O plano de Trump e Putin para a Ucrânia: cessar-fogo, eleições forçadas e um acordo de paz

Os Estados Unidos e a Rússia concluíram esta terça-feira, em Riade, na Arábia Saudita, uma reunião bilateral para discutir o fim da guerra na Ucrânia. O encontro, que decorreu sem representantes do governo ucraniano, reuniu o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, e o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov. Ambas as delegações acordaram iniciar o processo de negociações “o mais rapidamente possível” e trabalhar na normalização das relações diplomáticas entre Washington e Moscovo.

“Tenho todos os motivos para acreditar que a parte norte-americana compreende a nossa posição”, afirmou Lavrov à saída da reunião, segundo a agência russa TASS.

As conversações tiveram lugar no Palácio Diriyah e contaram também com a presença de altos responsáveis sauditas, bem como de conselheiros próximos dos presidentes Donald Trump e Vladimir Putin. Fontes diplomáticas citadas pela Fox News revelaram que o plano inicial delineado por ambas as delegações assenta em três fases principais: um cessar-fogo na Ucrânia, a realização de eleições e, por fim, um acordo de paz formal.

Plano de eleições pode afastar Zelensky do poder
De acordo com as fontes diplomáticas ouvidas pela Fox News, o ponto central do plano reside na realização de eleições presidenciais na Ucrânia. A expectativa de Moscovo é que Volodymyr Zelensky tenha poucas hipóteses de ser reeleito.

“Putin avalia que a probabilidade de um presidente mais alinhado com os interesses russos ser eleito é bastante elevada e está convencido de que qualquer candidato que não seja Zelensky será mais flexível e estará disposto a negociar”, afirmaram as fontes.

No entanto, o governo de Zelensky e a maioria dos partidos da oposição ucraniana já deixaram claro que, neste momento, não existem condições para eleições no país, que perdeu cerca de 20% do seu território devido à invasão russa. O próprio presidente ucraniano rejeitou de forma categórica qualquer tentativa de negociação conduzida sem a participação direta de Kiev.

“As negociações sobre o futuro da Ucrânia não podem ocorrer sem a Ucrânia”, disse Zelensky recentemente, numa conferência de imprensa em Kiev.

Crimeia e sanções fora da mesa de negociações
Embora o encontro entre Rubio e Lavrov tenha sido o primeiro passo para uma possível resolução do conflito, várias questões-chave ficaram de fora das conversações. Entre elas, o estatuto da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e a possibilidade de levantamento das sanções ocidentais contra Moscovo.

A delegação norte-americana evitou responder a questões diretas sobre estes temas, limitando-se a afirmar que “ainda não estamos nesse nível de negociação”.

O secretário de Estado dos EUA sublinhou que a estratégia da administração Trump para as negociações com a Rússia passa por três fases: restabelecimento dos canais diplomáticos, avanço nas negociações de paz na Ucrânia e, a longo prazo, exploração de oportunidades de cooperação económica e geopolítica com Moscovo.

“O fim do conflito é a chave que abre a porta a estas oportunidades”, declarou Rubio.

Interesses económicos em jogo
Funcionários próximos da Casa Branca acreditam que uma aproximação entre Washington e Moscovo poderá abrir novas oportunidades económicas, especialmente no setor energético. A Rússia, terceiro maior produtor mundial de petróleo, depois dos Estados Unidos e da Arábia Saudita, continua a desempenhar um papel crucial no mercado global de hidrocarbonetos.

Donald Trump, que recentemente voltou a assumir a presidência, já afirmou várias vezes que reduzir o preço do petróleo é uma das suas prioridades para estimular a economia norte-americana.

Um dos temas mais sensíveis das negociações foi a possibilidade de tropas da NATO serem enviadas para a Ucrânia como força de manutenção de paz. Lavrov rejeitou essa hipótese de forma contundente, classificando-a como “totalmente inaceitável”.

“Qualquer presença de forças armadas de países da NATO, seja sob uma bandeira europeia ou qualquer outro pretexto, não muda nada”, advertiu o ministro russo.

A questão tem dividido os aliados europeus. França e Reino Unido manifestaram interesse em enviar tropas para garantir o cumprimento de um eventual acordo de paz, mas a recente reunião de líderes da União Europeia evidenciou divergências significativas entre os Estados-membros sobre essa possibilidade.

Rumo a uma cimeira Trump-Putin?
O encontro em Riade marcou a primeira reunião de alto nível entre os EUA e a Rússia em mais de três anos. Segundo Yuri Ushakov, conselheiro de política externa do Kremlin, as discussões foram “muito sérias” e poderão abrir caminho para uma futura cimeira entre Trump e Putin.

“Estamos a trabalhar nos detalhes de um encontro entre os dois presidentes”, afirmou Ushakov, citado pela agência russa RIA Novosti.

A guerra na Ucrânia, que entrou no seu terceiro ano, continua a ser um dos maiores desafios para a estabilidade europeia e global. Se o plano de Trump e Putin avançar, poderá representar uma mudança drástica na dinâmica do conflito — mas sem a participação de Kiev, qualquer acordo corre o risco de ser visto como uma imposição externa, mais do que uma solução legítima para a paz.