
PJ desmantela rede criminosa de auxílio à imigração ilegal que atuava em todo o País. Sete empresários e uma advogada detidos
A Polícia Judiciária (PJ) desmantelou uma vasta rede criminosa que operava em Portugal com ramificações internacionais, dedicada à prática sistemática de auxílio à imigração ilegal e crimes conexos. A operação, designada “Gambérria”, decorreu esta terça-feira e culminou com a detenção de 13 pessoas — sete homens e seis mulheres — em várias localidades do país, incluindo Coimbra, Espinho, Carregal do Sal, Amadora, Odivelas, Loures e Lisboa.
De acordo com um comunicado oficial da Polícia Judiciária, a investigação, coordenada pela Diretoria do Centro e iniciada em setembro de 2023, visou “um grupo criminoso organizado que se dedicaria à prática reiterada de crimes de auxílio à imigração ilegal, associação de auxílio à imigração ilegal, corrupção, branqueamento de capitais e falsificação de documentos”. Os detidos incluem sete empresários, uma advogada e uma funcionária da Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas, organismo pertencente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Ao longo da operação foram executadas 40 buscas domiciliárias e não domiciliárias. Participaram na ação cerca de 200 elementos da PJ, contando ainda com o envolvimento de dois juízes, uma procuradora da República e representantes da Ordem dos Advogados. A operação contou também com o apoio técnico e logístico de várias unidades especializadas da PJ, incluindo as Unidades Nacionais de Contraterrorismo, Combate à Corrupção, Combate ao Cibercrime, além de estruturas de perícia tecnológica, informática, contabilística e científica.
Segundo as autoridades, o grupo montou um esquema altamente lucrativo com base na legalização irregular e massiva de imigrantes, sobretudo oriundos de países terceiros. “Os imigrantes, enquanto ‘clientes’, eram angariados nos países de origem com a promessa de fornecimento de um conjunto de serviços, tais como obtenção de contratos de trabalho, NIF, NISS, número de utente do SNS, tradução e certificação de registos criminais, abertura de contas bancárias e atestados de residência”, refere o comunicado da PJ. Muitos desses imigrantes, embora constassem como residentes e trabalhadores em Portugal, estavam na realidade em outros países do Espaço Schengen.
Durante as buscas, a PJ apreendeu “um enorme acervo de documentação utilizada em processos de legalização irregular de estrangeiros”, 11 veículos automóveis — alguns de alta cilindrada —, aproximadamente um milhão de euros em numerário, material informático e artigos de luxo adquiridos com os lucros do crime. Foram ainda encontradas duas presas de elefante em marfim com cerca de 50 quilos, bem como um selo branco, utilizado para validar milhares de certificados de registo criminal em nome de cidadãos estrangeiros.
Por ordem da autoridade judiciária, o Gabinete de Recuperação de Ativos – Centro interveio na operação, tendo procedido ao arresto de seis imóveis (dois prédios rústicos e quatro urbanos, entre os quais uma vivenda e três apartamentos). Foram igualmente congeladas 35 contas bancárias, dois produtos financeiros da plataforma de apostas BETANO e uma conta de criptoativos na plataforma BINANCE.
Os detidos, com idades compreendidas entre os 26 e os 64 anos e sem antecedentes criminais conhecidos, serão apresentados às autoridades judiciárias nos próximos dias, para aplicação das medidas de coação. A PJ refere que a investigação prossegue, com vista a apurar a totalidade dos crimes cometidos e o universo de beneficiários deste esquema criminoso.