Onde temos de apostar para Portugal crescer? Esta é a visão dos especialistas e líderes empresariais
António Casanova, CEO da Univeler FIMA / Gallo WW, Isabel Vaz, CEO da Luz Saúde, João Epifânio, Administrador e CMO da Altice Portugal, e Pedro Oliveira, Dean da Nova SBE, debruçaram-se sobre onde temos mesmo de apostar para crescermos.
O que nos falta? Porque nos falta? Em que devemos apostar?
No que respeita à internacionalização, António Casanova, sublinha que a empresa que lidera é a quarta maior marca mundial de azeite e a maior exportadora para o Brasil. “Estamos também a fazer um esforço para nos fixarmos na Polónia, Colômbia e México”, adianta.
“São caminhos compridos, caros, que carecem de companhias com alguma resiliência para os momentos maus. Poderia dizer que era um caminho fácil para todas as empresas, mas não é”, sublinha.
Já na área da saúde, Isabel Vaz sublinhou a importância deste setor na economia. Na Europa, a má condição de saúde custa 15% do PIB, esclarece.
Portugal tem uma situação muito especifica, por um lado tem uma população profundamente envelhecida, por outro estamos a perder a população jovem e o seu talento é exportado para outros países. “Neste momento há falta de 1 milhão de profissionais de saúde na Europa”, esclarece, sublinhando a importância de fixar talento neste setor.
Na área da transformação digital, João Epifânio acredita que temos coisas positivas que nos podem impulsionar a fazer melhor do que no passado, e que as bases da transformação digital existem.
“Estas autoestradas existem por investimento totalmente privado, o Estado nada fez para promover a transição digital ao nível das infraestruturas. Pelo contrário, no leilão do 5G fomos dos últimos países”, destaca.
O administrador da Altice sublinha ainda que temos estabilidade financeira no país, temos o mais baixo nível de endividamento das famílias e empresas de que há memória, pela segunda vez em 50 anos um excedente orçamental, um crescimento de exportações que atinge 50% do PIB nacional, “é fantástico o que as empresas têm feito”. Ainda temos um valor substancial do PRR para a transição digital e a geração mais preparada de sempre.
No entanto, “se não há estratégia para as empresas, não há estratégia para o país”, sublinha.
Continuando a analisar o “copo meio cheio”, o Dean da Nova SBE sublinha que uma das coisas que Portugal tem de bom são as escolas de economia e gestão. “Temos em Portugal universidades excelentes”.
“Portugal é hoje um destino escolhido para estudar”, sublinha Pedro Oliveira, acrescentando que se tivermos em Portugal “massa cinzenta”, isso vai reverter a trajetória dos fluxos de alunos.
E qual o rumo?
O CEO da Univeler FIMA / Gallo WW considera que é “melhor ter menos intervenção do Estado do que melhorar a eficiência do Estado”, sublinhando que o papel de autorregulação das empresas tem tido uma importância fundamental no desenvolvimento.
“Progredimos por autorregulação e porque muitas grandes empresas veem a necessidade de ter uma sociedade boa para viver, é uma questão de valor social”, destaca, sublinhando que “Portugal tem grandes empresas a funcionar muito bem, e a maior parte delas estão muito longe do Estado”.
Para Isabel Vaz, um dos maiores problemas da saúde em Portugal é que 50% da população portuguesa paga uma dupla cobertura para ir ao setor privado, o que se traduz em 4,2% do PIB. “É evidente que uma dupla cobertura não é economicamente eficaz”.
A CEO da Luz Saúde esclarece que as Parcerias Público-privadas (PPP) foram criadas numa lógica de envolver os privados numa lógica organizativa do SNS, e que uma das mais-valias que estes trouxeram foi a eficiência dinâmica. E porque terminaram? “Terminaram porque foi uma exigência ideológica”.
“Não estou otimista porque continuo a achar que em Portugal somos pouco pragmáticos e não discutimos os problemas fundamentais”, refere.
Pedro Oliveira partilha da mesma opinião: “O grande problema que temos em Portugal é que não nos conseguimos sentar à mesa para discutir os problemas, estamos muito polarizados”, dando o exemplo que a Nova SBE nasceu porque várias empresas, especialistas, câmara municipais se sentaram à mesa para criar uma escola de economia e gestão de referência.
“Quando nos sentamos à mesa, retiramos as diferenças ideológicas e nos concentramos no fundamental, o resultado é positivo”, acrescenta.
Por fim, João Epifânio acredita que “temos os instrumentos para alargar a nossa passada tecnológica e alargar o nosso crescimento neste setor. A IA é igual a mais produtividade, e aplicável a vários setores de atividade. Todos beneficiamos com o seu desenvolvimento”, sublinha, acrescentando que é preciso investir mais em I&D, no entanto, até ao momento, mais de 60% do investimento é realizado por privados.