Opiniao Nadim Habib: 5 pecados mortais do empreendedor
Artigo em co-autoria de Nadim Habib, Professor da Nova SBE, com Executive Education da Nova SBE
Criar uma empresa é tentador. O elogio ao empreendedor está hoje em dia exacerbado, repleto de histórias de sucesso vindas de Silicon Valley: a empresa de garagem que virou Fortune 500, a start-up vendida por milhões, ou a vida excêntrica de quem virou multimilionário do dia para a noite. Ora, a verdade é que nem tudo se traduz numa campanha de marketing megalómana, e atingir esse estatuto não só é improvável, como implica muito trabalho, muito tempo e muitos erros.
Se (apesar de improvável e trabalhoso) criar o seu próprio projeto ainda está nos seus planos, precisa de garantir que o faz pelo motivo certo. Muitas vezes, avançar pelas razões erradas pode condenar o projeto desde o primeiro dia, arruinando a motivação do fundador e de todos os seus seguidores. Para evitar erros que tantos outros cometeram, vou enumerar 5 pecados mortais que se destacam nas (pouco divulgadas, mas amplamente mais instrutivas) histórias de falência.
- Quero ser o meu chefe, porque vou ter mais liberdade
Infelizmente, quem conhece empresas de sucesso sabe que os primeiros anos (às vezes a primeira década!) requerem um esforço fenomenal de atenção e de detalhe que faz com que tenhamos pouco tempo livre. O nosso chefe passa a ser a nossa equipa, os nossos clientes, o nosso banco, os nossos fornecedores e tudo o que envolve a realidade da nossa empresa. O fim das férias surge, assim, como consequência direta.
- Quero ganhar dinheiro depressa
Qualquer projeto de sucesso precisa normalmente de mais dinheiro do que calculámos, durante mais tempo do que pensámos e com resultados que demoram mais tempo a surgir do que planeámos. Há exceções, e vão sempre existir exceções, mas a realidade é que muitas empresas com potencial de sucesso falham por falta de financiamento e liquidez durante os primeiros anos de vida. Por isso, é fundamental ser muito conservador na gestão financeira durante a génese do projeto. Neste contexto, se o motivo pelo qual está a começar a sua empresa é para ganhar dinheiro depressa, lembre-se que ser empreendedor implica viver com muita frugalidade no início.
- Quero trabalhar com os meus amigos
Na criação de uma empresa, muitos empreendedores contratam as pessoas possíveis e não as pessoas certas. Investem pouco tempo em recrutamento, e ainda menos na análise e na construção de processos de recrutamento que ajudem o projeto a prosperar. O preço é altíssimo e será pago com atenção, controlo e oportunidades perdidas. A realidade é que escolher as pessoas certas é muito provavelmente a segunda coisa mais importante, logo depois de assegurar dinheiro suficiente para a sobrevivência da empresa.
- Sou capaz de contornar os meus valores éticos para salvar a minha empresa
Durante os primeiros anos da vida de uma empresa, vão surgir situações em que somos confrontados com decisões de valor ético e moral duvidoso, porque acreditamos que a sobrevivência do nosso projeto é mais importante do que qualquer outra coisa. A experiência diz-me que estas são as decisões pelas quais mais tarde, vamos pagar muito caro e, por isso, é essencial enraizar os valores e o propósito que levaram à criação da empresa. Manter o nosso código ético irá assegurar que temos sempre as “certezas” necessárias para lutar nos dias difíceis.
- Celebrar o primeiro ano mais do que o nono
Temos todo o direito de celebrar o dia de criação da empresa, desde a escolha do nome e do desenho, do logotipo ao nosso primeiro escritório. Mas lembrem-se que é muito fácil criar empresas: atualmente, leva uma hora. Difícil é, dez anos depois, ver que a empresa ainda existe e está a crescer, com a certeza de que a esperam mais dez anos de vida. Ser um founder é fácil, ser um builder é difícil. Por isso, têm todo o direito de celebrar no início, mas na minha opinião, devem celebrar verdadeiramente só a partir do oitavo ou nono ano de existência.
Lição a retirar
Se vai criar uma empresa para ser o seu próprio chefe e ter liberdade, para ficar muito rico rapidamente, para trabalhar com os seus amigos, para gastar dinheiro como lhe interessar e está disposto a abdicar dos seus valores para manter o seu projeto… é melhor manter o seu emprego, porque criar uma empresa pode não ser para si.
Artigo em co-autoria de Nadim Habib, Professor da Nova SBE, com Executive Education da Nova SBE