João Zilhão: “O Estoril Open é um grande palco de negócios”

Até ao dia 4 de maio o ténis é o catalisador de negócios e networking para muitas empresas. é assim todos os anos durante os dias do estoril open. em entrevista à Executive Digest, o diretor do torneio, João Zilhão, dá a conhecer alguns contornos da organização do evento.

Como decorreu a pre­paração de mais um Estoril Open?
É a décima edição do Estoril Open e apesar de haver muita experiência na equipa as coisas não ficam mais fá­ceis com o passar dos anos. Queremos elevar o nível de tudo o que fazemos e todos os anos introduzimos melhorias e algumas delas, obviamente, dão mais trabalho e essas mudanças obrigam-nos sempre a pensar como é que se vai adaptar a espécie de Lego que montamos aqui para dar uma melhor experiência a quem vê o evento.

É por isso que disse numa entrevista, que o Estoril Open é muito mais do que um evento de ténis?
Sem dúvida. Muita gente considera um dos grandes eventos corporate do país. Goste-se ou não de ténis, as pessoas gostam de vir ao Estoril Open. Porque tem boa gastronomia, tem bons vinhos e é um grande evento social onde as pessoas se sentem bem e onde há uma equipa sempre pronta para dar um serviço de excelência. E essa é uma das razões do sucesso do evento. Parece fácil, mas dá muito trabalho.

E fazem-se negócios no Estoril Open?
É um grande palco de negócios. Os grandes decisores estão cá nos nove dias do torneio. Como muitos têm agendas muito complicadas, acabam por se reunir aqui num evento mais informal. Já fiz negócios com o prato na mão numa fila para me servir do buffet, onde encontrei aquela pessoa que é quase impossível de apanhar ao longo do ano e que está ali ao nosso lado. Portanto, sim fazem-se contactos muito interessantes. E nascem grandes parcerias entre as várias empresas, daí ser um evento muitíssimo business to business com empresas a criarem negócios entre elas.

E quantas pessoas estão à espera nesta edição?
No ano passado chegámos às 43.500 pessoas [na “totalidade dos dias]. E este ano, dependendo da meteorologia, vamos ver como é que corre, mas estamos a contar novamente com esse número. Já temos várias sessões esgotadas e os 107 camarotes estão esgotados.

E quando chove, como aconteceu no ano passado?
As empresas vêm na mesma. No ano passado o restaurante estava cheio. Fal­tou o ténis, obviamente, mas não havia nada a fazer já que choveu de manhã à noite, e devolvemos o dinheiro a quem comprou bilhetes.

Este ano o Estoril Open desceu na catego­ria da Associação de Tenistas Profissionais ATP. Isso trouxe-vos problemas?
Temos estado a dar 250 pontos ATP todos os anose este ano vamos dar 175 pontos. E como coincidimos com a segunda semana do Open de Madrid (ATP 1000) estamos dependentes do que vai acontecer por lá. Vou dar um exemplo: o tenista português Nuno Borges vai jogar em Madrid. Se ele não perder até domingo à noite, não vem ao Estoril Open, porque fica lá para a segunda semana do torneio. Portanto, os jogadores têm que perder em Madrid até às nove da noite de domingo para poderem estar no Estoril Open.Tenho uma lista de inscritos com ótimos nomes, como o já referido Nuno Borges (número 1 português) e o Kei Nishikori, um dos jogadores asiáticos mais importantes. E também temos inscrito o brasileiro João Fonseca.

Essa mudança aconteceu por questões de calendário?
Sim, os torneios Masters 1000 passaram a ter duas semanas de duração, como os Open de Roma e de Madrid. Antes não acontecia e o calendário estava mais livre. Com esta alteração, “mataram” cerca de oito torneios ATP 250. Contudo, nos próximos dois anos o Estoril Open volta a ser ATP 250.

Mas isso não tornou as negociações com os patrocinadores mais difíceis?
Sim, foi dificílimo, esteve tudo em risco. Houve risco de não se conseguir continuar com a dignidade que tínhamos. Bastava algum dos grandes patrocinadores não querer continuar e colocava a solidez do projeto em causa. Mas as próximas três edições estão sustentadas. Portanto, estamos obviamente agradecidos à Câ­mara de Cascais e ao Millennium BCP, que continuam a apostar no projeto e a acreditar que este é um grande projeto. Tenho muita confiança naquilo que estou a vender e no que vou entregar quer aos patrocinadores quer ao público. Vai ser tão bom como sempre foi.

