Quando é altura de substituir os tachos e panelas? Especialistas explicam como avaliar o estado dos utensílios de cozinha

Substituir a loiça de cozinha nem sempre está no topo da lista de prioridades dos consumidores. No entanto, continuar a usar panelas deformadas, com o revestimento danificado ou materiais em fim de vida pode afetar não só a qualidade dos alimentos, como também representar riscos para a saúde. Mas afinal, como saber quando está na hora de trocar?

Daniel Modlin, ex-editor da revista Food & Wine, aconselha os cozinheiros domésticos a não gastarem fortunas em novos utensílios. “Devem investir no melhor conjunto que puderem pagar sem exagerar, tendo em conta a frequência com que cozinham”, afirmou. “Um conjunto topo de gama em aço inoxidável com titânio não é necessário para quem cozinha apenas de vez em quando. Se houver preocupações com o Teflon, as frigideiras em ferro fundido são uma excelente alternativa.”

Para quem tem um orçamento limitado, Modlin sugere estar atento a promoções e recorrer a soluções mais económicas: “Lojas em segunda mão, feiras, vendas de garagem e o Facebook Marketplace são ótimos locais para encontrar loiça de qualidade a preços reduzidos.” O especialista recomenda ainda que os consumidores verifiquem se as peças estão empenadas colocando-as numa superfície plana, evitem revestimentos antiaderentes riscados ou a descascar, e se assegurem de que os cabos estão bem presos.

Quando e porquê substituir diferentes tipos de loiça
Maricel Gentile, chef e proprietária da Maricel’s Kitchen, um espaço dedicado a aulas de culinária, catering e experiências gastronómicas, utiliza vários tipos de utensílios, desde os mais acessíveis aos de gama alta.

“Em casa, invisto em peças mais pesadas e duradouras. Pode parecer estranho, mas numa cozinha profissional, os utensílios sofrem bastante — caem, batem, ficam amolgados. Por isso, no meu espaço profissional, tento encontrar a melhor qualidade possível sem exagerar no preço”, explicou.

Em casa, no entanto, a abordagem é mais estética. “Escolho peças que sejam funcionais mas também visualmente apelativas, com elementos artísticos, conjuntos coordenados ou cores vibrantes. Uso uma mistura de aço inoxidável com titânio, antiaderentes, ferro fundido e cerâmica.”

Durante as aulas de culinária, Gentile prefere utilizar loiça mais fácil para principiantes. “Uso tachos e frigideiras compatíveis com fogões a gás ou por indução. Um wok com revestimento cerâmico funciona muito melhor para iniciantes do que um wok em aço carbono”, explicou. Este tipo de utensílio é ideal para preparar ovos, panquecas ou peixe, e é também fácil de limpar.

Contudo, alerta para o cuidado com os produtos em Teflon fabricados antes de 2013, quando ainda continham compostos químicos considerados tóxicos. Os utensílios em cerâmica, por outro lado, não incluem Teflon e estão livres de substâncias como PTFE (politetrafluoroetileno) e PFOA (ácido perfluorooctanoico), sendo, portanto, considerados mais seguros.

De acordo com os fabricantes, a loiça cerâmica deve ser substituída entre dois a cinco anos. Mas Gentile aponta para uma duração mais curta: “Acho que é mais realista dizer entre um e três anos. Se estiver riscada, a descascar ou com o revestimento gasto, está na altura de a substituir.”

Cobre, alumínio e outros materiais
Relativamente à loiça em cobre, Gentile defende que pode durar entre 10 a 20 anos, desde que o revestimento interno — normalmente em estanho ou aço inoxidável — se mantenha intacto. “Se o revestimento desaparecer, o cobre reage com alimentos ácidos, o que pode libertar pequenas quantidades de cobre na comida. Isso pode causar sintomas como náuseas ou diarreia.” No entanto, com o revestimento preservado, cozinhar com cobre é seguro. Além disso, é um material com excelente condução térmica e estética apelativa.

No caso do alumínio, a chef recomenda substituí-lo entre cinco a dez anos. “Se estiver muito riscado, amolgado ou com corrosão, deve ser trocado.” Embora a exposição quotidiana ao alumínio não seja considerada um risco para a saúde — uma vez que o corpo humano não absorve facilmente o metal — o ideal é evitar cozinhar alimentos ácidos a altas temperaturas e nunca armazenar alimentos nos recipientes de alumínio. Este material não é sempre antiaderente, mas é uma opção económica.

O que fazer com as peças em fim de vida?
Quando a loiça de cozinha já não tem utilidade, deitá-la no lixo comum não é a melhor opção. Daniel Modlin recorda que há alternativas mais sustentáveis: “Se tiver revestimento antiaderente, não pode ser reciclada nos centros habituais. Mas há fabricantes de antiaderentes que oferecem programas de reciclagem nos seus sites, onde removem o revestimento e depois reciclam o metal.” Empresas como a GreenPan disponibilizam este tipo de serviço, permitindo aos consumidores trocar a loiça antiga por novas peças.

Modlin reforça que muitas vezes a qualidade não está nos produtos novos, mas nas peças com história: “Algumas das melhores ferramentas que tenho na cozinha comprei em lojas de segunda mão, e superam em desempenho muita da loiça barata nova. É uma forma de poupar, cozinhar melhor e dar uma nova vida a bons utensílios. Todos ganham!”