Novo míssil “Oreshnik” de Putin veio mudar as regras do ‘jogo’ da guerra nuclear? O que dizem os especialistas

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, revelou recentemente o míssil balístico hipersónico de alcance intermédio “Oreshnik” (avelaneira em reusso), despertando questões sobre o impacto desta nova arma no panorama da guerra nuclear. A primeira utilização conhecida do “Oreshnik” ocorreu em novembro, num ataque a uma fábrica de defesa na cidade ucraniana de Dnipro, e veio marcar uma mudança no conflito na Ucrânia, mas também na possível escalada nuclear na guerra.

Segundo a inteligência militar ucraniana, o míssil transporta seis ogivas, cada uma equipada com seis submunições. Esta arma hipersónica é uma variante do míssil balístico RS-26 “Rubezh” e incorpora componentes do míssil Bulava, desenvolvido na década de 1990. Capaz de alcançar velocidades de Mach 10, e até Mach 11, segundo autoridades ucranianas, o “Oreshnik” combina manobrabilidade em voo com precisão, permitindo ataques devastadores numa vasta área geográfica.

O “Oreshnik” opera como um veículo de reentrada com alvos independentes (MIRV), podendo atingir múltiplos locais específicos numa única missão. Classificado como míssil de alcance intermédio, não está abrangido pelas limitações do Tratado New START, que regula os mísseis balísticos intercontinentais.

Revisão da doutrina nuclear russa
No contexto do conflito com a Ucrânia, Putin atualizou a doutrina nuclear russa em novembro, introduzindo disposições que justificam retaliação nuclear contra ataques não nucleares a território russo, caso realizados com o apoio de uma nação nuclear. Esta mudança foi interpretada como uma resposta à autorização dada pelo Presidente dos EUA, Joe Biden, para que a Ucrânia utilizasse armas ocidentais de longo alcance em ataques profundos ao território russo.

Putin defendeu que armas como o “Oreshnik” podem tornar os armamentos nucleares obsoletos. “Se analisarmos atentamente, um número suficiente destes sistemas avançados elimina a necessidade de armas nucleares”, afirmou, citado pela agência Tass.

Uma nova dinâmica na guerra ou mera intimidação?
Apesar da inovação tecnológica, analistas sugerem que o impacto estratégico do “Oreshnik” pode ser limitado. Sabrina Singh, porta-voz adjunta do Pentágono, declarou que o míssil “não mudará as regras do jogo no campo de batalha”, classificando-o como “mais uma tentativa de infligir danos e causar baixas na Ucrânia.”

John Erath, diretor de políticas do Center for Arms Control and Proliferation, afirma à Newsweek que o uso do “Oreshnik” é “claramente uma ameaça nuclear”, uma vez que a sua carga útil só é conhecida no momento do impacto. No entanto, Erath vê a atualização da doutrina nuclear russa como um “tacticismo de intimidação” e sublinha que a essência da estratégia russa permanece inalterada: pressionar os aliados da Ucrânia a desistirem do apoio militar ao país.

Especialistas como Sidharth Kaushal e Matthew Savill, do Royal United Services Institute (RUSI), partilham uma visão semelhante. Num artigo, destacaram que o uso do “Oreshnik” reflete a abordagem russa de combinar ataques com drones e mísseis balísticos e de cruzeiro, especialmente com a chegada do inverno. “Embora significativo taticamente, o ‘Oreshnik’ não altera substancialmente os cálculos estratégicos de ambas as partes.”

Fontes ucranianas estimam que a Rússia possa produzir até 300 mísseis “Oreshnik” por ano, mas especialistas, como Andrii Kovalenko, do Centro de Combate à Desinformação da Ucrânia, consideram estes números exagerados. Kovalenko afirmou no Telegram que as sanções internacionais têm reduzido drasticamente a capacidade da Rússia de fabricar mísseis tecnologicamente avançados. Ele descreveu as alegações de produção em massa como “propaganda deliberada” destinada a semear o medo nos países ocidentais.

Embora o uso do “Oreshnik” introduza novos desafios, a situação ainda preserva algumas normas internacionais. Analistas notam que a Rússia continua a notificar os EUA antes de lançamentos, mantendo parte das práticas de estabilidade estratégica. No entanto, a escalada contínua e a utilização de armas avançadas intensificam a pressão sobre as linhas vermelhas no conflito.

Se o “Oreshnik” representa uma mudança fundamental ou apenas mais um elemento da estratégia russa de dissuasão, o tempo dirá. Para já, o seu impacto parece ser mais simbólico do que transformador no cenário global.