
Primavera começa hoje… mas só no calendário: Chuva vai continuar nas próximas semanas
A primavera começa oficialmente esta quinta-feira mas – e se os dias que se preveem de chuva, vento e avisos meteorológicos não deixavam adivinhar – não trará imediatamente os dias soalheiros e amenos típicos da estação. De acordo com as previsões meteorológicas, as próximas semanas serão marcadas por uma primavera mais húmida do que o habitual, com episódios de precipitação intensa, seguidos de um aumento significativo das temperaturas a partir de maio.
O inverno que agora termina registou temperaturas superiores à média, consolidando-se como o sétimo mais quente desde 1932. Segundo o chefe da divisão de Clima e Alterações Climáticas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Ricardo Deus, a temperatura média do ar esteve 1,7 graus Celsius acima do normal.
Este aumento foi impulsionado, sobretudo, pelas temperaturas mínimas invulgarmente elevadas. “Houve muito poucos dias com geadas, o que é indicativo da tendência clara do aquecimento global”, explica o climatologista Mário Marques. Para Pedro Matos Soares, investigador em alterações climáticas, os dados demonstram inequivocamente o impacto da atividade humana no aquecimento global. “Nos últimos anos, as temperaturas têm sido consistentemente mais altas do que no passado. Não se trata de um fenómeno isolado, mas sim de uma tendência global”, reforça, citado pela ‘CNN Portugal’.
Apesar da perceção de um inverno chuvoso, os níveis de precipitação ficaram 8% abaixo do normal. “Tivemos semanas de precipitação intensa, sobretudo em janeiro com as tempestades Hermínia e Ivo, mas no cômputo geral choveu menos do que o habitual, especialmente devido a um novembro e dezembro muito secos”, esclarece Mário Marques ao mesmo canal.
A nova estação inicia-se com níveis de precipitação acima da média, marcados por chuvas persistentes e temperaturas ligeiramente abaixo do normal para esta época do ano. “Prevê-se que esta seja uma das primaveras mais húmidas dos últimos tempos”, adianta Mário Marques.
Entre os fatores que contribuem para esta instabilidade está o aquecimento acelerado dos oceanos, que aumenta a humidade na atmosfera e intensifica os fenómenos meteorológicos. “O anticiclone continental europeu está a posicionar-se mais perto da Europa, o que contribui para a instabilidade atmosférica”, acrescenta o especialista.
Abril, fiel ao ditado “abril, águas mil”, deverá registar valores de precipitação acima do normal, sobretudo na primeira metade do mês. Com o avançar das semanas, prevê-se uma estabilização gradual do tempo e o aparecimento de condições meteorológicas mais típicas da primavera.
Maio trará calor intenso e prolongado
Se a primavera arranca com chuva e temperaturas amenas, maio promete inverter o padrão meteorológico. De acordo com as previsões do IPMA, as temperaturas subirão de forma acentuada e o calor será prolongado, com um efeito adicional: o aquecimento do ar estará “em sintonia” com a temperatura do oceano, o que terá um impacto notável nas regiões costeiras do país.
A previsão meteorológica reflete uma tendência cada vez mais frequente: a variabilidade extrema do clima, caracterizada por fenómenos meteorológicos mais intensos e imprevisíveis. “Nos últimos anos, grande parte da energia em excesso gerada pelo efeito de estufa tem sido absorvida pelos oceanos. Com o aumento da temperatura das bacias oceânicas, há mais energia no sistema climático, o que se traduz em episódios de instabilidade mais frequentes e intensos”, conclui Pedro Matos Soares.
Assim, os próximos meses serão marcados por um clima instável, onde as chuvas intensas darão lugar a temperaturas acima da média, confirmando a tendência global do aquecimento e da crescente imprevisibilidade dos padrões meteorológicos.