Parque automóvel envelhecido em Portugal: Carros com mais de dez anos atingem recorde histórico

A idade média dos automóveis ligeiros de passageiros em Portugal aumentou para 14,1 anos, segundo o mais recente Relatório do Estado do Ambiente de 2024, que revela dados de 2022. Este é um valor sem precedentes, indicando que nunca houve tantos veículos com mais de uma década a circular nas estradas portuguesas. Ao mesmo tempo, o setor dos transportes continua a ser um dos principais responsáveis pelo crescimento das emissões de gases com efeito de estufa, registando um dos maiores aumentos dos últimos 30 anos.

O relatório, elaborado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), e citado pelo Jornal de Notícias (JN) contabiliza um total de 7,2 milhões de veículos de passageiros e de mercadorias em circulação, dos quais 5,8 milhões correspondem a automóveis ligeiros de passageiros. Com um rácio de 556 veículos ligeiros por mil habitantes, Portugal situa-se ligeiramente abaixo da média da União Europeia, fixada em 565, mas esta diferença tem vindo a diminuir. O parque automóvel nacional está não só mais extenso, como também mais envelhecido: em 2021, a idade média dos automóveis ligeiros de passageiros era de 13,8 anos, subindo para 14,1 anos em 2022.

Por outro lado, a idade média dos veículos pesados de passageiros reduziu-se de 13,5 anos em 2021 para 12,6 anos em 2022, uma exceção no cenário de envelhecimento geral.

Crescimento dos veículos elétricos insuficiente para compensar parque envelhecido

Apesar do aumento significativo do número de veículos elétricos, que crescem a um ritmo de aproximadamente 50% ao ano, o parque automóvel português permanece predominantemente composto por veículos a gasóleo (56%) e a gasolina (39%) entre os ligeiros de passageiros. Nos veículos pesados, o gasóleo domina com 94% do total. Esta forte dependência dos combustíveis fósseis continua a pesar nas emissões de gases com efeito de estufa, sendo os transportes responsáveis por 78% do consumo final de produtos petrolíferos em Portugal.

Este é também um dos setores onde as emissões mais aumentaram no período entre 1990 e 2022, com um pico registado em 2002 e oscilações desde então. Em 2022, as emissões aumentaram, ainda que sem alcançar os níveis registados em 2019, antes da pandemia.

Para a Associação Automóvel de Portugal (ACAP), que também monitora a idade média dos veículos em Portugal, o envelhecimento do parque automóvel é uma questão que necessita de intervenção urgente. Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP, recorda que, no ano 2000, a idade média dos veículos ligeiros era de apenas sete anos. Atualmente, considera que a principal causa do envelhecimento reside na falta de capacidade financeira dos portugueses para trocarem de carro.

“Os vários governos nunca quiseram implementar um verdadeiro plano de renovação do parque automóvel”, critica Hélder Pedro, que defende a necessidade de um incentivo robusto ao abate e substituição de veículos antigos, com vista a uma renovação eficaz do parque automóvel. “Apenas um incentivo para a troca de carros a combustão por veículos elétricos, como o previsto no Orçamento do Estado para 2025, não é suficiente. Esse apoio, que só abrange cerca de mil veículos, é insuficiente para a escala do problema,” afirma, sugerindo que um programa mais abrangente deveria incluir cerca de 40 mil veículos.

Comparação europeia e exemplos de incentivo ao abate

Portugal está entre os países da União Europeia com o parque automóvel mais envelhecido, embora este fenómeno de envelhecimento seja também uma tendência noutros países europeus. “Em Espanha e Itália, o envelhecimento do parque automóvel foi estancado graças a programas de incentivo ao abate de veículos antigos,” explica o secretário-geral da ACAP, apontando estas iniciativas como exemplo de políticas que poderiam beneficiar também o mercado português.

À medida que o envelhecimento do parque automóvel se agrava, aumenta também a dependência do setor dos transportes de combustíveis fósseis, uma realidade que contrasta com as metas de sustentabilidade e redução de emissões a que o país se propôs. O relatório do estado do ambiente realça a urgência de implementar políticas mais sustentáveis, que promovam a transição para energias limpas e a descarbonização do setor dos transportes.