
O que causou o terramoto em Marrocos? Geólogo explica características da zona e o que esperar no futuro
O epicentro do terramoto devastador que atingiu Marrocos na passada sexta-feira foi nas montanhas do Alto Atlas, a cerca de 71 quilómetros a sudoeste de Marraquexe.
Jesús Galindo-Zaldivar, professor de Geodinâmica, Universidade de Granada, em Espanha, e que tem realizado pesquisas sobre a formação das montanhas do Atlas e a geologia da região, traçou, em artigo no site ‘The Conversation’, os fatores que levaram a esta situação.
“As Montanhas Atlas são uma cordilheira fascinante no noroeste da África, abrangendo Marrocos, Argélia e Tunísia. Estão situadas ao sul do limite principal das placas tectónicas da Eurásia e da África (Núbia). Esta área normalmente não sofre muitos terramotos em comparação com outros locais próximos às placas tectónicas, onde os movimentos das placas causarão intensa atividade sísmica. Mas em 1960 o terramoto de Agadir causou muitos danos e perdas de vidas”, lembrou o especialista.
As Montanhas Atlas estão numa posição “limite da fronteira de uma placa continental”, frisou Galindo-Zaldivar, que, “através da pesquisa geológica de campo”, puderam ser detetadas e analisadas falhas – fraturas ou fissuras na crosta terrestre ao longo das quais houve movimento. Estes movimentos, garantiu, “podem ser horizontais, verticais ou diagonais e ocorrem devido às imensas forças que atuam nas placas tectónicas da Terra”.
As investigações de uma equipa de especialistas – geólogos, geofísicos e geodesistas de diversas universidades marroquinas e instituições espanholas – mostraram que as Montanhas Atlas formaram-se durante a dissolução do supercontinente Pangeia. “É agora uma cordilheira em ascensão ativa, como evidenciado pelos seus altos picos e encostas íngremes. As encostas íngremes das montanhas e as linhas retas onde a crosta terrestre se rompeu sugerem que houve movimento recente na Terra debaixo desta área”, considerou, revelando que “é surpreendente que não haja mais terramotos aqui”.
“As Montanhas Atlas estão a ser comprimidas a uma taxa de cerca de 1 milímetro por ano. Isto porque as placas euroasiática e africana estão a aproximar-se uma da outra. O terremoto catastrófico ocorreu ao norte das montanhas ocidentais do Atlas, ao sul de Marraquexe. De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Geofísica de Marrocos e do Serviço Geológico dos EUA, a profundidade está entre 8 e 26 km”, referiu.
O terramoto “resultou de um fenómeno geológico denominado ‘falha reversa’, que ocorre quando as placas tectónicas colidem e causam o espessamento da crosta terrestre. A tensão ao longo dessas falhas geológicas pode induzir terramotos à medida que as rochas se deslocam abruptamente para libertar a tensão acumulada, o que é característico de uma falha sísmica”.
Então, sendo uma zona de aproximação de placas tectónicas, porque não há mais terramotos na área? “Os terramotos acontecem quando há uma mudança repentina nas rochas ao longo de uma falha geológica, causada pela libertação de energia armazenada que se vem acumulando ao longo do tempo”, explicou Galindo-Zaldivar. “Nesta região, não houve nenhum grande terramoto registado antes, o que sugere que a tensão das placas que se juntam vem-se acumulando nas profundezas do subsolo há muito tempo. Quando o stress foi demais para a falha suportar, causou um terramoto.”
“Neste cinturão de montanhas, as falhas podem não produzir terramotos com muita frequência. Após o terramoto, as rochas na área moveram-se e ajustaram-se, mas outras falhas próximas podem agora estar sob tensão extra, e podem produzir terramotos mais pequenos, conhecidos como tremores secundários, que podem continuar durante meses ou mesmo anos”, apontou.
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