Do outro lado do espelho de Alexandre Relvas Jr., co-CEO da Casa Relvas
Alexandre Relvas Jr. é co-CEO da Casa Relvas em conjunto com o seu irmão António e com o qual partilha uma outra paixão: os cavalos. O responsável tem a seu cargo o departamento comercial e internacional da empresa, que exporta para 30 países. Além dos vinhos, premiados com mais de 500 medalhas obtidas em concursos internacionais, a Casa Relvas comercializa azeites, tem áreas de montado nas várias herdades que possui e está no setor do enoturismo. Todas estas atividades não impedem que Alexandre Relvas Jr., 41 anos, participe ativamente no campeonato português de saltos. Mais do que um hobby, é uma paixão eque, tal como a co-liderança da Casa Relvas, partilha com o irmão. À Executive Digest conta como o desporto e os cavalos, influenciam a forma como encara a vida empresarial e a vida pessoal – quer na resiliência quer na gestão de pessoas.
Como começou a sua ligação ao mundo dos cavalos?
Nem me lembro muito bem porque a ligação vem desde sempre. Tenho a ideia de existirem cavalos na casa da minha mãe e de existir um primo que montava…mas os cavalos sempre me suscitaram grande interesse, tanto a mim como ao meu irmão [António Relvas] que é co-CEO da Casa Relvas. E esse interesse transformou-se numa paixão e num hobby que ambos desempenhamos quase de forma profissional. Aprendi a montar e depois fiz a minha primeira prova com cerca de 12 anos, numa situação algo caricata…
Qual foi ?
Na altura ainda não me deixavam saltar. Durante as férias da escola, passávamos muito tempo na Sociedade Hípica Portuguesa, que à época era um clube bastante fechado aos sócios. Estávamos lá grande parte do dia, bastante à solta, diga-se, e, portanto, foi uma juventude engraçada. E numa prova de Carnaval inscrevi-me à revelia e consegui entrar nessa prova sem autorização do professor, dos pais, etc., foi um ato de rebeldia! E lembro-me perfeitamente disso. Tinha um cavalo fantástico, o Faneca, e ganhei essa prova.
Isso motivou-o a continuar.
Sim. É um desporto muito mental no qual mesmo o melhor do mundo perde muito mais vezes do que ganha. Se pensarmos que todos os fins de semana há um grande prémio e os melhores perdem muito… É também um desporto de enorme concentração. Dependendo do tipo de prova, temos de estar sempre muito concentrados com milhares de micro decisões que não podemos falhar. E não depende só de nós, mas também de um ser vivo que nesse dia pode estar a sentir-se melhor ou pior e que tem de confiar no seu cavaleiro. Tudo isto é um trabalho que vai sendo feito ao longo do tempo. A preparação de um concurso importante passa por várias etapas: da preparação física à técnica, para que o cavalo chegue a um pico de forma física.
Existiu alguma altura em que ponderou seguir uma vida profissional ligada aos cavalos ou sempre encarou como algo paralelo ao negócio de família?
Acho que faz parte da infância, de qualquer miúdo, criança ou adolescente que compita, existir sempre a ambição de ser cavaleiro profissional e de nos podermos equiparar aos melhores do mundo. E eu também sonhei. Mas rapidamente na família me desimaginaram e explicaram-me por A mais B porque seria muito difícil seguir essa vida. E foi uma decisão acertada. Hoje, tanto eu como o meu irmão António seguimos o negócio da família, mas conseguimos os dois continuar a montar a um nível muito bom. E continuamos a competir com os profissionais, não só de Portugal mas do mundo. Logicamente uma parte importante nosso tempo livre é dedicado aos cavalos. Ou seja, não somos profissionais porque não vivemos da atividade, mas em termos das horas que praticamos, faz-nos estar muito perto do nível profissional.
Em média, em quantos concursos participa num ano, e quanto tempo demora a preparar cada um deles?
