NATO encontra lacunas nas defesas da Europa face à ameaça russa: há cinco áreas críticas
A guerra na Ucrânia e a iminente eleição presidencial dos Estados Unidos dominaram a recente cimeira da NATO em Washington, mas, longe do palco público, os analistas militares da aliança atlântica têm-se concentrado em avaliar o enorme custo de consertar a frágil situação de defesa da Europa.
Recorde-se que os líderes da NATO chegaram a acordo em 2023 para a maior revisão em três décadas das suas capacidades de defesa, devido aos receios crescentes de uma agressão russa. Nos bastidores, as autoridades militares têm analisado os requisitos mínimos de defesa para concretizar esses planos, que foram enviados aos Governos nacionais nas últimas semanas, refere a agência ‘Reuters’, citando um analista militar que falou na condição de anonimato.
Os requisitos mínimos detalham as deficiências dos exércitos da NATO em áreas-chave, fornecendo uma indicação aproximada de quantos milhares de milhões de euros poderiam custar para corrigir essas deficiências – a NATO pretende converter estes requisitos em metas vinculativas para os Governos, a fim de garantir a defesa da Europa até ao outono de 2025, altura em que realiza uma reunião regular de ministros da Defesa.
De acordo com a agência noticiosa, há seis áreas que a NATO identificou como as mais urgentes de abordar: estas incluem escassez de defesas aéreas e mísseis de longo alcance, número de tropas, munições, dores de cabeça logísticas e falta de comunicações digitais seguras no campo de batalha.
A NATO não divulgou publicamente uma estimativa dos custos globais, embora as conclusões apontem que há um trabalho árduo para atingir os seu objetivos, numa altura em que a sua unidade pode ser testada por restrições orçamentais entre os principais membros europeus e por diferenças sobre o quão agressiva deve ser a sua posição em relação à Rússia.
Crucialmente, as eleições presidenciais dos EUA deste ano levantaram o espectro de que o poder proeminente da NATO pode ser liderado por um homem crítico da aliança – o antigo presidente Donald Trump – que acusou os parceiros europeus de se aproveitarem do apoio militar dos EUA. No entanto, independentemente de quem ganhe as eleições de novembro, a Europa terá de aumentar as suas despesas militares. “Precisamos de reconhecer que para os EUA, seja qual for o resultado das eleições presidenciais, a prioridade irá cada vez mais mudar para o Indo-Pacífico, de modo que as nações europeias na NATO devem fazer mais trabalho pesado”, reconheceu o secretário da Defesa britânico, John. Healey, à margem da cimeira.
“Independentemente do resultado das eleições nos EUA, os aliados europeus precisarão de continuar a aumentar as suas capacidades de defesa, a prontidão das forças e os stocks de munições”, sustentou um responsável da NATO.
Porém, embora a economia russa já esteja em pé de guerra, os Governos europeus poderão enfrentar resistência se exigirem mais dinheiro para gastos com Defesa dos contribuintes que sofrem com a redução do custo de vida para se prepararem para uma guerra que parece uma perspetiva distante para muitos, reforçam os analistas. “Podemos esperar que se materialize uma reação política, especialmente se os políticos tentarem explicar os cortes noutros lugares com o aumento dos orçamentos de Defesa”, notou o ‘Eurointelligence’, serviço de notícias e análise centrado na União Europeia.
Logística é um ‘pesadelo’
Os analistas logísticos estão a ir direto ao assunto, a descobrir como transportar alimentos, combustível e água para as tropas ao longo de uma linha de abastecimento, salientou um alto funcionário da NATO, com um segundo funcionário a reforçar que precisa de ser organizado um fluxo inverso de soldados feridos e prisioneiros de guerra. “Estão a desenvolver-se os mapas com detalhes granulares com os aliados”, indica um oficial, para se certificar, por exemplo, de que as pontes eram robustas os suficientes para suportar pesadas cargas militares.
Enquanto dezenas de milhares de tropas da NATO e da União Soviética se enfrentaram diretamente ao longo da fronteira interna da Alemanha durante a Guerra Fria, o envio de tropas agora demorará mais tempo, uma vez que a linha da frente de qualquer conflito provavelmente será mais a leste – mais 60 dias, incluindo o tempo para obter uma decisão política. “A Europa precisaria de estar preparada para ‘mostrar os dentes’ e deslocar tropas prontas para o combate até à potencial linha da frente em resposta aos movimentos militares russos, se necessário, como medida de dissuasão, mas também para retomar a luta instantaneamente caso as tensões se transformassem numa guerra”, conclui um analista da NATO.