Perturbações na CP: greve dos revisores começa a afetar circulação ferroviária já este domingo

«A circulação ferroviária em Portugal deverá começar a ser fortemente afetada a partir deste domingo, na sequência de uma greve convocada pelos revisores da CP – Comboios de Portugal, com paralisação marcada oficialmente para esta segunda-feira, 28 de abril. A transportadora nacional antecipa “fortes perturbações”, tanto no próprio dia da greve como nas 24 horas anteriores e seguintes.

A ação sindical foi convocada pelo Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante (SFRCI), que acusa a administração da CP de não cumprir um acordo alcançado há dois meses relativamente à reestruturação das tabelas salariais. Os revisores rejeitam também o aumento de 35 euros previsto para 2025, considerando que foi imposto unilateralmente pela empresa e sem qualquer processo negocial.

“A greve poderá causar fortes perturbações na circulação no dia 28 de abril, com impacto nos dias anterior e seguinte”, confirmou a CP em comunicado oficial, divulgado esta semana. Até ao momento, ainda não foram definidos serviços mínimos, mas a empresa garante que, caso venham a ser estipulados, a informação será atualizada no seu site institucional.

A CP reforça que os passageiros com bilhetes comprados para os serviços Alfa Pendular, Intercidades, Internacional, InterRegional e Regional poderão optar entre o reembolso integral ou a troca gratuita dos títulos para outro comboio da mesma categoria e classe. Os pedidos podem ser feitos através da área “Os seus bilhetes” na plataforma myCP, até 15 minutos antes da partida do comboio. Após este limite, e até dez dias após o fim da greve, será possível solicitar o reembolso através do formulário online “Reembolso por Atraso ou Supressão”, mediante o envio do bilhete digitalizado.

Calendário de protestos estende-se até maio
A greve dos revisores é apenas a primeira de uma série de ações de protesto previstas para os próximos meses na CP. Vários sindicatos representativos dos trabalhadores da empresa já anunciaram paralisações em abril e maio, em protesto contra propostas salariais consideradas insuficientes e alegados incumprimentos de acordos laborais.

Os maquinistas, por exemplo, anunciaram uma greve para 8 de maio, prevendo-se igualmente perturbações nos dias 7 e 9. António Domingos, presidente do Sindicato dos Maquinistas (SMAQ), critica a proposta de atualização salarial apresentada pela CP, que considera estar aquém do aumento aplicado na função pública. “Exigimos que a atualização dos salários tenha em conta a evolução do salário mínimo, que se aproxima cada vez mais do salário médio da empresa”, afirmou o dirigente sindical.

Domingos lamenta ainda que o acordo de reestruturação das tabelas salariais iniciais, apesar de já ter sido enviado para aprovação, continue à espera da tomada de posse do novo Governo. Esta situação, segundo o sindicato, demonstra a falta de vontade política em resolver os problemas estruturais da empresa.

Conflito nos bares dos comboios ameaça greve por tempo indeterminado
Outro foco de tensão laboral na CP envolve os trabalhadores dos serviços de bar a bordo dos comboios Alfa Pendular e Intercidades. Desde abril que a gestão destes serviços passou da empresa Newrest para a concessionária ITAU — Instituto Técnico de Alimentação Humana SA, o que motivou a ameaça de uma greve por tempo indeterminado a partir de maio.

Segundo Luís Batista, dirigente do Sindicato de Hotelaria do Sul, a nova concessionária recusou-se a reconhecer várias condições laborais acordadas anteriormente com a Newrest, incluindo a semana de 35 horas, o pagamento adicional de 25% pelo trabalho aos fins de semana, e a atualização dos subsídios de alimentação e de pernoita.

“Apesar de manter os salários base acordados para 2025, a ITAU ignora os aumentos previstos no acordo coletivo celebrado com a anterior empresa, o que se traduzirá numa redução real dos rendimentos dos trabalhadores já no final de abril”, alerta Batista.

A CP apresentou recentemente a nova concessão como uma melhoria no serviço, alargando os bares aos comboios Intercidades para Évora — os únicos que até então não dispunham deste serviço — e diversificando a oferta de produtos. No entanto, os trabalhadores afetados garantem que não foram tidos nem achados no processo de transição. De acordo com o sindicato, tentaram reunir-se com a administração da CP e com a Secretária de Estado da Mobilidade, mas sem sucesso.

Por sua vez, a CP declarou não ter recebido qualquer aviso formal de greve por parte destes trabalhadores, enquanto a ITAU recusou prestar declarações à imprensa.

Perturbações prolongadas em várias linhas
A CP já alertou ainda para outras perturbações previstas no serviço entre 28 de abril e 2 de maio, motivadas por outra paralisação convocada pelo SMAQ, com impacto particular nos serviços Intercidades e Regionais de Beja e da Linha do Algarve.

A transportadora apela à compreensão dos passageiros e recomenda que, sempre que possível, sejam consultados os canais oficiais para atualização de horários e eventuais cancelamentos.

Com o mês de maio à porta e sem avanços nas negociações com os diversos sindicatos, o cenário de instabilidade laboral na CP poderá prolongar-se, afetando milhares de passageiros em todo o país.