Plataformas de jogo online usadas por terroristas para recrutar jovens portugueses

O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2024, que se encontra em fase de aprovação parlamentar, revela que plataformas de gaming estão a ser usadas por grupos terroristas para recrutar jovens portugueses, incluindo pré-adolescentes. A utilização destas plataformas como meio de propaganda é apontada como um dos principais vetores da crescente ameaça terrorista.

Segundo o documento, citado pelo Correio da Manhã a disseminação de conteúdos radicais tem sido intensificada pelo uso de ferramentas de inteligência artificial, que permitem criar vídeos curtos e apelativos. Estes materiais audiovisuais, aliados a fatores psicológicos, familiares e sociais, têm servido como catalisadores de processos de radicalização. O RASI alerta ainda para a presença de redes internacionais online que têm tido especial incidência entre os jovens portugueses. Além disso, o relatório indica que Portugal tem sido utilizado como ponto de passagem para militantes da Al-Qaeda, particularmente ativos na região do Sahel, em África.

Os extremismos políticos também são abordados no documento. O RASI aponta que grupos de extrema-direita aproveitaram as duas eleições de 2024 para intensificar a difusão de propaganda e a realização de protestos. Do lado da extrema-esquerda, verificou-se uma atividade ambientalista intensa, de matriz anticapitalista, com diversas ações de impacto mediático, incluindo atos de vandalismo.

A estratégia nacional de combate ao terrorismo continua a ser coordenada pela Unidade de Coordenação Antiterrorismo, que integra todas as forças e serviços de segurança. Durante 2024, este organismo recebeu um total de 2205 comunicações relacionadas com a prevenção e o combate ao terrorismo.

O relatório destaca ainda um aumento da criminalidade violenta e grave no país. Embora o crime geral tenha registado 354 878 participações em 2024, uma redução de 17 117 casos face a 2023, a criminalidade mais severa aumentou 2,6%, totalizando 14 385 ocorrências. Os roubos a bancos e outros estabelecimentos de crédito foram a tipologia criminosa que mais cresceu, com 32 ocorrências em 2024, um aumento de 128,6% face ao ano anterior, quando se registaram apenas 14 casos.

Outros indicadores preocupantes incluem um aumento no número de vítimas de violência doméstica, que passou para 23 em 2024 (19 das quais mulheres), apesar de uma ligeira redução no número total de homicídios, que passou de 90 para 89. Adicionalmente, desde 2020 tem-se verificado um crescimento contínuo do crime grupal e da delinquência juvenil. Em 2024, registaram-se 7279 casos de crime grupal (um aumento de 7,7% face a 2023) e 2062 casos de delinquência juvenil (mais 12,5% do que no ano anterior).