
Putin diz que está aberto a negociações diretas com a Ucrânia logo após retomar ataques aéreos
A Rússia lançou novos ataques contra a Ucrânia imediatamente após o fim da trégua pascal de 30 horas, decretada unilateralmente no sábado. A ofensiva russa levou as autoridades ucranianas a declarar alertas de ataque aéreo em cerca de metade do território nacional, alimentando acusações de hipocrisia por parte de Kyiv, numa altura em que Moscovo se diz aberta a retomar o diálogo de paz.
De acordo com o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, a pausa nas hostilidades foi respeitada por Moscovo durante o período pascal, mas cessou no início desta segunda-feira. No entanto, o governo ucraniano afirma que as forças russas violaram o cessar-fogo, atacando áreas civis e posições militares logo após o seu término.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reagiu prontamente às novas investidas, afirmando que “as ações da Rússia demonstram claramente a sua intenção de prolongar a guerra, não de a terminar”. Numa comunicação vídeo publicada na noite de segunda-feira, Zelensky declarou que Kyiv mantém a proposta de um cessar-fogo centrado no fim dos ataques a civis. “Estamos prontos para qualquer conversa sobre como alcançar isso, mas esperamos uma resposta clara de Moscovo”, acrescentou.
Durante a madrugada desta terça-feira, as sirenes de ataque aéreo voltaram a soar em mais de metade das regiões da Ucrânia. A Força Aérea Ucraniana confirmou que foram detetadas múltiplas descolagens de bombardeiros russos e movimentações de mísseis de cruzeiro e drones Shahed, de fabrico iraniano, em direção a centros urbanos e infraestruturas estratégicas.
Embora o número exacto de vítimas ainda não tenha sido divulgado, as autoridades locais referem danos significativos em edifícios residenciais e energia interrompida em várias zonas do centro e leste do país.
A trégua pascal, que vigorou entre sábado e domingo, foi anunciada por Moscovo como um gesto unilateral de boa vontade. Contudo, tanto Kyiv como os seus aliados ocidentais receberam a medida com cepticismo, dado o histórico de quebras de compromisso por parte da Rússia em cessar-fogos anteriores.
Putin fala em paz, mas exige concessões territoriais
Apesar da retoma dos ataques, Vladimir Putin insistiu esta segunda-feira que a Rússia continua disponível para “qualquer iniciativa de paz” e deixou, pela primeira vez em muitos meses, a possibilidade de um diálogo direto com a liderança ucraniana.
“Temos uma atitude positiva em relação a todas as iniciativas de paz. Esperamos que o regime de Kyiv pense da mesma forma”, afirmou Putin ao canal estatal russo Rossiya-1. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, detalhou mais tarde que essa abertura inclui discussões sobre a suspensão de ataques a alvos civis.
Contudo, Moscovo mantém como pré-condição para a paz a cedência de todos os territórios ucranianos atualmente ocupados — regiões que Putin declarou formalmente anexadas em 2022 e 2023 — bem como a aceitação da neutralidade permanente da Ucrânia. Kyiv rejeita estas exigências, afirmando que equivalem a uma rendição total.
Reunião em Londres e pressão dos EUA
Na quarta-feira, representantes da Ucrânia, dos Estados Unidos e de vários países europeus vão reunir-se em Londres para debater novos caminhos diplomáticos que conduzam ao fim da guerra. A iniciativa segue-se a uma reunião anterior em Paris, na qual se discutiram propostas para um cessar-fogo mais prolongado e com garantias mútuas.
O Presidente dos EUA, Donald Trump, e o Secretário de Estado, Marco Rubio, alertaram na sexta-feira que Washington poderá abandonar os seus esforços de mediação se não forem registados progressos reais nos próximos dias. Ainda assim, Trump mostrou-se mais esperançoso no domingo, dizendo acreditar que “as partes podem chegar a um acordo ainda esta semana”.
Zelensky sublinhou que as Forças Armadas ucranianas continuarão a responder de forma proporcional aos ataques russos. “O cessar-fogo será retribuído com cessar-fogo. Os ataques russos, com a nossa defesa. As ações falam sempre mais alto do que as palavras”, escreveu o chefe de Estado ucraniano na rede social X.