Portugal “tem uma fraqueza” na segurança, alerta responsável. Saiba como é feita a formação de profissionais em caso de acidentes de helicópteros

A CEDROS, empresa nacional instalada em Palmela, fornece formação a tripulações de helicóptero em caso de um acidente – o que nos remete imediatamente para o episódio mortal registado no Rio Douro, com o falecimento de cinco militares da GNR, na sequência de uma queda descontrolada na água.

Luís Coelho, diretor-geral da CEDROS, falou em exclusivo à ‘Executive Digest’ sobre o projeto formativo oferecido pela empresa, que poderia, eventualmente, ter feito a diferença entre os malogrados militares.

“Ministramos, com reconhecimento a nível internacional, formações de saída, de ‘escape’, mas para fuga em meio subaquático a nível de helicópteros. E porquê helicópteros? Porque, ao contrário dos aviões, têm uma especificidade: quando acaba por amarar, se o motor pára, e não existe a possibilidade de se manter à tona de água – e não existem muitos casos desses -, mal a potência da máquina desaparece, esta roda sobre o seu eixo devido às especificidades da sua composição, e fica virada de cabeça de baixo”, explicou o responsável, salientando que a formação visa sempre “procedimentos de emergência de cabeça para baixo”.

Ou seja, em caso de acidente, há diferenças substanciais entre aviões e helicópteros. Por isso mesmo, há “códigos de boas práticas e referenciais internacionais” que são muito mais exigentes em organizações do que na maioria dos países. Luís Coelho lembrou o setor das plataformas petrolíferas: “Há um critério muito apurado para quem viaja de helicóptero, quem é helitransportado para qualquer local, em particular as plataformas petrolíferas, que ninguém embarca sem ter formação certificada.”

“O propósito da CEDROS em termos de mercado é trabalhar nas vertentes de segurança, sobretudo nas vertentes de alto risco. E por isso posiciona-se, a nível nacional, mas sobretudo a nível internacional, onde existe referenciais que destacam e valorizam a segurança. Face a este enquadramento, e face à fraqueza do mercado português no que diz respeito à segurança, há muito que nos posicionámos para obter este tipo de oferta formativa. Fomos certificados há um ano, que culminou após quatro anos de trabalho”, referiu o responsável.

A formação é dada à tripulação – “aqui todos fazem a formação, sejam pilotos sejam passageiros, com algumas especificidades”, indicou – mas, a nível nacional, as respostas acabam por ser “em conformidade” com a legislação, ou seja, que não obriga a tais formações.

“O nosso investimento só é sustentável devido à procura internacional. Sabemos que a nível militar, que têm os seus protocolos, a legislação desobriga as forças policiais e militares”, relatou Luís Coelho, destacando que após a formação estar certificada “fechou contrato de três anos com a Força Aérea”. No entanto, recordou, “em 2022, esta unidade à qual pertenciam os militares malogrados visitou-nos. Vieram dois elementos, mas depois não houve mais notícias”.

Sobre as quedas dos dois helicópteros recentemente – no Rio Douro e em Mondim de Basto -, Luís Coelho assinalou que “até hoje não sabemos, com rigor, as condições que levaram ao acidente no rio Douro, e com cinco vítimas a lamentar do nosso corpo militar, deixando desde já um profundo lamento às suas famílias e colegas”.

“Contudo, é de informação pública que não havia registo de treino desta tripulação neste cenário, fruto de alguma falta de clarificação da obrigatoriedade destas formações que, não podem estar ao acaso da sorte ou do senso comum: este é um ambiente muito adverso que requer treino em ambiente real, tudo para evitar lamentar vítimas que, infelizmente, não foi o caso”, sustentou.

A nível internacional, a CEDROS foi procurada por mais de 400 profissionais no último ano no caso dos helicópteros, um número que aumenta com formandos para os Canadair ou pilotos particulares que fazem por sua iniciativa. “Grande parte dos formandos são portugueses que trabalham em companhias internacionais”, referiu Luís Coelho. “Mas também há muitos pilotos que escolhem a nossa rota, as nossas instalações, exames médicos, alojamento, para uma oferta integrada, o que tem potenciado a procura internacional – desde a Argélia, Dubai, Angola, EUA, muitos da Europa e até do Brasil. “Há pessoas que se deslocam, que investem na formação, e só depois é que vão para o mercado de trabalho.”

Veja aqui como é feita a formação.

“A partir da amaragem, percebe-se que a máquina vai rodar, e fornecemos os procedimentos para sair do local: posicionarem-se na janela, ou no sítio de saída designado. Nunca largarem essa posição, quando largarem os cintos, ficam perdidos na máquina, completamente desorientados. Nos treinos, vamos buscar muito gente”, referiu Luís Coelho. “A nossa máquina recria o interior de um helicóptero, com um formador dentro da máquina a acompanhar, e depois mergulhadores nas proximidades, um nadador-salvador na margem, e um operador para movimentar a máquina”, referiu Luís Coelho, salientando que a formação é dada “para todos os modelos de helicópteros que existem”.

“Este é o cenário: só em treino, já existe uma preparação dentro de cenários de alto risco. Agora imagine quando as pessoas estão por conta delas. E ir para um rio é o melhor cenário, sem ondulação e com as margens próximas – já no mar é mais complicado. E debaixo de água, não se vê nada”, apontou o responsável.

“No caso da Força Aérea, fazemos uma atualização para que a máquina tenha duas portas. Costumizamos a máquina em função do cliente. Quando é o comum dos mortais, que vem de todos os quadrantes, que viajam como passageiros, e se começarem as coisas a correr mal, percebem a linguagem do piloto. A primeira é a preparação para o impacto, o primeiro protocolo, com uma posição de segurança para reduzir o impacto”, concluiu Luís Coelho.

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