‘Plano Meloni’ adaptado? EUA e Israel avançam para enviar palestinianos de Gaza para África

Os Estados Unidos e Israel estabeleceram contactos com responsáveis do Sudão, Somália e da região separatista da Somalilândia para explorar a possibilidade de reassentar palestinianos deslocados da Faixa de Gaza. A proposta, que integra o plano pós-guerra da administração de Donald Trump, visa uma relocação permanente da população de Gaza, que supera os dois milhões de habitantes, de acordo com fontes americanas e israelitas citadas pela Associated Press.

A iniciativa tem gerado forte oposição, com acusações de violar o direito internacional e de configurar um caso de deslocação forçada. Em resposta, o Hamas reafirmou que “o povo palestiniano continua firme e comprometido com a sua terra, recusando-se a abandonar a sua pátria”.

A proposta não tem sido bem recebida no mundo árabe e enfrenta crescentes desafios políticos e legais. A Newsweek contactou o Departamento de Estado dos EUA e o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel para obter comentários sobre o tema, sem sucesso até ao momento.

Um novo paradigma na política dos EUA para o conflito israelo-palestiniano
A ideia de reassentamento representa uma reviravolta na abordagem dos EUA ao conflito israelo-palestiniano, com potenciais impactos na estabilidade regional. Os defensores do plano argumentam que poderia mitigar ameaças de segurança, enquanto os opositores alertam para o risco de violações graves do direito internacional e de crimes de guerra.

O plano também enfrenta forte resistência dos países árabes, que propuseram um pacote de reconstrução de 53 mil milhões de dólares para permitir que os palestinianos permaneçam na Faixa de Gaza.

O posicionamento do Sudão, Somália e Somalilândia
O Sudão já rejeitou oficialmente qualquer possibilidade de acolher refugiados palestinianos, apesar dos incentivos norte-americanos, que incluíam alívio da dívida e assistência militar. O país, que normalizou as relações com Israel em 2020 no âmbito dos Acordos de Abraão, está atualmente mergulhado numa guerra civil, o que torna qualquer acordo ainda mais improvável.

Na Somália, as autoridades alegam desconhecer qualquer negociação sobre o tema. O país, que historicamente defende a autodeterminação palestiniana, participou recentemente numa cimeira árabe que rejeitou oficialmente a proposta de Trump. Analistas consideram improvável que a Somália venha a aceitar o reassentamento, dada a sua instabilidade interna e a forte oposição popular ao plano.

A Somalilândia, uma região separatista da Somália que luta há décadas por reconhecimento internacional, também foi apontada como um possível destino. Fontes diplomáticas sugerem que os EUA poderiam oferecer reconhecimento oficial em troca da cooperação nesta questão. Apesar de ser mais estável do que a Somália, a Somalilândia é uma das regiões mais pobres do mundo, o que levanta dúvidas sobre a sua capacidade para acolher um grande número de refugiados.

Reações e posições divergentes
A proposta de reassentamento tem sido alvo de duras críticas. Hussam Badran, membro do gabinete político do Hamas, reiterou: “O povo palestiniano continua firme e comprometido com a sua terra, recusando-se a abandonar a sua pátria, independentemente da posição do presidente dos EUA.”

Por seu lado, um alto funcionário do governo sudanês, sob anonimato, afirmou que “esta sugestão foi imediatamente rejeitada”.

Já o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, admitiu que “Israel está a trabalhar para identificar países que possam receber palestinianos”.

Apesar da falta de um posicionamento oficial da Casa Branca, a administração Trump continua a insistir no plano de reassentamento. Enquanto isso, os países árabes seguem empenhados na proposta de reconstrução da Faixa de Gaza, visando garantir que os palestinianos permaneçam na região.

Com o crescente repúdio internacional e a falta de consenso entre os potenciais países receptores, o destino da população palestiniana deslocada continua incerto.