
Putin pode expandir arsenal nuclear em resposta aos EUA, avisa diplomata russo
A Rússia poderá expandir e modernizar o seu arsenal nuclear caso os Estados Unidos continuem a avançar com o desenvolvimento de um sistema de defesa antimíssil, afirmou um alto diplomata russo. As declarações foram feitas por Grigory Mashkov, embaixador especial do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, numa entrevista publicada esta quinta-feira pela revista russa International Affairs, segundo a agência Reuters.
Desde o início da invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, as tensões entre a Rússia e os aliados ocidentais de Kiev, incluindo os Estados Unidos, têm-se intensificado. O presidente russo, Vladimir Putin, e outros altos responsáveis do Kremlin têm frequentemente levantado a possibilidade de uma escalada nuclear.
Putin suspendeu a participação da Rússia no tratado New START há dois anos, o último acordo de controlo de armas nucleares que ainda existia entre Moscovo e Washington. Este tratado impunha limites ao número de ogivas nucleares estratégicas que cada país podia possuir, mas a sua suspensão aumentou as preocupações sobre uma nova corrida ao armamento nuclear.
Esta semana, o ex-presidente e candidato presidencial Donald Trump emitiu uma ordem executiva para o início da construção do sistema de defesa antimíssil Iron Dome, que será “totalmente fabricado nos Estados Unidos”, segundo as suas declarações num evento na Florida na segunda-feira.
O Iron Dome é um sistema de defesa aérea desenvolvido por Israel com o apoio dos Estados Unidos, capaz de intercetar foguetes e projéteis de artilharia. O plano norte-americano de desenvolver a sua própria versão do sistema tem sido visto como um passo significativo na modernização das defesas estratégicas do país.
Na entrevista à International Affairs, cuja tradução em inglês foi publicada pela agência estatal russa TASS, Mashkov argumentou que o reforço dos sistemas globais de defesa antimíssil pelos Estados Unidos “elimina as possibilidades de redução de armas estratégicas ofensivas e de manutenção da estabilidade estratégica nos termos anteriormente definidos”.
“Nas realidades emergentes, já não é possível falar sobre estabilidade estratégica no seu contexto bilateral clássico, ou corremos o risco de cair noutra ilusão”, afirmou o diplomata.
Mashkov não descartou a possibilidade de a Rússia abandonar as atuais restrições sobre os seus arsenais nuclear e de mísseis e, em vez disso, aumentar “quantitativa e qualitativamente” a sua capacidade militar.
“Com a atual política ocidental de infligir danos estratégicos à Rússia, poderemos ter de reconsiderar os nossos compromissos, incluindo a transparência e as medidas de confiança no domínio nuclear. A continuidade destas discussões torna-se irrelevante face aos esforços do Ocidente para enfraquecer as forças estratégicas e não estratégicas de dissuasão nuclear da Rússia”, acrescentou.
O diplomata russo sugeriu ainda que o controlo de armas e o desarmamento devem ser revistos à luz das “ambições de domínio global dos Estados Unidos”.
“É difícil avaliar se a nossa política de cooperação com os americanos apenas em áreas que lhes interessam faz sentido, se é que faz”, disse Mashkov.
A Rússia tem vindo a reforçar a sua capacidade nuclear e de mísseis nos últimos anos, em resposta ao que considera ser uma crescente ameaça ocidental. Na entrevista, Mashkov alertou que “uma corrida ao armamento já está em pleno andamento”, incluindo uma “modernização em larga escala dos arsenais nucleares e dos veículos de entrega de armas de destruição em massa”.
O Departamento de Defesa dos EUA ainda não respondeu publicamente às declarações do diplomata russo, mas o secretário da Defesa norte-americano, Pete Hegseth, afirmou esta segunda-feira que o desenvolvimento do sistema Iron Dome americano “está a avançar rapidamente”.
Com a escalada de tensões entre as duas potências nucleares, os próximos meses poderão ser decisivos para definir o futuro das relações entre Moscovo e Washington, bem como para o equilíbrio estratégico global.