Netanyahu reúne-se hoje com Trump para discutir cessar-fogo com o Hamas

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, chegou esta ontem aos Estados Unidos para uma reunião com o Presidente norte-americano, Donald Trump. O encontro, marcado para hoje, é visto como determinante para a segunda fase do acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas. Netanyahu optou por adiar o envio da sua equipa de negociações para o Qatar até depois da reunião com Trump, sublinhando a importância da coordenação com Washington antes de avançar para novos entendimentos.

Antes de embarcar para os Estados Unidos, Netanyahu afirmou que as decisões tomadas por Israel durante a guerra já mudaram a dinâmica do Médio Oriente e que a cooperação com Trump pode reforçar ainda mais essa transformação.

“As decisões que tomámos durante a guerra já mudaram a face do Médio Oriente”, declarou o primeiro-ministro israelita no aeroporto, citado pela Reuters. “As nossas decisões e a coragem dos nossos soldados redesenharam o mapa. Mas acredito que trabalhar de forma próxima com o Presidente Trump pode redesenhá-las ainda mais e para o melhor.”

A visita de Netanyahu é particularmente simbólica, uma vez que é o primeiro líder estrangeiro a encontrar-se com Trump desde a sua tomada de posse, a 20 de janeiro. O objetivo do encontro passa por fortalecer as relações entre Israel e os Estados Unidos, que se deterioraram durante a Administração Biden. Trump, que criticou publicamente Netanyahu por prolongar a guerra, agora parece disposto a reforçar a aliança com o primeiro-ministro israelita.

A reunião ocorre num momento crucial para as negociações entre Israel e o Hamas. A segunda fase do cessar-fogo deveria ter começado esta segunda-feira, mas o governo israelita optou por aguardar pelo encontro com Trump antes de avançar com as negociações, que têm sido mediadas pelo Qatar e pelo Egito.

Antes do encontro na Casa Branca, Netanyahu deverá reunir-se com Steve Witkoff, enviado especial dos EUA para o Médio Oriente, para discutir os detalhes da segunda fase do acordo. Segundo o gabinete do primeiro-ministro israelita, Witkoff manterá conversações com o primeiro-ministro do Qatar e autoridades egípcias, que desempenham um papel central na mediação do conflito, antes de voltar a contactar Netanyahu sobre o envio da delegação israelita para as negociações.

Apesar da expectativa em torno do cessar-fogo, a imprensa israelita reporta que Netanyahu cancelou uma reunião com o chefe da Mossad, David Barnea, e outros negociadores, ponderando substituir Barnea pelo ministro dos Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, devido à sua abordagem mais diplomática do que securitária.

Qatar pressiona para avanço das negociações
O primeiro-ministro do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, apelou a ambas as partes para iniciarem as negociações “imediatamente”. Num comunicado citado pela Reuters, afirmou que “ainda não é claro” onde e quando as negociações terão lugar, mas espera “ver algum movimento nos próximos dias”.

O Qatar tem desempenhado um papel fundamental na mediação entre Israel e o Hamas, tentando garantir a libertação de reféns israelitas e prisioneiros palestinianos como parte do acordo de tréguas. No sábado, três reféns israelitas foram libertados pelo Hamas, enquanto Israel libertou 183 prisioneiros palestinianos. Desde o início da trégua, foram libertados um total de 18 reféns, incluindo cinco trabalhadores agrícolas tailandeses. O plano inicial previa a libertação de 33 reféns nas primeiras seis semanas, em troca de quase dois mil prisioneiros palestinianos.

Apesar das exigências internacionais para avançar com o cessar-fogo, Netanyahu enfrenta forte pressão dentro do seu próprio governo. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, da ala mais à direita da coligação governamental, ameaçou derrubar o executivo caso Israel não retome os combates na Faixa de Gaza após a primeira fase do acordo.

As posições dentro do governo israelita estão divididas. Em junho de 2024, numa entrevista ao Channel 14, Netanyahu afirmou que estava apenas disponível para implementar a fase humanitária do acordo, sugerindo que poderia não avançar para a fase seguinte, que incluiria a libertação de mais reféns, incluindo soldados e homens com menos de 50 anos, bem como uma possível retirada de Israel da Faixa de Gaza.

A reunião entre Trump e Netanyahu acontece num contexto de declarações polémicas do Presidente norte-americano. Trump sugeriu recentemente que os palestinianos da Faixa de Gaza deveriam ser transferidos para o Egito e a Jordânia, afirmando que a região era uma “zona de demolição” e que precisava de ser “limpa”.

“Gostaria que [o Presidente egípcio, Abdel-Fattah el-Sisi] acolhesse alguns [palestinianos]. Já os ajudámos muito, e tenho a certeza de que ele nos ajudaria. Está numa zona dura. Mas acho que ele acabaria por o fazer, e penso que o rei da Jordânia também”, afirmou Trump, citado pela imprensa norte-americana.

A proposta gerou fortes críticas no mundo árabe, que rejeita qualquer deslocação forçada da população palestiniana.

Apesar do encontro desta terça-feira simbolizar um realinhamento diplomático entre os dois líderes, a relação entre Trump e Netanyahu nem sempre foi fácil. O antigo Presidente dos EUA ressentiu-se do facto de Netanyahu ter felicitado Joe Biden pela vitória nas eleições de 2020, o que causou um distanciamento entre ambos.

Ainda assim, Trump continua a ser um dos principais aliados de Israel. Durante o seu primeiro mandato, reconheceu Jerusalém como a capital de Israel, transferiu a embaixada dos EUA de Telavive para Jerusalém e patrocinou os Acordos de Abraão, que resultaram na normalização das relações entre Israel e países árabes como os Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão.

O encontro de hoje pode ser decisivo para o futuro do cessar-fogo e para a estratégia israelita em Gaza, num momento em que Netanyahu enfrenta pressões internas e externas para definir o rumo da guerra e das negociações.