
Navio fantasma descarrega dois milhões de barris de petróleo iraniano na China e desafia sanções dos EUA
Um navio petroleiro sancionado, com identidade e bandeira falsas, descarregou recentemente cerca de dois milhões de barris de petróleo iraniano num porto estatal da China, desafiando sanções impostas pelos EUA e contrariando diretrizes do próprio governo chinês. A operação evidencia as limitações práticas das sanções internacionais e reforça os laços energéticos entre Teerão e Pequim.
O navio em causa, identificado como Global, é na verdade o Gather View, um chamado “navio fantasma” que assumiu a identidade de uma embarcação desmantelada para escapar à vigilância internacional. Segundo a agência Bloomberg, trata-se da primeira vez que um navio sancionado descarrega petróleo num porto público da província chinesa de Shandong desde que esta emitiu, em janeiro, uma proibição explícita à entrada dessas embarcações.
A operação clandestina revela não só a capacidade do Irão em contornar bloqueios internacionais, mas também a disposição da China em manter o fornecimento de petróleo barato — uma necessidade crítica para as refinarias independentes do país, conhecidas como bules, que operam com margens de lucro extremamente apertadas.
Analistas sublinham que o Irão, com uma produção de cerca de 3,3 milhões de barris por dia, e a China, com uma procura superior a 11 milhões de barris diários, têm mantido um fluxo constante de petróleo através de transferências entre navios em águas próximas à Malásia, disfarçando a origem do crude. No entanto, a entrada directa num porto gerido pelo Shandong Port Group representa uma escalada significativa — e potencialmente arriscada — desta relação.
O petróleo descarregado está avaliado em mais de 120 milhões de dólares. A embarcação foi anteriormente sancionada pelo Departamento do Tesouro dos EUA sob o nome MS Angia e agora navega sob a bandeira de San Marino. A carga foi transferida no mar a partir de um navio pertencente à National Iranian Oil Company, numa operação comumente usada para ocultar a origem do petróleo.
A Bloomberg alerta que a repetição da operação — uma semelhante terá ocorrido em março — pode sinalizar uma “normalização” da entrada de navios sancionados nos portos estatais chineses, o que pode levar os EUA a considerar sanções secundárias contra entidades envolvidas, como aconteceu em março com outro terminal chinês.