“O que estamos a viver é efetivamente a quarta revolução industrial”. Especialistas analisam a reindustrialização e o papel da IA

João Epifânio, Administrador da MEO/Altice, Luís Bastos, Digital Industries Country Head da Siemens e Ricardo Gonçalves, Head of Center for Artificial Intelligence and Analytics da Fidelidade, juntaram-se no palco da Culturgest para debater “A necessária reindustrialização em Portugal e o papel e impacto da IA/Tecnologia nos diversos setores da atividade”.

“O que estamos a viver é efetivamente a quarta revolução industrial, que se potenciou no pós-Covid”, começa por referir João Epifânio, sublinhando que, em comparação com as anteriores, que ocuparam um grande período temporal, temos atualmente um fator de compressão de tempo que não podemos ignorar, que carrega um fardo de urgência para o “fazer”.

O especialista considera que há empresas que já convivem com a tecnologia, como as telcos ou o setor da banca, onde já contam com processos naturais incorporados na atividade da empresa, no entanto, verifica uma “assimetria brutal na nossa economia”. “As micro e pequenas empresas não têm capacidade e possibilidade de aceder às tecnologias”, destaca.

Luís Bastos sublinha, no entanto, que Portugal tem, neste momento, uma centralidade que não tinha no passado, recursos, e a geração mais competente de sempre. “O que as empresas necessitam é de alguma estabilidade em termos fiscais, de simplificação de políticas fiscais e laborais”.

Explica que a siemens acompanhou as várias revoluções industriais em Portugal, e atualmente tem conseguido captar para o país vários centros de competências nas áreas core de transição digital para tornar as empresas mais ágeis e competitivas. Mas tal como a Siemens, outras empresas multinacionais.

Como exemplo, contam com 63 nacionalidades no campus de Alfragide que vêm de todo o mundo para Portugal para potenciar a competitividade na indústria, infraestruturas e mobilidade.

Já Ricardo Gonçalves dá o exemplo da Fidelidade que está a colocar a IA ao serviço da organização e do cliente, sublinhando que é importante que sejam rápidos e que os processos sejam simples e agradáveis par os cliente

Dá como exemplo da abertura de um processo de sinistros automóvel, onde a IA recolhe toda a informação necessária de uma Declaração Amigável para abrir o sinistro. O tempo de execução do processo era de 24 horas, a partir do momento em que se colocaram os processos de IA, o tempo médio passou para 5 minutos.

A Fidelidade tem trabalhado muito com a leitura automática de documentos para ler de forma assertiva e rápida de documentos, entre outros, como a leitura automática de veículos e a IA Generativa.

 

DE PORTUGAL PARA O MUNDO

O Administrador da MEO/Altice relembra: “A tecnologia é barata depois de produzir resultados, antes exige investimento”, acrescentando que a maior parte das empresas não tem conhecimento nem suporte de financiamento para essa transição.

A Altice Portugal, a Siemens ou a Fidelidade são das maiores empresas do nosso país, que têm a capacidade e os recursos técnicos e competências robustos para estarem disponíveis a incorporar esse tipo de tecnologias, considera.

João Epifânio dá outro exemplo, o hub tecnológico da MEO/Altice em Portugal, em Aveiro, que exporta produtos e serviços para mais de 50 países, o que demonstra a capacidade e qualidade da engenharia portuguesa. Mas temos um défice progressivo,

No entanto, considera, “é preciso estímulo para os jovens apostarem em profissões do futuro”: “Entre 2017 e agora, um bom recurso com dois anos de trabalho na área das TIC ganha o triplo, mas não temos políticas e estímulos para que os jovens possam fazer uma carreira em que as necessidades do país e do mundo são tremendas”.

E como transmitir este espírito de inovação para as outras empresas? Luís Bastos também exemplifica que na Siemens desenvolvem um ecossistema de empresas que trabalham em conjunto, tendo uma plataforma onde integram os parceiros, sejam developers, de IT, para que possam ter escala globalmente e ter uma visibilidade que não teriam.

Já Ricardo Gonçalves, questionado sobre a resistência à utilização da IA e outras tecnologias, considera que “a IA ainda é um investimento intensivo. O talento é cada vez mais dispendioso, e é preciso as pessoas certas para o desenvolver, e só as grandes empresas têm a capacidade de os recrutar”.~

O especialista sublinha como principais entraves os programas de PRR relacionados com IA que são muito curtos, e ainda o facto de, em Portugal e na Europa, continuarmos numa atitude muito reativa. “Está na altura de pensarmos numa forma de criarmos uma equipa multidisciplinar para trabalhar este tema”.

 

O QUE FALTA FAZER?

João Epifânio explica que temos atualmente a terceira melhor rede de telecomunicações da Europa, sublinhando a importância da conectividade e da alta velocidade. “As infraestruturas são a base e o garante para construir a diferenciação”, considera, destacando que estas podem ser a solução para resolver o grande problema da economia nacional, que é a produtividade, que é o que promove o desenvolvimento da riqueza e das empresas no nosso país.

Luís Bastos destaca também que “a transição digital é a chave, temos de dar apoio às empresas nesse sentido”, sublinhando a importância de uma reforma da política fiscal e que os decisores oiçam as empresas antes de tomarem as decisões.

Por fim, Ricardo Gonçalves desta que “a IA é uma zona onde o investimento é em talento, não precisamos de maquinaria”, e que “temos muito boas condições para atrair talento, mas está em falta uma estratégia.

O palco da Culturgest recebeu a XXVI Conferência Executive Digest, o evento de referência que juntou em palco Presidentes, CEOs e gestores de topo do tecido empresarial nacional para debater o tema “As profundas alterações – e os seus impactos na Economia, Empresa, Sociedade”.

A XXVI Conferência Executive Digest conta com o apoio da Caixa Geral de Depósitos, Delta Q, Fidelidade, Jaba Recordati, MC, MEO Empresas, Randstad, Tabaqueira, e ainda com a parceria da Capital MC, Neurónio Criativo e Sapo.