
Putin esfrega as mãos de contente: apoio ocidental à Ucrânia dá primeiros sinais de fraqueza
O presidente russo, Vladimir Putin, não escondeu o seu plano para manter a pressão sobre a Ucrânia até que a determinação ocidental desse sinais de fraqueza: mais de 500 dias desde a invasão da Ucrânia, o presidente russo tem agora razões para acreditar que o seu plano pode ar resultado.
A Polónia, Estónia, Eslováquia e outros países da Europa Central e Oriental têm estado entre os aliados mais firmes de Kiev desde o primeiro dia da invasão: além do envio de armas e de acolher milhões de refugiados ucranianos, têm estado entre os mais ruidosos defensores da Ucrânia no Ocidente, pressionando por uma linha dura contra o Kremlin perante a relutância de países como França e Alemanha.
Mas o apoio começa a vacilar, conforme os líderes políticos destes países enfrentam batalhas de reeleição e outros desafios internos, assim como um crescente nervosismo sobre o impacto de uma futura adesão da Ucrânia à União Europeia.
O exemplo mais marcante é a Polónia, cujo primeiro-ministro Mateusz Morawiecki anunciou, na passada quarta-feira, que iria parar de fornecer novas armas à Ucrânia, numa escalada de tensão devido à disputa entre Kiev e Varsóvia sobre os carregamentos de cereais. “A Ucrânia percebe que nos últimos meses não está na fronteira com a Polónia, está na fronteira com as eleições polacas”, sustentou Ivan Krastev, presidente do Centro para Estratégias Liberais em Sófia, Bulgária, em declarações ao jornal ‘POLITICO’. Portanto, “os votos de 100 mil agricultores polacos são mais importantes para o Governo do que o que irá custar para a Ucrânia. E vemos isso a acontecer em muitos lugares”, precisou.
Morawiecki enfrenta um difícil desafio por parte de Donald Tusk, antigo primeiro-ministro polaco. Como parte da sua estratégia eleitoral, o primeiro-ministro está a ‘seduzir’ os apoiantes do Partido da Confederação, de extrema-direita, que se opõe à ajuda à Ucrânia.
Embora seja tentador considerar as tensões como fogos de artifício eleitorais, há no entanto razões para acreditar que poderão persistir para além da campanha. De acordo com um diplomata ocidental, a disputa de cereais revela dúvidas mais profundas sobre a adesão da Ucrânia à UE. “Durante 18 meses, a Polónia atormentou qualquer Estado-Membro que manifestasse a menor hesitação em relação à Ucrânia”, garantiu o diplomata. “Agora estão a mostrar as suas verdadeiras cores.”
O problema para Kiev é que não é apenas na Polónia que o apoio parece estar a diminuir. Desde o início da guerra, os estados bálticos têm liderado o ataque pró-Ucrânia em Bruxelas e Washington, talvez ninguém tão ruidosamente e eficaz como a primeira-ministra liberal da Estónia, Kaja Kallas. No entanto, um escândalo envolvendo o seu marido, que possui participações numa empresa que continuou a fazer negócios na Rússia. De então, a voz de Kallas tem sido menos assertiva, privando Kiev de um dos seus mais fortes defensores nas capitais ocidentais.
Na Eslováquia, as eleições de 30 de setembro podem transformar o país de um apoiante férreo para um cético da noite para o dia. “Se temos uma sociedade onde apenas 40% apoiam o fornecimento de armas à Ucrânia e o nosso Governo oferece apoio quase ao nível dos países bálticos, isso cria uma reação negativa” frisou Milan Nic, membro do Conselho Alemão de Relações Exteriores.
Robert Fico, o ex-primeiro-ministro populista do país, está a fazer campanha numa plataforma pró-Rússia e antiamericana que se opõe a sanções contra indivíduos russos e a novas entregas de armas a Kiev e está a caminho de vencer as eleições. Uma vitória de Fico daria a Viktor Orbán, um dos maiores céticos europeus de Kiev, um aliado na UE. A promessa já foi deixada: se o seu partido tiver apoio suficiente para fazer parte do Governo, “não enviaremos mais armas e munições para a Ucrânia”.
É certo que a Ucrânia ainda tem muitos apoiantes fortes na Europa. A Lituânia, a Letónia, a Roménia, a Suécia, a Finlândia são alguns dos mais empenhados e diversos analistas referiram que a menor defesa da Polónia e da Eslováquia neste momento é devido ao facto de não restarem muitas armas para entregar nos arsenais dos dois países.