Participamos em cerca de vinte concursos por ano. Existem sempre uma série de situações: um cavaleiro tem um grupo de cavalos, maior ou mais pequeno, dependendo da missão, da possibilidade, do tempo, etc. E esse grupo de cavalos tem objetivos muito diferentes. No meu caso, neste momento, tenho quatro cavalos. Dois cavalos jovens, que são, se quiserem e comparando com outros desportos, promessas e que têm um calendário muito próprio, ou seja saltam menos. E tenho mais dois cavalos que estão num nível superior, uma égua com oito anos, criada por nós, e que já está a fazer algumas provas internacionais, e o meu cavalo mais cúmplice, com quem eu salto nos grandes prémios e no campeonato de Portugal. E para ele há um plano muito próprio para chegar a dois, três eventos no ano em pico de forma. Tanto ele como eu.
Como é que se prepara para estar em forma para as competições?
O mental é importantíssimo, e para isso acontecer temos de estar bem connosco, com o nosso trabalho e com a nossa família. A força mental é uma das características deste desporto e uma das razões pelas quais os atletas o fazem até tão tarde.Sinto-me muito mais maduro e muito mais concentrado hoje do que quando tinha 20 anos. No que respeita à forma física, como trabalho com vinhos e com a restauração tenho algumas regras para evitar o excesso de peso. Já em termos de elasticidade e flexibilidade trabalho um bocado de Pilates, duas a três vezes por semana o que me dá apoio. Viajo bastante em trabalho, porque tenho a meu cargo a parte comercial e de exportação da Casa Relvas, mas quando estou em Portugal tento montar todos os dias pelo menos dois cavalos.
Dessa sua paixão pelos saltos há algo que é transportado para o dia a dia na gestão da Casa Relvas?
Primeiro, eu e o meu irmão temos uma proximidade enorme dos anos que saltarmos e isso, sem dúvida, facilita imensamente a nossa relação no trabalho. Depois para a vida transporto o facto de falharmos muitas vezes mas temos de andar para a frente novamente. Se um grande prémio correr mal, temos de pensar que o próximo irá correr melhor. Isso acontece com os melhores do mundo, e não só com cavaleiros do meu nível. Uma coisa que os saltos nos ensinam é que nada se ganha à força. O animal tem sempre muito mais força do que nós. Portanto, temos de ter uma estratégia, pensamento e sangue frio e fazer as coisas de forma hábil, inteligente e sem ser à força. E isso é uma aprendizagem, principalmente na gestão de equipas e de pessoas na empresa, que são o seu maior ativo.
A Casa Relvas está de alguma forma ligada ao vosso desporto? Apoia ou patrocina?
A Casa Relvas tem uma parte de pecuária nas quais também se produz ovelhas e cria cavalos, portanto acaba por estar ligada porque parte dos cavalos montados por nós são criados pela Casa Relvas. Já em termos institucionais, apoia algumas causas localmente, e como não existe nenhuma associação ou concursos aqui na zona de Évora, apoiamos sim o Clube de Rugby de Évora e instituições mais ligadas à caridade, como o Banco Alimentar.
Esta paixão pelos cavalos vai passar para a próxima geração dos Relvas?
É uma questão que me fazem recorrentemente. Teria o maior gosto que os meus filhos montassem, mas não escondo que é algo que me deixa angustiado porque é um desporto perigoso. Os meus filhos montam os dois e um deles já fez algumas competições, mas ainda só tem nove anos, portanto participa de uma forma muito tranquila. Se eles quiserem continuar, gostava de lhes poder dar as condições para tal. E gostava que eles tivessem o desporto como um componente importante na vida deles. Competindo ou não, o desporto tem sempre algo que nos ajuda muito para a vida. Ajuda-nos a descomprimir e a ter uma vida social um pouco fora do sítio onde nos sentimos mais confortáveis. Portanto, faço-lhes alguma pressão para praticarem desporto.
E há mais algum hobby que compita com o gosto pelos cavalos?
Há muita coisa que eu gosto de fazer. Adoro andar de moto. Atualmente não faço competições, fiz algumas competições, mas foram a brincar. Adoro fazer viagens de moto e só não viajo mais porque os cavalos ocupam uma parte grande do meu tempo livre.