
Parlamento ucraniano prepara-se para ratificar hoje acordo estratégico com os EUA sobre terras raras
O Parlamento da Ucrânia deverá votar hoje a ratificação de um acordo recentemente assinado com os Estados Unidos que concede a Washington acesso preferencial a investimentos na exploração de recursos minerais ucranianos. A votação representa um passo crucial na consolidação das relações bilaterais entre Kiev e a administração norte-americana, num momento em que a Ucrânia continua a depender fortemente do apoio ocidental na sua defesa contra a invasão russa.
O anúncio da votação foi feito pelo deputado Yaroslav Zheleznyak através da rede social Telegram, dias depois de o acordo ter sido formalizado entre os dois governos, na quarta-feira passada. Segundo o conteúdo do documento, os Estados Unidos não só terão prioridade no investimento em projetos de extração de matérias-primas críticas na Ucrânia, como poderão também contabilizar eventuais novos pacotes de ajuda militar como parte da sua contribuição para um fundo conjunto previsto no mesmo pacto.
O primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, sublinhou o duplo impacto estratégico do acordo, apontando não apenas ao investimento económico, mas também ao reforço da capacidade de defesa do país. “Este acordo permitirá que defendamos melhor o nosso país aqui e agora — que protejamos melhor os nossos céus, graças aos sistemas de defesa aérea norte-americanos”, declarou Shmyhal durante uma reunião do Governo, na passada sexta-feira.
A ratificação do acordo surge num contexto de esforços renovados por parte de Kiev para reconstruir a confiança e os laços com a administração norte-americana, após algum distanciamento sentido nos primeiros meses do mandato do presidente Donald Trump, iniciado em janeiro deste ano. O pacto é, de resto, fortemente promovido por Trump, que procura reforçar o papel dos Estados Unidos como principal aliado militar e económico da Ucrânia.
Segundo a base de dados do Parlamento ucraniano, o Governo registou na noite de quinta-feira o projeto de lei necessário à ratificação do acordo. A vice-primeira-ministra Yulia Svyrydenko garantiu que a prioridade é acelerar o processo. “Queremos ratificá-lo o mais rapidamente possível. Por isso, planeamos fazê-lo nas próximas semanas”, afirmou.
Ainda de acordo com Zheleznyak, Shmyhal terá informado os deputados de que dois dos documentos que acompanham o acordo dizem respeito à sua aplicação prática e, por esse motivo, não carecem de aprovação parlamentar.
A Ucrânia possui vastas reservas de minerais críticos, como lítio, titânio e terras raras, considerados fundamentais para indústrias de alta tecnologia e para a transição energética. O acordo agora em processo de ratificação abre caminho para que empresas norte-americanas tenham acesso preferencial a novos projetos de exploração desses recursos, contribuindo ao mesmo tempo para o esforço de reconstrução do país, profundamente afetado por mais de dois anos de guerra.
A criação do fundo conjunto previsto no acordo poderá também tornar-se uma plataforma mais abrangente de cooperação económico-militar entre os dois países, alinhando os interesses estratégicos dos EUA com as necessidades urgentes da Ucrânia.