Pagaria 200 mil euros para voltar dos mortos? Primeira startup de criopreservação da Europa está na Alemanha e tem dedo português

A nossa própria morte iminente pode ser uma perspetiva assustadora, mas para uma startup alemã, o abraço frio da morte não é nada que se deva temer: a ‘Tomorrow Bio’ promete aos seus clientes a oportunidade de serem congelados após a morte, para que possam voltar no futuro, quando a tecnologia estiver suficientemente avançada.

Apesar de custar a impressionante quantia 170 mil libras (cerca de 201,3 mil euros) – ou de 63 mil libras (cerca de 74,5 mil euros) se desejar salvar apenas o seu cérebro -, o primeiro laboratório da Europa já está a mostrar-se popular. Os valores elevados não têm assustado os clientes – de acordo com a empresa, fundada em 2020, já foram congeladas seis pessoas e cinco animais de estimação, com mais de 650 membros pagantes a aguardar a oportunidade.

Fernando Azevedo Pinheiro, português cofundador da empresa, destacou, em entrevista ao tabloide britânico ‘Daily Mail’, indicou que “pessoalmente, acredito que durante a minha vida — atualmente tenho 40 anos — poderemos testemunhar a criopreservação segura e a reanimação de organismos complexos”.

O que é a preservação criogénica? Envolve congelar alguém que morreu recentemente de uma forma que o preserve para o futuro. Ao arrefecer o corpo a -198°C, os defensores da preservação criogénica pretendem manter o corpo em êxtase, exatamente como estava no momento da morte. Dessa forma, no futuro, o paciente morto poderá ser reanimado com segurança e tratado de qualquer doença que possa ter causado a sua morte.

O principal argumento de venda da ‘Future Bio’ para clientes em potencial é a rapidez com que eles podem ser preservados após a morte. “Somos a primeira, e atualmente a única, empresa de criogenia a oferecer crioproteção de campo. Isso significa que iniciamos o processo de criopreservação imediatamente após o paciente ser declarado legalmente morto, usando as nossas ambulâncias adaptadas, que funcionam como salas de cirurgia móveis”, referiu Pinheiro.

A velocidade é por isso essencial e, para tal, a ‘Future Bio, emprega uma série de “equipas de prontidão, estabilização e transporte” localizada em Berlim, Amesterdão e Zurique. Após a morte, essas equipas irão resgatar o paciente no momento em que os médicos tiverem permissão legal para libertar o cadáver.

A equipa da ambulância coloca o corpo num banho de gelo enquanto fornece massagens cardíacas e oxigónio para retardar os efeitos da decomposição. Antes mesmo de chegar à unidade de armazenamento de longo prazo, as equipas da ‘Tomorrow Bio’ estão a tentar reduzir a temperatura do corpo para -80°C. Normalmente, se o seu corpo caísse repentinamente a essa temperatura, a água nas células congelaria e iria expandir-se em cristais de gelo, danificando o tecido ao redor.

Para evitar isso, empresas de criogenia como a ‘Tomorrow Bio’ usam um processo chamado crioproteção. “Isso envolve um procedimento cirúrgico em que substituímos os fluidos corporais por agentes crioprotetores — basicamente anticongelante de uso médico — ao mesmo tempo em que reduzimos a temperatura do corpo”, refere Pinheiro – após ser preservado com segurança durante o trajeto, o cliente é então levado para uma unidade de armazenamento de longo prazo na Suíça, de propriedade da organização irmã da empresa, a ‘European Biostasis Foundation’.

Aqui, o cliente é gradualmente arrefecido a -196°C durante um período de 10 dias antes de ser transferido para a sua nova casa – um contentor de aço com 3,2 m de altura, isolado a vácuo, cheio de nitrogénio líquido.

Como esses recipientes não precisam de eletricidade para permanecerem frios, a empresa diz que eles podem ser preservados indefinidamente no futuro, desde que seja adicionado ocasionalmente nitrogénio líquido – em teoria, os pacientes poderão esperar com segurança durante centenas de anos sob os cuidados da empresa até que a tecnologia esteja pronta para eles.

Até agora, cerca de 650 pessoas já se inscreveram para a assinatura de 50 euros mensais para ter uma equipa da SSD de plantão – segundo dados publicados pela empresa em 2023, 149 desses membros moravam na Alemanha, 30 em França e 30 no Reino Unido. A empresa agora tem planos para se expandir ainda mais, levando a cobertura para os Estados Unidos continentais até 2025.

“Muitos clientes estão fascinados pelas possibilidades de tecnologias e experiências futuras, como viagens espaciais. Para alguns, a motivação primária é o medo de morrer. A criopreservação oferece-lhes esperança e uma sensação de segurança, fornecendo um caminho potencial para estender as suas vidas”, indicou Pinheiro, que tem planos para que o seu próprio corpo seja preservado criogenicamente.

“Outros, como eu, simplesmente amam viver e sentem que 80 anos não é tempo suficiente para explorar tudo o que a vida tem a oferecer. A ideia de prolongar a vida e ter mais tempo para alcançar objetivos e sonhos pessoais é incrivelmente atraente”, concluiu Pinheiro.

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