“Não temos dúvidas de que já foi tomada a decisão”: Moscovo acusa Ocidente dar ‘luz verde’ à Ucrânia para usar armas fornecidas pelos aliados em territórios russo

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, acusou hoje os países ocidentais de terem dado luz verde à Ucrânia para utilizar mísseis de longo alcance em ataques contra o território russo. Lavrov, uma das principais figuras da diplomacia russa, afirmou que já foi tomada a decisão para levantar as restrições sobre o uso deste tipo de armamento, aumentando ainda mais a tensão entre Moscovo e as potências ocidentais.

Durante uma reunião com chefes de missões diplomáticas estrangeiras, Lavrov foi categórico ao afirmar que “não temos dúvidas de que já foi tomada a decisão sobre o levantamento das restrições para o emprego de armamento de longo alcance para atacar território russo”, numa clara referência ao envolvimento ocidental no apoio militar à Ucrânia. As suas palavras foram reportadas pela agência RIA Nóvosti, uma das principais fontes de notícias estatais da Rússia.

Lavrov referiu-se ainda à recente visita de altos responsáveis ocidentais a Kiev, incluindo o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken e o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico David Lammy. Segundo o ministro russo, ambos os diplomatas discutiram com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a possibilidade de o Ocidente fornecer à Ucrânia mísseis de longo alcance, embora essa informação não tenha sido confirmada por fontes ocidentais. Lavrov descreveu a visita como uma “encenação”, insinuando que o Ocidente estaria a tentar suavizar a apresentação pública dessas negociações.

Lavrov foi além, acusando a NATO de desempenhar um papel direto na guerra ao fornecer à Ucrânia “dados de satélites de inteligência”, que, segundo ele, são usados para direcionar ataques dentro do território russo. Estes ataques, afirma Lavrov, têm como alvo “infraestruturas energéticas e industriais”, mas também “habitações, escolas e hospitais”. O chefe da diplomacia russa afirmou que os “especialistas militares ocidentais coordenam literalmente de maneira manual os ataques com armas de alta precisão contra alvos civis”.

Estas alegações são uma extensão das acusações que Moscovo tem feito ao longo do conflito, denunciando repetidamente o apoio militar e logístico que o Ocidente tem dado a Kiev desde o início da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022. A Rússia argumenta que este apoio não só prolonga o conflito, mas também intensifica o risco de uma escalada militar direta entre a Rússia e os países da OTAN.

As declarações de Lavrov ocorrem num contexto em que, segundo o Kremlin, tem havido um aumento significativo nos ataques ucranianos contra alvos civis dentro do território russo. O ministro sublinhou que, à medida que o Ocidente reforça o seu apoio militar à Ucrânia, a frequência e intensidade desses ataques têm “aumentado de maneira drástica”.

Nos últimos meses, a Ucrânia tem conduzido operações de maior alcance contra infraestruturas estratégicas russas, utilizando tecnologia militar fornecida pelos seus aliados ocidentais, incluindo drones e sistemas de mísseis avançados. Embora a Ucrânia tenha afirmado que os seus ataques visam exclusivamente alvos militares e estratégicos, Moscovo insiste que muitos desses ataques têm como alvo a população civil.

Até ao momento, os líderes ocidentais, incluindo Blinken e Lammy, não confirmaram publicamente qualquer decisão sobre a entrega de mísseis de longo alcance à Ucrânia. No entanto, Blinken anunciou, durante a sua visita a Kiev, um novo pacote de ajuda militar ao governo ucraniano, sublinhando o compromisso contínuo dos Estados Unidos em apoiar a resistência ucraniana.

Desde o início da guerra, o Ocidente tem adotado uma estratégia de aumento gradual da ajuda militar à Ucrânia, à medida que o conflito se intensifica. Inicialmente focada em armamento defensivo, esta assistência passou a incluir sistemas de mísseis, artilharia pesada e agora, possivelmente, mísseis de longo alcance, numa tentativa de dar a Kiev as ferramentas necessárias para repelir as forças russas.

Com o aumento das tensões e a possibilidade de ataques ucranianos a alvos no interior da Rússia, o conflito poderá entrar numa fase ainda mais perigosa. O uso de mísseis de longo alcance, se confirmado, representaria uma escalada significativa, aumentando o risco de retaliações mais agressivas por parte de Moscovo.

Lavrov deixou claro que a Rússia não ficará de braços cruzados perante esta ameaça, avisando que o país “está preparado para defender o seu território e a sua população”. Enquanto as acusações e contra-acusações se acumulam, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia parece estar longe de uma resolução pacífica, com ambos os lados a reforçar as suas capacidades militares para um confronto que não mostra sinais de abrandar.

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