Prestação da casa volta a subir em junho quase 300 euros… e o pico dos juros ainda está longe

A Euribor tem subido de forma acentuada nos últimos meses e maio não vai fugir à regra. Para quem contraiu um crédito à habitação, este mês há mais razões para se preocupar. Recorde-se que no último relatório da evolução da taxa de referência esta subiu a 12 e três meses – aqui para um novo máximo desde novembro de 2008 -, tendo descido a seis meses.

Merece especial atenção a taxa Euribor a 12 meses, que atualmente é a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação com taxa variável – representa 41% do ‘stock’ de empréstimos – avançou para 3,955%, mais 0,012 pontos, mas ainda abaixo do máximo desde novembro de 2008, de 3,978%, verificado em 9 de março. Portanto, se o seu contrato for revisto em maio, pode esperar, naturalmente, más notícias, uma vez que a prestação da casa vai subir quase 300 euros, se tiver um contrato a 12 meses, segundo revelou à ‘Executive Digest’ a DECO Proteste.

Tomemos como exemplo um empréstimo de 150 mil euros a 30 anos, com um spread (margem comercial do banco) de 1%:

– se o empréstimo tem como indexante a Euribor a 12 meses: a prestação que vai pagar nos próximos 12 meses irá subir para 790 euros, mais 288 euros (57,37%) em relação à prestação que pagou no último ano (502 euros). A taxa média registada este mês – dados até ao dia 25 de maio – foi de 3,834%.

– Já se o indexante for de 6 meses, prepare-se para entregar ao banco 774 euros, uma subida de 17,45% (cerca de 115 euros) face a dezembro de 2022, quando a prestação situava-se nos 659 euros. Já a taxa média situou-se no 3,657%

– por último, se tiver um contrato a 3 meses: a taxa Euribor média é de 3,343%, o que significa um aumento da sua prestação de 8,75%: sobe de 686 para 746 euros, mais 60 euros.

“Estranhamos silêncio dos grupos parlamentares e do Governo”

A subida das taxas Euribor – assim como das prestações mensais aos bancos dos créditos à habitação – tem colocado muitas famílias portuguesas a fazer contas à vida. De acordo com Nuno Rico, da DECO Proteste, “recebemos dezenas de contatos diários de famílias em dificuldades para conseguir renegociar os contratos com os bancos, o dobro comparativamente há um ano”.

Os bancos têm sido uma solução para as famílias? Nem por isso, reconhece o especialista. “O feedback que temos tido nos nossos contatos é que os bancos só avançam depois de alguma insistência, ou quando o cliente tem uma proposta de um banco rival ou quando está perto do incumprimento. Mesmo assim, uma fatia expressiva – 1 em cada 3 – das propostas dos bancos passa por criar um período de carência (período em que são apenas pagos os juros do empréstimo) e com uma mensagem subliminar de que, uma vez que o mercado está em alta, deve vender o imóvel”.

A DECO Proteste apresentou, aos diversos partidos políticos, um pacote de medidas para ajudar as famílias portuguesas a curto prazo mas até agora não houve qualquer resposta. “As medidas tomadas pelo Governo são insuficientes. Estranhamos porque há mais de um mês entregámos propostas concretas e não tivemos qualquer resposta nem sequer fomos chamados para discutir qualquer proposta. Se calhar, os partidos políticos devem estar ocupados com outros assuntos, que não são tão importantes para a carteira dos portugueses como este”, revelou Nuno Rico.

Até porque as taxas Euribor não dão sinal de abrandamento nos próximos meses. “Podemos esperar o pico em setembro/outubro. É por isso urgente, diria mesmo imediato, tomar medidas mais concretas para ajudar as famílias a lidar com esses aumentos”, finalizou.

Taxas Euribor começaram a subir mais significativamente desde 4 de fevereiro de 2022

Recorde-se que as Euribor começaram a subir mais significativamente desde 4 de fevereiro de 2022, depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter admitido que poderia subir as taxas de juro diretoras este ano devido ao aumento da inflação na zona euro – tendência que foi reforçada com o início da invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro de 2022.

As taxas Euribor a três, a seis e a 12 meses registaram mínimos de sempre, respetivamente, de -0,605% em 14 de dezembro de 2021, de -0,554% e de -0,518% em 20 de dezembro de 2021. As Euribor são fixadas pela média das taxas às quais um conjunto de 57 bancos da zona euro está disposto a emprestar dinheiro entre si no mercado interbancário.

O impacto da subida das Euribor vai ser maior ou menor consoante o valor do capital que ainda está em dívida. O consumidor deve utilizar o simulador do crédito à habitação, disponibilizado pelo Banco de Portugal, para calcular o valor da prestação mensal e ajustar o seu orçamento familiar.

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