O Estoril Open é um projeto perfeita­mente adaptado à economia e à dimensão de Portugal. Está perfeito, em termos do tamanho e daquilo que representa para a economia portuguesa, e do es­forço que representa para as empresas portuguesas.

E será possível um dia o Estoril Open subir de “divisão” e passar a ser ATP 500. Esse objetivo existe?
Para isso acontecer era preciso que o governo português quisesse muito ter um ATP 500. Estamos a falar entre 30 a 40 milhões de euros para comprar uma licença existente. Depois o investimento em infraestruturas é brutal, porque o caderno de encargo para ter um ATP 500 é enorme. O Open de Munique, na Alemanha, fez isso. Era ATP 250, como nós, e agora investiram cerca de 30 milhões de euros para subir para a categoria ATP 500.

E esse tipo de evento dá retorno financeiro?
Provavelmente não, mas têm uma marca como a BMW a patrocinar, o apoio do governo alemão e da região da Baviera. Há dinheiro. Agora fala-se que a Arábia Saudita quer ter um Masters 1000 e quer investir vários milhões [mais de 1,8 mil milhões, segundo noticiou o jornal britânico Daily Telegraph], mas ainda não é certo porque não há espaço no calendário do ténis profissional, ou seja, mesmo com muito dinheiro não se fazem milagres.

Ou seja, é irreal para Portugal ter o Estoril Open como ATP500?
O Estoril Open é um projeto perfeita­mente adaptado à economia e à dimensão de Portugal. Está perfeito, em termos do tamanho e daquilo que representa para a economia portuguesa, e do es­forço que representa para as empresas portuguesas. Espanha, aqui ao lado, já é outra realidade. A economia é muito maior, e lá está, o Open Madrid (ATP 1000) não pertence a nenhum espanhol. O dono anterior era o romeno Ion Tirac, que é o homem mais rico da Roménia, que vendeu aos norte-americanos da IMG. Não há nenhum espanhol que seja dono do Open Madrid mas há muito apoio do governo local, para além de que Espanha ter uma grande tradição de jogadores campeões, saiu o Nadal e agora têm o Alcaraz. Têm uma base muito boa na modalidade.

João Zilhão, diretor do Estoril Open.
Foto de Paulo Alexandrino.

Isso falta a Portugal…
Estava preocupado quando o João Sousa chegou ao fim da carreira, mas de repente agora temos Nuno Borges, o Jaime Faria, o Henrique Rocha, o ténis português vive um bom momento.

Mas há outros desportos a surgirem, e a terem grande popularidade como o padel. Pode ser uma ameaça ao desen­volvimento do ténis?
O padel rouba, entre aspas, muitos jogadores ao ténis. É muito divertido e é muito mais fácil para jogar do que o ténis. Eu jogo as duas modalidades, e gosto muito.

Regressando aos números, qual o bud­get anual do Millennium Estoril Open?
O budget está muito perto dos 5 milhões.

Ou seja, o Estoril Open é negócio?
Tem que correr muitíssimo bem em todas as áreas para não perder dinheiro. Portanto, é um esforço brutal ao longo de todo o ano para arranjar patrocínios, para vender bilhetes/camarotes, para vender direitos televisivos e para nego­ciar com um sem fim de fornecedores de forma a que o P&L faça sentido. Porque é um evento extremamente exigente financeiramente. Decorre em nove dias, com meses de montagem e desmontagem no Clube de Ténis do Estoril. Mas é tudo feito com muito rigor e com muita qualidade.

E relativamente aos patrocínios e apoios financeiros, qual é a percentagem de in­vestimento das empresas e a percentagem que tem origem em apoios estatais?
A percentagem de patrocínios das em­presas ronda os 50%. O restante vem de venda de bilhetes, camarotes, direitos televisivos e apoio local. O apoio estatal que temos é o da Câmara de Cascais (via apoio do Turismo de Portugal).

E quanto é que esse apoio estatal re­presenta?
Cerca de 10-15%. Mas todos os anos o evento começa com um negativo brutal, porque para a edição seguinte temos que ir renegociar patrocinadores ou ir atrás de outros. Por isso é que nós gostamos de renegociar a três anos. Os nossos principais patrocinadores: o Millennium BCP, Cascais e os nossos sénior sponsors a Porsche, a Betclic, o grupo Major e a Emirates vão estar connosco nos próximos três anos.

*O jornalista escreve segundo o Antigo Acordo Ortográfico