
Plano agora defendido por Trump já havia sido concebido pelo Governo israelita: conheça o Gaza 2035
Donald Trump não ‘inventou’ a ideia de transformar a Faixa de Gaza num enorme resort de férias no extremo leste do Mediterrâneo: a ideia de expulsar os seus habitantes – os palestinianos – e reinventar os seu 365 quilómetros quadrados já foi concebida pelos assessores do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu.
O plano que o presidente americano agora promove, que foi criticado pela comunidade internacional por ser uma alegada limpeza étnica, já está em vigor há algum tempo.
Praias, arranha-céus, campos solares a agrícolas, centrais de dessalinização de água, um novo corredor ferroviário ao longo de Salah al-Din Road – a principal via rodoviária que liga a Cidade de Gaza e Rafah, plataformas de petróleo na costa e navios mercantes. Idílico… e lucrativo: estima-se que possa haver 1,7 mil milhões de barris de petróleo na zona costeira da Faixa de Gaza. O plano é conhecido como “Gaza 2035”.
Em maio do ano passado, foram tornados públicos na Internet documentos do gabinete do primeiro-ministro israelita nos quais se pode ver como Gaza poderia ficar depois da guerra. O objetivo, segundo o Powerpoint publicado na altura pelos media israelitas, seria reintegrar Gaza à economia regional através de grandes investimentos económicos e de infraestrutura.
A proposta surgiu menos de um ano depois de Netanyahu ter apresentado o seu plano “Grande Israel” à ONU, que pedia a absorção da Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental nas fronteiras oficiais do Estado de Israel.
O plano “Gaza 2035” estabeleceu “a meta de reconstruir Gaza para moderar as suas políticas”, informou o ‘The Jerusalem Post’. Em outras palavras, trata-se de garantir prosperidade para que a população da Faixa de Gaza pare de confiar no Hamas. Porque os autores desta proposta político-imobiliária descreveram Gaza como um “posto avançado iraniano” que “sabota as cadeias de fornecimento emergentes” e “frustra qualquer esperança para o futuro do povo palestiniano”.
O plano “Gaza 2035” propõe a construção da “Zona de Livre Comércio Gaza-Arish-Sderot” e é essencialmente o que Trump parece estar a recuperar agora do Salão Oval da Casa Branca, para surpresa do mundo. A base é começar do zero depois da guerra e a sua destruição em massa.
Parte do esforço envolveria “reconstruir do zero” e projetar novas cidades do zero, que apresentariam projetos e planeamento modernos. Todo esse planeamento começaria com um plano económico e político de três fases.
Primeira fase
Intitulada Ajuda Humanitária, teria duração de um ano. Israel criaria zonas seguras, livres do controlo do Hamas, começando no norte e espalhando-se lentamente para o sul.
Uma coligação de países árabes (Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Bahrain, Jordânia e Marrocos) distribuiria e supervisionaria a ajuda humanitária nas zonas seguras. Os palestinianos em Gaza administrariam as zonas seguras sob a supervisão dos estados árabes.
Segunda fase
Isso aconteceria nos próximos 5 a 10 anos. A responsabilidade pela segurança seria transferida para Israel, enquanto a coligação árabe criaria um órgão multilateral chamado Autoridade de Reabilitação de Gaza (GRA), que supervisionaria os esforços de reconstrução e administraria as finanças da Faixa.
A GRA seria administrada por palestinianos de Gaza e assumiria a responsabilidade de administrar as zonas seguras. Isso seria feito em coordenação com a implementação de uma espécie de “Plano Marshall” e um programa de desradicalização.
Terceira fase
No plano, isso é chamado de “autogoverno”, mas Israel manteria o direito de agir contra “ameaças à segurança”. O poder seria lentamente transferido para um Governo local em Gaza ou para um Governo palestiniano unificado (ao lado da Cisjordânia).
O passo final seria os palestinianos administrarem Gaza de forma completamente independente e aderirem aos Acordos de Abraão. Em qualquer caso, o documento afirmou que a GRA não implicaria a criação de um estado palestiniano e não faz referência a um sistema de dois estados
Uma zona de livre comércio na região
De forma mais ampla, o plano é promover e implementar megaprojetos no Sinai, como o que a Arábia Saudita quer implementar na província de Tabuk. Seria o NEOM, que, de acordo com os planos, incluiria uma cidade ecológica linear inteligente chamada ‘The Line’, uma estação de esqui no deserto, um complexo industrial flutuante e um resort turístico de luxo.
Os planos que chegaram a Netanyahu em 2024 também preveem a criação de uma zona de livre comércio que abrangeria Sderot-Gaza-El Arish: Sderot, uma cidade israelita ao norte de Gaza, e o porto de El-Arish, ao sul de Gaza, na Península do Sinai egípcia. Em teoria, isso permitiria que Israel, Gaza e Egito tirassem vantagem cooperativamente da localização.
Os autores do plano acreditam que, com tais projetos, Gaza poderia funcionar como um importante porto industrial no Mediterrâneo. Idealmente, seria o principal porto de exportação de produtos de Gaza, mas também de petróleo saudita e outras matérias-primas do Golfo.
Uma das ideias do plano é transformar Gaza num centro importante para a fabricação de veículos elétricos. Também são mencionados os campos de gás recentemente descobertos ao norte de Gaza, que ajudariam a sustentar uma indústria em expansão, e a construção de campos de energia solar no Sinai, juntamente com as centrais de dessalinização.