Putin foi nomeado primeiro-ministro da Russia há 25 anos. O que explica que se mantenha ininterruptamente no poder?

Hoje marca o 25.º aniversário da primeira nomeação de Vladimir Putin como Primeiro-Ministro da Rússia, um evento que transformou profundamente o panorama político do país. Nomeado por Boris Yeltsin em 9 de agosto de 1999, Putin tem mantido uma posição dominante na política russa desde então, com uma ascensão que culminou em sua presidência e em uma liderança que persiste até hoje.

Vladimir Putin foi nomeado Primeiro-Ministro da Rússia por Boris Yeltsin em 1999, em meio a uma crise política e económica que o país enfrentava. Em outubro daquele ano, Putin ordenou a intervenção militar na Chechênia, uma ação que resultaria numa prolongada campanha militar que só terminou em abril de 2009. Desde então, Putin consolidou o seu poder de forma substancial, levando a uma reestruturação significativa das instituições russas.

A Consolidação do Poder
Ao longo destes 25 anos, Putin tem sido amplamente criticado por transformar a Rússia numa “ditadura personalizada”, como avalia o cientista político russo Mikhail Komin. Em uma entrevista à DW, Komin destaca que a Rússia, apesar de não ser uma ditadura totalitária como a Coreia do Norte, tem cada vez mais exigido lealdade dos seus cidadãos. Segundo ele, Putin tem enfraquecido as instituições políticas e centralizado o poder de maneira a concentrá-lo nas suas próprias mãos. “Hoje, todo o poder no Estado russo está concentrado nas mãos de uma única pessoa – Putin”, afirma Komin.

A transformação começou com a eliminação da autonomia regional, através da criação dos representantes presidenciais nas regiões, que serviram como um instrumento crucial para o controle do Kremlin. O politólogo explica que essa medida foi fundamental para consolidar o poder de Putin ao garantir influência sobre governadores e grandes empresários locais.

Críticas e Repressão
Grigori Nizhnikov, cientista político russo radicado na Finlândia, afirma à DW que Putin destruiu os centros autónomos de poder, como os oligarcas, e centralizou o sistema em torno de si. Apesar de vários desafios, como protestos após as eleições parlamentares de 2011, a anexação da Crimeia em 2014 e a agitação após a reforma previdenciária de 2018, Putin conseguiu eliminar a oposição e manter o seu controlo. Nizhnikov ressalta que, “com cada um desses eventos, novos oponentes foram eliminados”, resultando em uma falta de alternativas significativas para o presidente.

Mikhail Komin também critica o enfraquecimento sistemático dos tribunais durante o segundo mandato de Putin. Ele observa que a independência judicial foi severamente comprometida, com juízes leais ao governo a receberem mais poder, o que tem contribuído para a repressão estatal contra os cidadãos.

Manipulação da Memória Histórica
Alexander Bibkov, sociólogo russo, critica a manipulação da memória histórica sob o regime de Putin. Ele argumenta que o governo promove uma visão idealizada da Rússia, eliminando aspectos negativos da história e criando uma imagem de um país harmonioso e próspero. Bibkov descreve essa manipulação como a criação de uma “imagem do Galo de Ouro”, onde a Rússia é retratada como uma nação de valores tradicionais e lealdade incondicional, ignorando os conflitos e problemas reais.

Futuro e Desafios
Embora Putin tenha sido reeleito em maio de 2024 para um novo mandato de seis anos, especialistas como Mikhail Komin e Grigori Nizhnikov acreditam que o presidente pode continuar no poder além de 2030. Komin observa que a idade física de Putin é atualmente o único limite real para a sua permanência no poder, enquanto Nizhnikov destaca que a falta de alternativas políticas e o medo de mudanças contribuem para a estabilidade do regime.

O sociólogo Bibkov acrescenta que a tradicional necessidade de uma liderança forte na Rússia perpetua a ideia de que a estabilidade atual é preferível a qualquer mudança futura. “Os russos frequentemente culpam os governadores em vez de Putin pelos problemas. A crença é que se Putin soubesse, resolveria imediatamente”, afirma Bibkov.

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