
Operação “Fluxo”: Tropas russas passam dias escondidas em gasoduto desativado para surpreender forças ucranianas em Kursk
A Rússia levou a cabo uma operação militar surpresa na região de Kursk, utilizando um gasoduto subterrâneo desativado para infiltrar centenas de soldados e cercar as forças ucranianas. A operação, denominada “Fluxo”, resultou na conquista da zona industrial de Sudzha e na entrada das tropas russas no perímetro urbano da cidade, levando à retirada das unidades ucranianas.
Desde agosto de 2023, as forças russas têm tentado recuperar o controlo da região de Kursk, ocupada por tropas ucranianas em busca de uma vantagem negocial em futuros acordos de paz. Numa jogada estratégica, a Rússia aproveitou um gasoduto subterrâneo desativado, originalmente construído na época soviética para abastecer a Europa, para infiltrar forças especiais na retaguarda das defesas ucranianas.
O gasoduto em questão liga Urengói, na Sibéria, a Úzhgorod, na Ucrânia, e foi desativado pelas autoridades ucranianas, com efeitos a partir de 1 de janeiro. A decisão causou indignação em países como a Eslováquia, fortemente dependente deste fornecimento energético. No entanto, esta infraestrutura acabou por ser utilizada militarmente por Moscovo, numa manobra que apanhou as forças ucranianas de surpresa, apesar de Kiev ter afirmado que tinha informações sobre a preparação do ataque.
Avanço das tropas russas e perda de Sudzha
A partir da manhã de 8 de março, unidades das forças especiais russas percorreram quase 16 quilómetros pelo interior do gasoduto até emergirem na zona industrial de Sudzha, situada na região de Kursk. Segundo o bloguista russo pró-Kremlin Yuri Podoliaka, os soldados permaneceram durante dias no interior da tubagem antes de lançarem o ataque surpresa na retaguarda das forças ucranianas.
A operação teve um impacto imediato. As forças russas tomaram o controlo da zona industrial e, posteriormente, entraram na cidade de Sudzha, onde os combates intensificaram-se. O Estado-Maior ucraniano acabou por reconhecer a perda da cidade, admitindo que as tropas russas utilizaram o gasoduto para a infiltração, embora tenha assegurado que a incursão foi detetada a tempo.
Reação oficial de Moscovo
Apesar de a operação ter sido amplamente discutida por fontes militares russas não oficiais, só durante uma visita de Vladimir Putin a um centro de comando em Kursk, a 13 de março, houve uma menção formal à “Operação Fluxo”. Antes disso, um dos primeiros a divulgar imagens da missão foi o general Apti Alaudínov, comandante do grupo de forças especiais checheno ‘Ajmat’, que publicou fotografias dos soldados dentro do gasoduto, fortemente armados e equipados com lanternas e máscaras de gás.
“Me surpreende a coragem daqueles que realmente acreditam que a Rússia pode perder… Hoje é um grande dia”, escreveu Alaudínov no seu canal de Telegram.
Segundo o jornal russo ‘Lenta.ru’, mais de 600 militares russos participaram na operação, pertencentes ao batalhão ‘Ajmat’, à 11.ª Brigada Aerotransportada e ao 30.º Regimento. De acordo com o relatório apresentado ao presidente Putin pelo chefe do Estado-Maior, Valeri Guerásimov, o objetivo da missão era cercar as forças ucranianas em Kursk e obrigá-las a uma retirada.
A cidade de Sudzha, que tem cerca de 5.000 habitantes, possui infraestruturas energéticas estratégicas, agora paralisadas. A conquista da cidade representa uma vitória simbólica e táctica para Moscovo, que pretende continuar a pressionar a Ucrânia para recuperar o controlo da região. Resta saber como Kiev responderá a esta surpreendente incursão russa e quais serão os próximos passos no conflito, que já dura há três anos.