
Parlamento Europeu acusa Trump de “chantagear” Zelensky a aceitar acordo de cessar-fogo com a Rússia
O Parlamento Europeu acusou esta quarta-feira a administração do presidente norte-americano Donald Trump de exercer “chantagem” sobre a liderança ucraniana para forçar a aceitação de um cessar-fogo, alheando a União Europeia do processo negocial. A acusação foi formalizada numa declaração conjunta aprovada esta tarde, que condena veementemente a postura dos Estados Unidos face à guerra na Ucrânia e defende um reforço das capacidades de defesa europeias.
A declaração em causa, aprovada por mais de 440 eurodeputados num hemiciclo de 720 lugares, “deplora fortemente quaisquer tentativas de chantagear a liderança ucraniana para que esta se renda ao agressor russo, apenas para anunciar um suposto ‘acordo de paz'”. No mesmo documento, é considerada “contraproducente e perigosa” a estratégia da administração Trump de negociar um cessar-fogo e um acordo de paz com Moscovo sem envolver Kiev ou os estados europeus diretamente afetados pelo conflito.
A posição dos eurodeputados sustenta que o presidente russo Vladimir Putin está a ser “recompensado” pelos três anos de invasão contra a Ucrânia. A declaração conjunta recebeu apoio de deputados de diferentes espectros políticos, incluindo os Verdes, os Socialistas e Democratas, liberais, democratas-cristãos e até de alguns setores da direita radical.
Com a mudança na política externa dos EUA, os Estados-membros da União Europeia passam a desempenhar um papel ainda mais relevante como aliados prioritários da Ucrânia. Perante esta nova realidade, os eurodeputados apelaram ao reforço da assistência militar a Kiev e à ampliação das capacidades de defesa do bloco europeu.
Numa resolução não vinculativa sobre defesa europeia, aprovada com 419 votos a favor, 204 contra e 46 abstenções, o Parlamento Europeu instou os Estados-membros e a Comissão Europeia a reforçarem as capacidades militares da UE, especialmente face às ameaças reiteradas de Donald Trump de reduzir o envolvimento dos EUA na NATO.
Desde o início do seu segundo mandato, em 20 de janeiro, Trump tem pressionado a Ucrânia a iniciar negociações de paz com Moscovo. Entre outras medidas, suspendeu temporariamente a assistência militar e o intercâmbio de informações secretas. A ajuda norte-americana só foi retomada após a Ucrânia aceitar um cessar-fogo de 30 dias esta terça-feira, acordo para o qual ainda se aguarda uma resposta formal da Rússia.
Parlamento defende pilar europeu na NATO e cria frota de resposta rápida
Para contrariar as ameaças da administração Trump, os eurodeputados defendem a criação de um “Pilar Europeu totalmente operacional dentro da NATO, capaz de atuar autonomamente sempre que necessário”. Segundo explica Segundo Sven Mixer, eurodeputado socialista e um dos principais impulsionadores da medida, em entrevista ao jornal Politico, tal permitiria que os países europeus utilizassem as estruturas de comando da NATO para conduzir operações conjuntas sem depender da participação dos EUA.
Entre outras propostas, a resolução não vinculativa recomenda ainda a criação de uma “frota europeia de resposta a crises”, com aviões militares de transporte sob gestão de Bruxelas. Esta frota ficaria disponível para os Estados-membros, permitindo um rápido envio de tropas e equipamentos para zonas de conflito ou crises humanitárias.
Algumas fações da direita radical no Parlamento Europeu pediram o adiamento da votação desta resolução, alegando que o texto estava desatualizado e poderia servir apenas para “incitar ao ódio contra Trump e os EUA, em vez de favorecer a causa ucraniana”. No entanto, a tentativa de adiamento falhou, e parte dos eurodeputados do grupo Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) acabaram por votar a favor da resolução.