Primeira bomba atómica atingiu Hiroshima há 79 anos. Sobrevivente da tragédia só agora quebrou o silêncio sobre o que viu e viveu

Hoje assinala-se o 79.º aniversário do bombardeamento atómico de Hiroshima, um evento que marcou o fim da Segunda Guerra Mundial e que deixou uma marca indelével na história da humanidade. No âmbito das cerimónias e recordações que hoje decorrem no Japão, um sobrevivente da explosão, Mikio Saiki, de 92 anos, decidiu finalmente partilhar a sua experiência de horror, um testemunho que esteve guardado durante décadas.

A 6 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram a primeira bomba atómica, conhecida como “Little Boy”, sobre Hiroshima. A cidade foi devastada instantaneamente, com cerca de 80 mil pessoas a morrerem na hora. De acordo com o historiador Odir Fontoura, o número total de vítimas aumentou para cerca de 140 mil devido aos efeitos prolongados da radiação. Apenas três dias depois, a 9 de agosto, os Estados Unidos lançaram a bomba “Fat Man” sobre Nagasaki, causando a morte de aproximadamente 40 mil pessoas, devido em parte à sua detonação mais baixa e à topografia montanhosa da cidade.

Esses bombardeios contribuíram para a rendição do Japão a 15 de agosto de 1945, encerrando a Segunda Guerra Mundial. Os ataques atómicos não apenas demonstraram o poder destrutivo das armas nucleares, mas também estabeleceu um marco sombrio na história das guerras e das armas de destruição em massa.

Mikio Saiki: Sobrevivente Partilha Testemunho aos 92 anos

Mikio Saiki, então com 13 anos, estava em casa a cerca de 2 quilómetros do epicentro de Hiroshima quando a bomba explodiu. “Eu estava prestes a calçar os sapatos quando houve um clarão ofuscante. Tudo ficou branco e, em seguida, escureceu quando a nossa casa desabou”, recorda Saiki. O seu pai, que estava numa paragem de elétrico próxima, foi lançado sobre uma ponte e sofreu queimaduras graves.

Na escola de Saiki, localizada a cerca de 800 metros do epicentro, 369 alunos e funcionários morreram. Saiki e outros colegas, que foram instruídos a ficar em casa, sobreviveram, assim como os membros da sua família.

No dia seguinte, Saiki e um amigo foram à escola, mas foram confrontados com um cenário infernal em Hijiyama, uma colina na cidade. “Os corpos carbonizados estavam alinhados aos dois lados da estrada, estendendo-se até a base da colina”, relata Saiki. A visão dos cadáveres e da cidade destruída fez com que voltassem.

Saiki admite que sentiu uma profunda culpa por ter sobrevivido. “Sentia-me mal por aqueles que morreram. Sabia que precisava falar sobre isso, mas não queria”, revela.

O trauma de Saiki foi uma constante ao longo da sua vida, enquanto trabalhava para uma estação de televisão local. Recentemente, a destruição na Ucrânia e as imagens de órfãos que perderam as suas casas e pais lembraram-no da devastação de Hiroshima. Aos 90 anos, Saiki decidiu enfrentar o seu passado e compartilhar a sua história. “Se eu perder esta oportunidade, nunca mais poderei fazê-lo”, afirma.

Desde abril, Saiki tem sido um testemunho oficial da cidade, oferecendo palestras no Museu da Bomba Atómica e em outros locais. Nas suas apresentações, Saike descreve o impacto devastador da bomba, com uma estimativa de 140 mil mortes causadas por uma única bomba atómica e as cenas horríveis de Hijiyama. “Precisamos mostrar ao mundo o verdadeiro terror das armas nucleares”, diz Saiki.

“Quero transmitir a realidade do bombardeio. Espero que as pessoas compreendam que guerras nunca devem acontecer”, afirma Saiki. Apesar da contínua luta com a culpa, o sobrevivente pretende continuar a compartilhar a sua experiência pelo maior tempo possível, acreditando que a compreensão mútua é um passo essencial para a paz.

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