
Os entusiastas, os céticos e os que estão contra: que países da UE podem enviar tropas para a Ucrânia numa missão de paz?
França e Reino Unido são os países mais entusiastas com a ideia de enviar tropas para Ucrânia num possível acordo de paz: no entanto, poucos países parecem estar a bordo.
De acordo com o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, a coligação integraria um grupo de países “prontos para apoiar a Ucrânia com tropas em terra e aviões no ar, trabalhando com outros”. No entanto, o mandato dessas tropas – assim como quantas seriam necessárias – ainda não está claro.
Philippe Perchoc, diretor do IRSEM Europe (Instituto de Pesquisa Estratégica da École Militaire), indicou que esta coligação abre uma lista de perguntas. “Isso significa enviar tropas para o oeste da Ucrânia para libertar soldados ucranianos para irem para a frente? Isso é manutenção da paz? São duas coisas diferentes”, observou Perchoc, citado pela ‘Euronews’. “Neste caso, a manutenção da paz significa tropas posicionadas na frente para evitar combates. São muitas coisas diferentes”, disse.
Segundo os especialistas, seriam necessários vários milhares de soldados para fornecer uma garantia confiável de manutenção da paz. “Digamos um corpo de exército de 50 mil soldados, para enviar uma mensagem clara à Rússia: levamos isso muito a sério”, apontou Sven Biscop, do Instituto Egmont, sediado em Bruxelas.
Mesmo com uma definição clara do conceito, países por toda a Europa expressaram opiniões diferentes sobre se estariam realmente dispostos a colocar tropas na Ucrânia.
Quem está hesitante?
Alguns países europeus parecem concordar com a iniciativa franco-britânica, mas ainda não se manifestaram sobre a ideia de enviar soldados para o solo.
Portugal, por exemplo, garantiu total apoio ao plano que será definido pelo Reino Unido e por França, mas Lisboa considerou que ainda é cedo para considerar o envio de tropas para a Ucrânia como parte de uma operação de manutenção da paz.
O primeiro-ministro holandês, Dick Schoof, declarou que não assumiu qualquer compromisso concreto em nome do seu país, mas também deu garantias de que os Países Baixos se juntariam aos militares franceses e britânicos na elaboração de possíveis soluções.
Espanha também pode embarcar, mas num estágio posterior. O ministro dos Negócios Estrangeiros local, José Manuel Albares, garantiu que o país “não tem problemas” em enviar tropas para o exterior, mas no momento na Ucrânia “o esforço ainda é principalmente político e diplomático”.
O porta-voz do Governo da Irlanda sublinhou que houve uma disposição para discutir o tópico e Dublin irá considerá-lo, embora tenha afirmado que não é o momento certo para fazê-lo. “Ainda não estamos no ponto de falar sobre uma paz negociada, então é prematuro especular em qual contexto as forças de paz seriam realmente mobilizadas”, frisou.
Quem está cético?
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, está entre os líderes mais céticos. “Ainda estou perplexa sobre o uso de tropas europeias. Vejo isso como uma solução que corre o risco de se mostrar muito complicada e provavelmente menos decisiva do que outras”, apontou, sublinhando que “a implantação de tropas italianas nunca esteve na mesa neste estágio”. Para Meloni, a melhor solução é envolver de alguma forma o Artigo 5 da NATO sobre defesa coletiva. No entanto, não está claro como seria possível uma vez que Kiev não é membro da NATO.
Apesar de estar entre os maiores apoiantes da Ucrânia desde a invasão, a Polónia continua firmemente contra o envio de tropas para a Ucrânia. O primeiro-ministro Donald Tusk já garantiu que o país já assumiu um fardo pesado ao aceitar quase dois milhões de refugiados da Ucrânia nas primeiras semanas da guerra.
Varsóvia fornecerá apoio em termos de logística e político, mas, ao que parece, não haverá tropas no local.
Quem está totalmente relutante?
Hungria e Eslováquia foram os países mais críticos ao apoio militar da UE à Ucrânia e os mais favoráveis à abertura de diálogo com a Rússia para pôr fim à guerra.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, acusou os líderes europeus reunidos em Londres de quererem “continuar a guerra em vez de optar pela paz”.
Já o primeiro-ministro eslovaco manifestou reservas quanto à estratégia de “paz pela força”, que considerou “uma justificação para continuar a guerra na Ucrânia”. Portanto, é improvável que os Governos húngaro e eslovaco participem de qualquer iniciativa.
Qual é a posição da Alemanha?
Todos os olhos estão agora voltados para a Alemanha, onde está a ser formado um novo Governo liderado pelo democrata-cristão Friedrich Merz.
O atual chanceler alemão, Olaf Scholz, descartou o envio de tropas alemãs para a Ucrânia, embora o seu ministro da Defesa, Boris Pistorius, tenha sugerido que poderiam ser posicionadas forças de paz numa zona desmilitarizada no caso de um cessar-fogo.
O Parlamento alemão precisa aprovar qualquer mobilização estrangeira do exército nacional (conhecido como Bundeswehr) com antecedência para determinar detalhes – qual seria o papel das tropas, quais outros países estariam envolvidos – explicou o porta-voz de Scholz, Steffen Hebestreit.