PM da Eslováquia reúne hoje com a Comissão Europeia para discutir trânsito de gás russo através da Ucrânia

O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, vai reunir-se esta quinta-feira com responsáveis da Comissão Europeia para discutir o possível restabelecimento do trânsito de gás russo através da Ucrânia, um tema que tem gerado tensões entre Bratislava, Kiev e Bruxelas. A Eslováquia tem pressionado a União Europeia a intervir para garantir o abastecimento energético do país, num momento em que a Ucrânia se recusa a renovar o acordo que permite o transporte de gás russo através do seu território.

O contrato atual entre Moscovo e Kiev, que permite o transporte de gás russo para a Europa através da Ucrânia, expira no final de 2024, e a Ucrânia já declarou que não irá renová-lo, alegando que os pagamentos a Moscovo ajudam a financiar a guerra contra Kiev. A medida pode afetar o fornecimento de gás a vários países europeus, incluindo Eslováquia, Áustria e Moldávia, que tradicionalmente recebem gás através deste trajeto.

O Kremlin afirmou esta terça-feira que é favorável à continuação do trânsito, com o porta-voz Dmitry Peskov a garantir que a questão é puramente comercial. “Estamos interessados em continuar este comércio. Queremos vender os nossos produtos, que são não só mais competitivos em comparação com o gás liquefeito americano, mas também muito mais vantajosos para os compradores europeus”, declarou.

Apesar das declarações russas, Kiev mantém a sua posição firme. O presidente Volodymyr Zelensky criticou abertamente Fico por procurar negociar diretamente com Moscovo, em vez de procurar alternativas no mercado ocidental. “O dinheiro é necessário para pagar pelo gás natural liquefeito (GNL) dos EUA. Mas pelo gás russo paga-se com dinheiro, independência e soberania”, escreveu Zelensky na rede social Telegram. “Mas não o senhor Fico. Ele escolhe Moscovo em vez dos Estados Unidos e de outros parceiros que podem fornecer gás em termos puramente comerciais. E isso é um erro.”

A Eslováquia manifestou satisfação com um recente anúncio da Comissão Europeia sobre a continuação de negociações com a Ucrânia para um possível prolongamento do trânsito de gás, mas admitiu que também está a considerar outras opções, nomeadamente o transporte de gás do Azerbaijão.

Por outro lado, Hungria e Eslováquia têm pressionado a União Europeia a intervir para assegurar a continuidade do abastecimento. O governo de Viktor Orbán tem estado particularmente ativo neste dossiê, tendo garantido no início da semana garantias da Comissão Europeia para proteger o fornecimento energético do país, uma exigência de Budapeste para continuar a apoiar a renovação das sanções da UE contra a Rússia.

A postura de Fico em relação à Rússia tem acentuado as tensões entre Eslováquia e Ucrânia. O primeiro-ministro eslovaco ameaçou recentemente cortar o fornecimento de eletricidade de emergência à Ucrânia, reduzir o apoio aos refugiados ucranianos no país e usar o seu direito de veto em decisões da União Europeia relacionadas com Kiev.

Zelensky, por sua vez, tem apostado no reforço das ligações com a oposição eslovaca. No início da semana, recebeu em Kiev um líder opositor da Eslováquia e manifestou apoio a manifestações contra a política de aproximação de Fico a Moscovo.

Entretanto, os Estados Unidos levantaram recentemente as restrições à exportação de gás natural liquefeito, uma medida vista como um incentivo à redução da dependência europeia do gás russo. Zelensky saudou a decisão do presidente norte-americano Donald Trump, afirmando que “é exatamente o que precisamos para garantir segurança e estabilidade – mais recursos energéticos dos nossos parceiros para a Europa”.

Com a expiração iminente do contrato de trânsito de gás russo pela Ucrânia, a Comissão Europeia enfrenta agora um dilema estratégico, tentando equilibrar a necessidade de garantir o fornecimento energético dos seus Estados-membros sem enfraquecer o apoio a Kiev na guerra contra Moscovo.