Poderá a covid-19 ditar o fim do dinheiro como o conhecemos?
A covid-19 pode ser o catalisador que finalmente traz os pagamentos digitais para a total e mais convencional utilização, graças à expansão global do vírus que está a forçar os países a reconsiderar a uso de dinheiro físico, que pode transmitir a doença, aponta o mais recente estudo “Life after Covid-19” do Deutsche Bank.
Neste momento, de facto, muitas pessoas vêem o manusear de dinheiro como um fator de risco potencial na pandemia, e para reforçar a confiança do público, os bancos centrais decidiram colocar as notas em quarentena, e que seriam desinfetadas e isoladas, refletindo os seus esforços para conter a disseminação do vírus. “O que provavelmente aumentará as solicitações de governos, bancos centrais, consumidores e empresas para avançar para pagamentos digitais”, destacam os analistas.
A lavagem física de dinheiro é justificada e há pouco desacordo em torno do facto de a moeda poder servir como um vetor para transmitir patogénicos, como um mosquito. Alguns estudos têm mostrado que notas e cartões de crédito, ou uma outra superfície que um grande número de pessoas toque, pode transportar bactérias ou vírus. Um estudo recente sugeriu que a covid-19 “pode persistir em superfícies inanimadas como metal, vidro ou plástico por até nove dias, mas pode ser inativado eficientemente por desinfecção de superfície”, enquanto um outro concluiu que o vírus pode sobreviver em plástico e aço por até três dias após a contaminação e em papelão ou cobre por um dia inteiro.
O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA veio explicar como a covid-19 se espalha através do contato com superfícies ou objetos contaminados: “Pode ser possível que uma pessoa fique infetada com covid-19 se tocar numa superfície ou objeto que contenha o vírus e, em seguida, toque na boca, nariz ou olhos, mas não se considera que este seja a principal forma de propagação do vírus”.
Bancos respondem a emergência sanitária
Os bancos centrais responderam às preocupações públicas de três maneiras diferentes. Vários bancos centrais (incluindo o Banco de Inglaterra, Bundesbank, Banco do Canadá e Banco de Reserva da África do Sul) ativamente comunicou que os riscos são baixos. Outros bancos centrais tomaram mais medidas de precaução.
Primeiro o Banco da China e, em seguida, os bancos centrais da Coreia do Sul, Hungria e Kuwait começaram a desinfetar e até destruir notas para atenuar a propagação do vírus. Por medo de importar moeda contaminada da Ásia, a Federal Reserve dos Estados Unidos iniciou medidas de quarentena para notas de dólar da região.
Vários outros governos e bancos centrais (incluindo Índia, Indonésia e Geórgia) incentivaram explicitamente pagamentos sem dinheiro.
Segundo o estudo, a curto prazo, o vírus pode continuar a acelerar tendências para mudar para pagamentos digitais. O efeito do vírus nos sistemas de pagamento em Ásia poderá ser sentida mais cedo do que na Europa e no EUA, dada a já alta taxa de penetração em pagamentos digitais.
No final de 2018, cerca de 73% dos utilizadores de internet na China usavam serviços de pagamentos online (acima de 18% em 2008). O que é explicado pelo facto de a China e o Sudeste asiático terem mais populações jovens do que a Europa e os EUA.
Mas os analistas advertem que a covid-19 poderá “ser um divisor de águas”, dado que as pessoas mais velhas são as mais vulneráveis a este vírus mas também são quem mais ‘consome’ dinheiro e portanto, têm de ter o maior incentivo para mudar para pagamentos sem dinheiro.
O estudo estima que com a subida esperada para os próximos seis meses, as carteiras digitais venham a substituir as carteiras tradicionais nos próximos cinco anos. “Ansiosos por 2025, continuamos a esperar que as carteiras eletrónicas sejam a segunda entre as preferências dos método de pagamento a seguir aos cartões e o método preferido entre a geração Y. Ao olharmos para o médio e longo prazo, as preocupações sobre o manusear de dinheiro serão adicionadas aos desafios aos bancos centrais para desenvolverem as suas próprios moedas (CBDCs)”, detalham os analistas.
Hoje, 80% dos bancos estão a desenvolver um CBDC e o trabalho vai para além da pesquisa: 40% dos bancos centrais
estão já a experimentar provas de conceito em quatro grandes cidades. Podendo ser expectável que em três anos os bancos já estejam a usar os seus CBDCs.
Por último, importa reter que nas últimas semanas, sem nenhum anúncio formal, a China começou a testar pagamentos – na Starbucks e no McDonalds – a sua nova moeda digital.
Assim, embora a covid-19 possa ser um “patogénico único no ventre”, como Bill Gates alertou, também pode ter surgido coincidentemente quando temos a capacidade de responder com uma solução única no século. O vírus já levou nações a desinfetar e destruir as suas moedas. Comparando, um sistema de pagamento digital parece uma solução muito mais direta.