
O Paradoxo de Jevons: Como é que um conceito económico com 160 anos se pode aplicar ao fenómeno DeepSeek?
Nas últimas semanas, uma notícia causou grande impacto no mercado tecnológico: uma empresa chinesa de Inteligência Artificial, a DeepSeek, revelou ter desenvolvido um chatbot de ponta por um custo significativamente mais baixo do que os concorrentes americanos, provocando uma queda nos preços das ações de grandes nomes como Microsoft.
No entanto, o CEO da gigante americana, Satya Nadella, trouxe uma perspetiva otimista sobre a situação ao invocar um conceito económico de 160 anos – o paradoxo de Jevons.
Numa publicação nas redes sociais, Nadella explicou que, à medida que a IA se torna mais eficiente e acessível, a sua utilização vai disparar, transformando-se numa mercadoria de enorme procura. O paradoxo de Jevons, citado por Nadella, argumenta que, mesmo com a crescente concorrência e a redução de preços, a eficiência tecnológica acaba por gerar maior procura por determinado produto ou serviço, o que pode levar a um aumento no consumo e até criar novas oportunidades de negócios, destaca o ‘NPR’.
O paradoxo de Jevons foi introduzido pelo economista britânico William Stanley Jevons em 1865. Ao estudar o carvão, combustível essencial para a Revolução Industrial, Jevons observou que, ao melhorar a eficiência das máquinas a carvão, o custo de operação diminuía, mas isso acabava por gerar mais procura, o que, paradoxalmente, aumentava o consumo do recurso. Em vez de reduzir o uso de carvão, a maior eficiência incentivava o crescimento de novas indústrias e máquinas movidas a carvão.
Esse conceito tem sido uma referência no estudo de como tecnologias mais eficientes podem, em última análise, levar ao aumento do consumo, como em exemplos de mercado de energia, transporte e até no aumento do uso de aparelhos de refrigeração.
Com a crescente sofisticação da Inteligência Artificial e a redução de custos para o seu desenvolvimento, muitos especialistas, incluindo Nadella, acreditam que a IA pode passar por um efeito semelhante ao observado com o carvão no século XIX. Quanto mais eficiente e acessível a tecnologia se tornar, mais empresas e setores terão interesse em adotá-la, o que poderá criar novos mercados e até aumentar a procura por profissionais em áreas específicas, como programação e tradução, onde a IA já está ganhando terreno.
Embora o conceito de Jevons forneça uma visão otimista sobre o impacto da IA no emprego, ele também apresenta desafios. A adoção massiva de IA pode resultar em maior automação, o que pode reduzir a necessidade de trabalho humano em algumas áreas. No entanto, especialistas como Erik Brynjolfsson, economista da Universidade de Stanford, acreditam que, historicamente, as inovações tecnológicas tendem a criar novas indústrias e novas formas de trabalho, apesar dos períodos iniciais de adaptação e perdas em determinados setores.