Preço do gás na Europa ‘dispara’ 25% nas últimas semanas… e não é só por causa da Rússia
O que está a acontecer com o gás europeu?
Os aumentos são notáveis nos preços das matérias-primas, embora ainda longe dos valores desencadeados pela guerra na Ucrânia e pela mudança chocante no abastecimento de energia do Velho Continente: em novembro, os preços do contrato de referência no continente (TTF, nos Países Baixos) subiram mais de 25% – 55% ao longo deste ano -, o que fez atingir 48,2 euros por megawatt/hora.
Os mercados já esperavam um mercado mais restrito no Velho Continente devido ao possível corte do último gasoduto russo para a UE, que passa pela Ucrânia, cujo contrato expira no último dia deste ano: um inverno mais frio colocou pressão adicional sobre um mercado que encontrou mais problemas do que o esperado – no entanto, revelou a publicação ‘El Economista’, a realidade está a revelar-se pior do que as previsões.
Há outros fatores a emergir e a impor-se num continente que já alcançou um equilíbrio: embora seja um elemento-chave, representando 8% das exportações do continente, estão bem longe dos 40% antes da ofensiva sobre a Ucrânia.
As reservas de gás europeias estão a diminuir mais rapidamente do que o esperado: o Inventário Agregado de Armazenamento de Gás mostrou que os tanques estão atualmente a 87%, o valor mais baixo em novembro desde 2018, altura em que o gás russo fluía a toda a velocidade pelos gasodutos e com menor necessidade de um abastecimento seguro.
Os analistas atualizaram em alta as suas perspetivas para o gás europeu nos próximos meses: por outro lado, as empresas do setor, vendo a Europa como o ‘mercado premium’ do gás, estão a redirecionar todas as suas encomendas para o Velho Continente, transformando-o na ‘Meca’ dos cargueiros de GNL, que antes dirigiam-se para a Ásia. “Os preços médios para entrega de GNL ao sudeste da Europa, no prazo de quatro e oito semanas, saltaram de 14,3 dólares, o que deu uma vantagem de 50 cêntimos nas encomendas para a Ásia”, referiu a consultora energética ‘Energy Intelligence’. Foi uma mudança drástica, revelou, uma vez que há um mês as encomendas para a Ásia ultrapassaram em dois dólares as da Europa.
Como tal, indicou a empresa, “já existem seis remessas dos EUA que foram desviadas”. “Acreditamos que os preços do gás na Europa permanecerão elevados até ao final do ano, enquanto na Ásia esperamos um período mas relaxado”, explicou.
A Goldman Sachs apontou, na semana passada, em preços acima dos 77 euros por megawatt-hora no curto prazo no pior cenário. Já para 2025, no médio prazo, reviram o preço médio em alta para 40 euros face aos 34 que tinham sido fixados. A empresa lembrou que os preços mais elevados afetarão as famílias e as indústrias com custos mais elevados, “minando os esforços de recuperação económica e reacendendo as pressões inflacionistas”.
Mas o que aconteceu?
As temperaturas mais baixas são uma ameaça todos os anos, que se tem vindo a dispersar ano após ano devido a invernos amenos. No entanto, este ano parece ser o escolhido para que este problema se concretize. “Uma onda de frio no Atlântico intensificou o stress do mercado, com temperaturas abaixo de zero a afetar o noroeste da Europa e o nordeste dos Estados Unidos”, relatou a Quantum Commodity Intelligence. Segundo a EIA (Energy Information Administration, dos Estados Unidos), além da onda de frio que se tem vivido, espera-se que haja uma mudança mais contundente. “Uma ou mais regiões do Hemisfério Norte poderão experimentar temperaturas de inverno mais frias este ano, já que os modelos meteorológicos apontam para uma possível mudança de El Niño para La Niña.”
Tudo isto ocorre enquanto a energia eólica tem visto a sua produção cair significativamente, algo que teve de ser substituído pelo gás. Na Alemanha, na Polónia e no Reino Unido, as empresas nacionais de fornecimento de eletricidade anunciaram que estavam a recorrer às reservas de gás para produzir eletricidade devido à menor produção eólica.
Ao mesmo tempo, uma onda de atrasos no fornecimento de GNL, devido à má situação das empresas americanas, que enfrentam aumentos de custos e falta de funcionários. Tudo isso temperado pelo decreto de Biden em janeiro último, que ainda está em vigor e impede a aprovação de novos projetos, o que tem desestimulado aumentos de produção diante de um futuro de maior procura.