ensino secundário em Leiria, seguiu para o Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), onde viria a licenciar-se com distinção e a lecionar entre 2015 e 2021. Estagiou ainda no Banco de Portugal e participou como investigador num projeto europeu sobre igualdade de género. Contudo, a verdadeira viragem na sua vida aconteceu com a fundação da Ethos, nos Estados Unidos, em 2016 — uma empresa que prometia revolucionar o financiamento através de um método de colateralização pouco convencional.

Segundo Carlos, a Ethos oferecia condições de financiamento altamente competitivas, recorrendo a garantias como Stand-by Letters of Credit (SBLC) em vez de ativos tradicionais. Esta técnica, alegadamente isenta de regulação jurisdicional, permitia, segundo o próprio, investir “sem risco”. No entanto, as autoridades norte-americanas descrevem agora este modelo como parte integrante de um esquema fraudulento. A acusação sustenta que Carlos manipulava extratos bancários, falsificava assinaturas e apresentava relatórios financeiros forjados para convencer clientes de que a Ethos dispunha de milhares de milhões de dólares prontos a investir — quando, na realidade, o capital não existia.

Num dos documentos forjados, a empresa declarava ter mais de 100 milhões de dólares em caixa. Noutras comunicações, o montante ascendia a 2,2 mil milhões. As supostas garantias iniciais que os clientes eram obrigados a pagar para aceder ao financiamento serviriam, afinal, para libertar garantias de outros clientes ou para alimentar outros contratos. Muitos nunca chegaram a receber os fundos prometidos, apesar de terem efetuado os pagamentos exigidos. Carlos já reconheceu perdas superiores a 17,1 milhões de dólares, mas os procuradores acreditam que o valor real poderá ser substancialmente mais elevado.

A personalidade de Carlos e o seu estilo de vida excêntrico sempre despertaram dúvidas entre os que o conheciam. Descrito como introvertido mas generoso, era conhecido por surpreender os amigos de Leiria com visitas inesperadas e gestos invulgares — como comprar dezenas de gelados de uma só vez para um grupo de amigos, apenas para provar que tinha, de facto, dinheiro. A sua ausência das redes sociais e o afastamento progressivo do círculo de amizades alimentaram o mistério em torno do seu percurso, até que a notícia da detenção apanhou todos de surpresa.

Apesar do currículo impressionante — quatro pós-graduações, vários prémios académicos e entrevistas a publicações internacionais como a Bloomberg ou a revista World Leaders —, Carlos vê agora a sua “obra-prima”, como descreveu a Ethos, à beira da ruína. O Ministério Público norte-americano acusa-o de ter montado uma verdadeira “ilusão financeira” para captar milhões de dólares de investidores em países como os EUA, Brasil e Turquia, recorrendo a mentiras sobre a origem dos fundos e a solidez da empresa.

O caso está a ser julgado pelo juiz Robert S. Huie, nomeado por Joe Biden e reconhecido pela sua experiência em investigações de corrupção e fraude. Huie esteve envolvido no mediático caso “Fat Leonard”, que expôs um vasto esquema de corrupção na Marinha dos EUA no início dos anos 2000. Se for condenado, Carlos Santos arrisca até 30 anos de prisão pelo crime de conspiração para fraude eletrónica, além de uma pena mínima obrigatória de dois anos por roubo de identidade agravado e uma multa de 250 mil dólares (cerca de 220 mil euros).

Carlos ainda se apresenta como um empreendedor visionário. Em entrevistas anteriores, justificou os seus primeiros fracassos como aprendizagens e aconselhou outros jovens a não desistirem perante as dificuldades: “Quando perderem, não deixem que a vossa cabeça ou o vosso coração se afundem”, disse à revista Passion Vista. Agora, a sua própria vida serve de alerta — um percurso que começou com promessas de inovação financeira e pode terminar atrás das grades.